Considerado um dos vinis mais valiosos da música brasileira, o álbum “O Homem, O Poeta”, de Arnoldo Medeiros, foi disponibilizado na sexta-feira, 7, pela primeira vez nas plataformas digitais. Lançado em 1975, o trabalho foi resgatado em um projeto da Sony Music em parceria com Charles Gavin para o relançamento de álbuns clássicos em vinil, que chegaram às lojas no ano passado. Entre nomes como Alaíde Costa e Cartola, Arnoldo Medeiros foi selecionado pelo crítico e colecionador por ter feito parte de uma tendência dos anos 60 que se tornou referência, ligada a compassos mais lentos no samba e suas vertentes.
“O Homem, O Poeta” já está disponível para download e streaming, além de lojas físicas no formato vinil.
Sobre “O Homem, O Poeta”, por Charles Gavin:
“O Homem, o poeta” de Arnoldo Medeiros é provavelmente o long play mais valioso desta coleção, com seus poucos exemplares originais que ainda restam, circulando pelos sebos e sites mundo afora, disputados a peso de ouro. A razão para isso é uma velha conhecida daqueles que transitam no excêntrico e enigmático universo dos discos raros: “O Homem, o poeta” é um trabalho conectado a uma tendência bastante peculiar da música brasileira, que teve seu ponta pé inicial dado no final dos anos 60, reverberando até hoje. Naquela época o samba e suas vertentes (sambalanço, bossa nova, partido alto etc), o baião e outros gêneros passaram por mais um estágio de experimentação – começaram a ser tocados em andamentos mais lentos, para trás, com uma certa “malandragem” e temperados com doses de eletricidade, protagonizadas pelo piano elétrico Fender Rhodes e o órgão Hammond B3. Essa sonoridade passou a ser referência, diretriz para muitos artistas e produtores – foi sendo refinada por alguns craques da música brasileira, que investiam na mestiçagem de nossos ritmos com o soul, o rhythm & blues e o jazz funk. Nesse segmento do suingue, do groove, podemos citar os extraordinários Marcos Valle, João Donato, Antonio Adolfo e A Brasuza, Cesar Camargo Mariano e seu O Som Três, José Roberto Bertrami com o Azymuth, Dom Salvador E A Abolição, Ed Lincoln e por aí vamos.
Para muito colecionadores, incluindo este que vos fala, “O Homem, O Poeta”, primeiro álbum do compositor, letrista e advogado carioca Arnoldo Medeiros, é um trabalho que dialoga com essa estética – daí seu encanto junto aos pesquisadores e aficionados do suingue brasileiro.
Arnoldo Medeiros, que não era cantor, mas entendia da matéria, recrutou ninguém menos do que o Tamba Trio para trabalhar na produção de seu álbum de estreia: o magnífico Luiz Eça se encarregou dos arranjos e teclados, Bebeto Castilho tocou baixo e Hélcio Milito, que produzia para a CBS, se encarregou da coordenação artística e da direção de estúdio. Na gravação de seus doze temas (um deles em parceria do supracitado Marcos Valle), Arnoldo contou também com a preciosa colaboração do guitarrista Hélio Delmiro (que era da banda de Elis Regina), do percussionista Chico Batera (que com Sérgio Mendes), do Trio Ternura e dos Golden Boys, que trouxeram apoio e solidez aos vocais.
Locomovendo-se pelas tênues fronteiras que existem entre a MPB, o samba, o sambalanço e o samba rock, “O Homem, o poeta” é um daqueles discos raros que quanto mais o tempo passa, mais moderno ele torna. É como costumamos dizer em nosso meio: esse disco “groova” ou seja, ele é bom para dançar, funciona na pista e é um tesouro para os DJs.