Gui Hargreaves acaba de lançar o segundo disco da carreira, “Volta”

A história de “Volta”, segundo trabalho de Gui Hargreaves, mostra todas as voltas que o mundo dá para que o que é verdadeiro se realize, para que haja o encontro de pessoas afins, para que a arte se materialize. E o som do trabalho traduz isso em todas as cores sonoras que compõem o arco-íris de uma música que une artistas e influências dos mais diversos possíveis. O resultado são seis composições palatáveis como água fresca no calor.

Em 2017, o mineiro Gui Hargreaves realizava temporada de shows na Itália, por influência de sua mentora vocal, a italiana Francesca Della Monica, quando ao final de uma apresentação um inglês de nome Howard Turner foi falar com ele, dizer que tinha gostado muito, tanto que comprou 10 CDs para levar para amigos e deu um cartão para que o procurasse caso estendesse a turnê para a Inglaterra. Guarde o nome. Gui pegou o cartão e viu que ele era jardineiro.

A temporada européia o levou justamente à Inglaterra e ele ligou para Howard. Este estava indo viajar e passou contato de seu auxiliar, “que também é músico como nós”. Howard se aposentara como saxofonista havia 10 anos, após desilusão amorosa. Gui se encontrou com o auxiliar, que o encaminhou a outro amigo, Ed Scull, que tinha recém aberto estúdio.

Foram até lá, e Scull sugeriu após ouvir a música do brasileiro: “Vamos gravar?’.

Os colegas músicos da região se mobilizaram voluntariamente para participar dessa imensa jam internacional e completar a instrumentação, e o estúdio virou a Babel que se traduz em “Volta”.

Num dos intervalos, Gui saiu para arejar e um dos assistentes do estúdio comentou com ele: ‘Você sabe quem são esses caras que estão gravando e dando ideias?”. Ele respondeu que não, ao que o amigo falou: “O Howard (Turner) tocou simplesmente com uns caras como Chick Corea, McCoy Tyner,Fela Kuti…O Ed (Scull) tocou em regravações sinfônicas do Pink Floyd, participações com Rick Wakeman, direto em Abbey Road, e por aí vai”.

Fora o baixista Guy Hassel, formado na Brighton Institute of Music e com excursões com dezenas de artistas de calibre, o percussionista Tim Maryon, com extensa carreira na TV e cinema. Mas tem mais: além do estúdio, Ed mantem um galpão de aluguel de instrumentos para orquestras e gravações – então eles iam lá e escolhiam os instrumentos que quisessem, do mundo todo, para traduzir a música da melhor forma possível.

Tudo isso se reflete no que foi dito de todos os tons do arco-íris na música que se escuta em ‘Volta”.

“Alone With You’, que abre, é tanto bossa nova quanto MPB quanto new folk quanto world music em sua suavidade em camadas sonoras e texto em português e inglês. Mesma toada vai “I Can Forgive”.

“Colagem” tem pegada MPB mais robusta, arranjos vocais que remetem aos artistas desse novo folk, instrumentação mais para world music e o saxofone de Howard, que já teve a apresentação acima.

“Fim do Sem Fim” é conduzida pelo vocal de Gui Hargreaves e ganha mais cores ainda no sax de Howard Turner, enquanto “Jamais Oublier Você” segue a mesma condução vocal, mas com violão percussivo brasileiro e os elementos de arranjos new folk.

“Saudade”, palavra que só existe em português, arremata com voz mesclada ao sax, violão na bossa nova e os mesmos arranjos de gosto extremo do time escalado acima.

Até a capa traz um laço à altura para o presente. Logo ao chegar em Londres, Gui recebeu ligação de amigo egípcio, com quem tinha convivido quando morou na Inglaterra, que lhe contou que após estudar, se especializar, resolvera virar fotógrafo de música, sua paixão. O clique que fez de Gui no primeiro dia londrino é a capa do CD.

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