Cineasta Glauber Rocha ganha retrospectiva na Cinemateca Brasileira

No próximo dia 22 de agosto completam-se 35 anos da morte de Glauber Rocha, cineasta de importância mundial e figura fundamental da nossa cinematografia e para lembrar a data, a Cinemateca Brasileira organiza a Retrospectiva Glauber Rocha.

A mostra abre o semestre de comemorações de 70 anos de fundação da Cinemateca Brasileira.

Cinemateca Brasileira-Retrospectiva Glauber Rocha

Serão exibidos grandes clássicos do cineasta, como Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em transe, O dragão da maldade contra o santo guerreiro, A idade da Terra; raridades como Câncer e História do Brasil; as pouco vistas coproduções filmadas no seu exílio como Cabeças cortadas, O leão de sete cabeças, Claro; seus curtas metragens como Jorjamado no cinema, Maranhão 66; episódios e trechos da radical experiência televisiva no Programa Abertura, além dos primeiros filmes, Pátio e Barravento. Todos os filmes serão exibidos em cópias do acervo da Cinemateca Brasileira, algumas delas em novos materiais nunca exibidos no Brasil.

Nascido em Vitória da Conquista – Bahia, em 14 de março de 1939, realiza aos vinte anos seu primeiro curta-metragem, Pátio, com Helena Ignez, com quem se casaria e teria a filha Paloma. Estreia em longas-metragens com Barravento, cujas filmagens conturbadas foram iniciadas por Luiz Paulino dos Santos e Glauber na produção executiva – diante destes problemas, Glauber conclui as filmagens e reaproveita partes do material, em sua primeira parceria com Antonio Pitanga, um dos atores constantes em sua obra. O filme recebe o Prêmio Opera Prima no Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary, na Tchecoslováquia.

A consagração vem em seguida, com a repercussão do Cinema Novo e a estreia de Deus e o Diabo na Terra do Sol, um clássico imediato exibido no Festival de Cannes. Voltaria dois anos depois, com Terra em transe, recebendo o Prêmio FIPRESCI no Festival de Cannes. Retoma o personagem de Deus e o Diabo..., Antonio das Mortes, em O dragão da maldade contra o santo guerreiro, com fotografia de cores sólidas e saturadas de Affonso Beato, pelo qual recebeu o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes em 1969.

Radicaliza as experiências com o tempo cinematográfico e o improviso em Câncer, filmado em 16mm e só concluído alguns anos depois. Diante da incessante censura imposta pelo golpe militar e a possibilidade de filmar pelo mundo, Glauber inicia uma série de filmes coproduzidos pela Itália, França e Espanha durante a década de 1970 – como O leão de sete cabeças, filmado no Congo e com os atores Rada Rassimov, o parceiro de Godard e Truffaut, Jean-Pierre Léaud e Hugo Carvana, Cabeças cortadas, filmado na Espanha com o ator de Buñuel, Francisco Rabal, e Claro, com a godardiana Juliet Berto e ele próprio no elenco.

Paralelamente faz um documentário de montagem, História do Brasil, numa reinterpretação pessoal do país de 1500 aos anos 1970. De volta, filma o velório do pintor Emiliano Di Cavalcanti em Di Cavalcanti Di Glauber, vencedor do Prêmio do Júri em Cannes e, para a televisão, Jorjamado no cinema, livre perfil do escritor Jorge Amado. Atende o convite de Fernando Barbosa Lima para participar do programa Abertura, na TV Tupi, em que entrevista intelectuais, políticos e artistas, com grande repercussão.

Realiza seu último longa-metragem, A idade da Terra, um grandioso épico partindo da ideia da vida de Cristo no Terceiro Mundo. No elenco estão diversos amigos e parceiros de Glauber, como Maurício do Valle, Jece Valadão, Antonio Pitanga, Geraldo D’EI Rey, Ana Maria Magalhães, Norma Bengel, Danuza Leão, a filha Paloma Rocha e Paula Gaitán, sua última companheira e com quem teve dois filhos. O filme é exibido no Festival de Veneza e causa grande polêmica, além de render a Norma Bengell o prêmio de melhor atriz.

Menos de um ano depois, em 22 de agosto de 1981, Glauber falece no Rio de Janeiro, deixando muitos projetos não filmados, esboços, textos e uma brilhante filmografia.

No ano em que a Cinemateca Brasileira comemora seus 70 anos, convidamos a todos a celebrar a obra deste cineasta genial.

Veja a programação do evento (clique aqui!)

QUINTA 28/07
SALA BNDES
19h00 PÁTIO | BARRAVENTO
21h00 DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL

SEXTA 29/07
SALA BNDES
19h00 CABEÇAS CORTADAS
21h00 AMAZONAS, AMAZONAS | O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO

SÁBADO 30/07
SALA BNDES
16h00 O LEÃO DE SETE CABEÇAS
SALA PETROBRAS
17h30 CÂNCER
ÁREA EXTERNA
20h30 MARANHÃO 66 | TERRA EM TRANSE

DOMINGO 31/07
SALA BNDES
17h00 HISTÓRIA DO BRASIL
20h00 CLARO

QUINTA 04/08
SALA BNDES
19h00 PROGRAMA ABERTURA I
21h00 PROGRAMA ABERTURA II

SEXTA 05/08
SALA BNDES
19h00 JORJAMADO NO CINEMA
20h30 PROGRAMA ABERTURA – FRAGMENTOS

SÁBADO 06/08
SALA BNDES
18h00 A IDADE DA TERRA
ÁREA EXTERNA
20h30 AMAZONAS, AMAZONAS | O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO

DOMINGO 07/08
SALA BNDES
17h00 PÁTIO | BARRAVENTO
19h00 CABEÇAS CORTADAS
21h00 MARANHÃO 66 | TERRA EM TRANSE

QUINTA 11/08
SALA BNDES
19h00 O LEÃO DE SETE CABEÇAS
21h00 CLARO

SEXTA 12/08
SALA BNDES
19h00 HISTÓRIA DO BRASIL

SÁBADO 13/08
SALA BNDES
16h00 DI CAVALCANTI | JORJAMADO
17h30 CABEÇAS CORTADAS
20h30 DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL

DOMINGO 14/08
SALA BNDES
18h00 PÁTIO | AMAZONAS, AMAZONAS | MARANHÂO 66 | JORJAMADO NO CINEMA
20h00 A IDADE DA TERRA

QUINTA 18/08
SALA BNDES
19h00 DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL
21h00 TERRA EM TRANSE

SEXTA 19/08
SALA BNDES
19h00 O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO
21h30 CABEÇAS CORTADAS

SÁBADO 20/08
SALA BNDES
16h00 A IDADE DA TERRA
18h30 BARRAVENTO
SALA PETROBRAS
20h30 CÂNCER

DOMINGO 21/08
SALA BNDES
16h00 O LEÃO DE SETE CABEÇAS
18h30 HISTÓRIA DO BRASIL
21h00 CLARO 

SINOPSES E FICHAS TÉCNICAS GLAUBER

Pátio

Salvador,1959,16mm, pb,11´ | Exibição em HDCam

com Helena Ignez e Solon Barreto

Num terraço de azulejos em forma de xadrez, um rapaz e uma moça. Esses dois personagens evoluem lentamente: se tocam, rolam no chão, se distanciam, se olham. Belo curta-metragem de estreia de Glauber Rocha e Helena Ignez.

Não recomendado para menores de 12 anos

Barravento

Salvador, 1961, 35mm, pb, 80´

com Antonio Pitanga, Luiza Maranhão, Lucy de Carvalho, Aldo Teixeira e Lídio Silva

Um homem que volta à aldeiazinha de pescadores em que foi criado para tentar livrar o povo do domínio da religião. O termo “Barravento”, conforme explicado no início do filme, “é o momento de violência, quando as coisas de terra e mar se transformam, quando no amor, na vida e no meio social ocorrem súbitas mudanças”. Primeiro longa-metragem de Glauber Rocha.

Não recomendado para menores de 14 anos

Deus e o Diabo na Terra do Sol

Rio de Janeiro, 1964, 35mm, pb, 110’

Com Geraldo Del Rey, Yoná Magalhães, Othon Bastos, Maurício do Valle

Castigado pela seca e pela exploração, camponês sangra o latifundiário que o oprime. Ao lado da mulher, foge pelo sertão até encontrar um líder messiânico. O casal se torna seu discípulo, porém, tempos depois, a mulher se revolta e mata o religioso. Novamente à deriva, eles rumam pelo sertão e encontram, finalmente, um terrível cangaceiro, que está sendo perseguido por um matador de aluguel. Uma obra-prima do cinema brasileiro. Destaque para a música de Sérgio Ricardo, feita a partir do trovadorismo sertanejo e da poesia popular. Letreiros da artista plástica Lygia Pape.

Não recomendado para menores de 14 anos

Amazonas, Amazonas

Manaus, 1966, 35mm, cor, 15’ | Exibição em Beta Digital

Filme sobre as belezas e riquezas naturais da região Amazônica. Primeiro filme colorido de Glauber Rocha.

Não recomendado para menores de 12 anos

Maranhão 66

Rio de Janeiro, 1966, 35mm, BP,11´

Realizado em 1966, por ocasião da posse de José Sarney no Governo do Estado.. Isso se dá dois anos depois da tomada de poder dos militares. O filme anuncia o tom de Terra em transe.

Não recomendado para menores de 14 anos

Terra em transe
Rio de Janeiro, 1967, 35mm, pb, 105

Com Jardel Filho, Glauce Rocha, Paulo Autran, José Lewgoy

Em Eldorado, o poeta e jornalista Paulo Martins, beira da morte, rememora sua participação em lutas políticas. Dividido entre dois aspirantes ao poder e manipulado pela multinacional Explint, ele agoniza, sem conseguir solucionar as contradições de Eldorado e as suas, ao tentar equacionar de forma conseqüente poesia e política. Prêmio FIPRESCI no Festival de Cannes.

Não recomendado para menores de 14 anos

O dragão da maldade contra o santo guerreiro
Rio de Janeiro, 1969, 35mm, cor, 95’

Com Othon Bastos, Mauricio do Valle, Odete Lara, Jofre Soares

Antônio das Mortes é contratado por um coronel para exterminar um bando de cangaceiros. No caminho, cruza com desmandos de jagunços e coronéis. Melhor diretor no Festival de Cannes. Bela fotografia a cores de Affonso Beato, num dos mais populares filmes de Glauber.

Não recomendado para menores de 14 anos

O leão de sete cabeças (Der leone have sept cabeças)

Itália/França, 1970, 35mm, cor, 95’

com Rada Rassimov, Jean-Pierre Léaud, Giulio Brogi, Hugo Carvana, Gabriele Tinti, René Koldhoffer, Bayack, Miguel Samba

O guerrilheiro latino-americano Pablo e o líder negro Zumbi unem-se para libertar o continente africano do jugo dos colonizadores. Durante sua luta, enfrentam um mercenário alemão que, auxiliado por um agente norte-americano e seu assessor português, governa em nome de uma misteriosa mulher chamada Marlene. Enquanto isso, a epopeia dos dois heróis é observada por um onipresente pregador messiânico que anuncia a chegada da besta capaz de derrotar os santos e a vinda dos insurgentes como emissários da justiça divina. Coprodução ítalo-francesa, filmada na África.

Não recomendado para menores de 14 anos

Cabeças cortadas (Cabezas cortadas)

Brasil/Espanha, 1970, 35mm, cor, 90’

com Francisco Rabal, Marta May, Rosa Maria Penna, Emma Cohen, Luis Giges, Telesforo Sanches

Dentro de um castelo, em alguma parte do Terceiro Mundo, Diaz, uma espécie de rei sem coroa, tem lembranças delirantes. Em sonho, Diaz realiza uma viagem, escraviza índios, trabalhadores e camponeses. Nesta viagem, ele descobre suas origens. Estão em Eldorado, onde ele tem grande poder político. Diaz tem novas visões: suas vítimas ameaçam destruí-lo. Nas palavras de Glauber, o filme “desmonta todos os esquemas dramáticos do teatro e do cinema. O cinema do futuro será som, luz, delírio, aquela linha interrompida desde L’Age d’Or.”

Não recomendado para menores de 14 anos

Câncer
Rio de Janeiro, 1972,16mm, pb, 86’

com Odete Lara, Hugo Carvana, Antonio Pitanga, Rogério Duarte e Eduardo Coutinho

No Rio de Janeiro, em 1968, em meio à turbulência política da época, um negro carioca, malandro típico, encontra-se com o receptador de seus pequenos golpes. Entre eles, move-se de modo escorregadio uma loura sensual, que contempla alternadamente com seus carinhos um e outro. Sob esta estrutura, Câncer traça um painel daquele momento brasileiro, flagrando com câmera nervosa detalhes de um Rio que não existe mais e onde aparece, quase como um personagem do filme, a antiga Cinelândia.

Não recomendado para menores de 16 anos

História do Brasil

Brasil/Itália, 1974, 35mm, pb, 166’

Filme de montagem realizado no exílio de 1971 a 1973 entre Cuba e Roma, e finalizado em Paris em 1974. Pode ser definido como um Cinejornal Histórico do Brasil… Um afresco de mais de quatrocentos anos de história, utilizando filmes nacionais de ficção e documentários, fotos e trechos de filmes de Glauber Rocha, numa interpretação dialética e original da vida brasileira, de 1500 até os anos 1970.

Não recomendado para menores de 14 anos

Claro

Brasil/Itália, 1975, 35mm, cor, 106’

com Juliet Berto, Camelo Bene, Mackay, Glauber Rocha, Luis Waldon, Betina Best

Inteiramente rodado em Roma, sem uma narrativa convencional, Claro mistura documentário, ensaio, performance. Entre os personagens: o Papa, dois irmãos gêmeos, um soldado americano vindo do Vietnã, um travesti. Foi o último filme realizado por Glauber Rocha antes do seu regresso ao Brasil.

Não recomendado para menores de 16 anos

Jorjamado no cinema

Rio de Janeiro, 1977, 16mm, cor, 36’ I Exibição em Beta

Documentário feito para um programa de televisão consagrado ao escritor Jorge Amado. O escritor é filmado com sua família em casa, numa livraria durante uma sessão de autógrafos, no lançamento do filme Tenda dos milagres, de Nelson Pereira dos Santos.

Livre

A idade da Terra
Rio de Janeiro, 1978-1980, 35mm, cor, 134’ I Exibição em HD Cam

com Maurício do Valle, Norma Bengell, Ana Maria Magalhães, Jece Valadão, Tarcísio Meira, Antonio Pitanga

Último filme de Glauber Rocha, que o definiu: “O filme mostra um Cristo-pescador, interpretado pelo Jece Valadão, um Cristo-negro interpretado por Antonio Pitanga; mostra o Cristo que um conquistador português Dom Sebastião interpretado por Tarcísio Meira e mostra o Cristo Guerreiro-Ogum de Lampião, interpretado por Geraldo Del Rey. Quer dizer os quatro Cavaleiros do apocalipse que ressuscitam o Cristo do terceiro mundo, recontando o mito através de dos quatro evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas e João, cuja identidade e revelada no filme quase como se fosse um terceiro testamento. E o filme assume um tom profético, realmente bíblico e religioso. ” Um filme fundamental em nossa cinematografia.

Não recomendado para menores de 14 anos

Programa Abertura

Rio de Janeiro, 1979, cor e pb I Exibição em HD Cam

Com Glauber Rocha, Normal Bengel, Ziraldo

Coletânea de episódios e trechos do Programa Abertura da extinta TV Tupi. Em prol de um jornalismo verdadeiro e democrático, grandes nomes do jornalismo e da cultura realizam entrevistas, tecem críticas, expõe pensamentos em meio e a respeito da abertura política da ditadura militar (1964-1985). São entrevistados cidadão comuns, personalidades da política, intelectuais e artistas – como Caetano Veloso, Mário Carneiro, Paula Gaitán, Nelson Mota, Antônio Carlos Magalhães, Milton Reis, Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, entre outros.
Não recomendado para menores de 12 anos

SERVIÇO

Retrospectiva Glauber Rocha
28 de julho a 21 de agosto
Entrada franca

CINEMATECA BRASILEIRA
Largo Senador Raul Cardoso, 207
Próximo ao Metrô Vila Mariana
Outras informações: (11) 3512-6111 (ramal 215)
www.cinemateca.gov.br

*As informações são de responsabilidade de seus organizadores e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio.

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