Com um primeiro fim de semana ocupando todos os espaços da Cidade das Artes, uma exposição performática de oito horas por dia no Museu de Arte do Rio (MAR) e mais de 23 artistas internacionais em teatros e centros culturais cariocas, o Festival Panorama, maior evento de dança e artes do corpo do Brasil e um dos mais importantes da América Latina, será realizado de 25 de outubro a 10 de novembro. Em sua 22ª edição, o festival traz nomes consagrados, como o grupo belga Rosas, o francês Xavier Le Roy e o espanhol Roger Bernat.
O Panorama terá atrações a preços populares e por toda a cidade. Dança, performance, música, artes visuais e cinema estão na programação, tendo como foco o corpo como centro da arte. Na ocupação da Cidade das Artes, no primeiro fim de semana, a programação terá seis espetáculos e performances por dia ocupando os teatros, as áreas externas e os jardins, com atividades que incluem piqueniques, workshops, leituras e outras atividades de manhã à noite.
Uma grande festa no sábado vai marcar a abertura da maratona que até o dia 10 vai passar ainda pelo novo MAR, a Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, o Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), a Casa França-Brasil e o Oi Futuro no Flamengo, além dos teatros João Caetano, Carlos Gomes, Caixa Cultural e Sérgio Porto.
O grupo Rosas, da Bélgica, é a principal atração da abertura, com “Cesena”, que reúne 19 bailarinos e cantores e chega agora ao Brasil. Fundada pela coreógrafa e bailarina Anne Teresa De Keersmaeker, a companhia belga é uma das mais prestigiadas no cenário internacional de dança. Apresentada pela primeira vez no Festival de Avignon, na França, “Cesena” é uma associação de Anne Teresa e do Rosas com o grupo vocal Graindelavoix, também belga, em que cantores e dançarinos expressam suas habilidades até o limite, interagindo com a Ars Subtilior, estilo musical vocal do século XIV que floresceu em Paris, no sul da França e em Avignon.
Marcando o centenário este ano do balé “A sagração da primavera”, do bailarino e coreógrafo Vaslav Nijinsky (1890-1950) e do compositor Igor Stravinsky (1892-1971), o Panorama traz uma programação especial de obras que se inspiraram neste ícone do século 20. Xavier Le Roy usa a música para uma nova coreografia e Roger Bernat recria a versão de Pina Bausch para a “Sagração”, tendo o público carioca como intérprete.
Ocupação do espaço urbano é uma das linhas da programação
Outra linha da programação é a relação do corpo e do cidadão com a cidade e a ocupação do espaço urbano. Segundo Nayse López, diretora geral do Festival, a ideia é propor performances em paisagens urbanas, e que refletem sobre a construção da memória. No fim de semana de abertura, em um novo projeto voltado para a criação carioca, o festival se associa à Cidade das Artes em três estreias feitas para os espaços do complexo artístico com este objetivo. As criações são de João Saldanha, Gustavo Ciríaco e Denise Stutz. Marcela Levi também faz um novo trabalho para o Panorama, e propõe uma caminhada poética no Centro do Rio, onde o tempo acelerado de hoje freia para revelar uma relação de outra velocidade com a cidade.
No Parque Lage, uma mostra de trabalhos de seis artistas iberoamericanos marca a volta do projeto coLABoratório e repete o enorme sucesso das Tardes no Parque, onde a dança a performance levam milhares de cariocas ao jardins e espaços da EAV durante o segundo fim de semana do festival.
O último fim de semana ocupa o eixo CCBB e Casa França-Brasil com performances, música e uma mostra de filmes. A programação na Casa França-Brasil é em parceria com o Happenings, evento de música e performances com curadoria de Batman Zavareze, que desde 2012 é um projeto associado ao Panorama.
Com atrações para todos os públicos, a programação traz mais uma vez o Panoraminha, com espetáculos idealizados especialmente para o público infantil.
Espaços de pensamento
Além dos espetáculos e outras atrações, o Panorama este ano dedica dois momentos ao pensamento em dança e arte contemporânea. Um encontro de três dias no Oi Futuro no Flamengo vai reunir dezenas de grupos de pesquisa em artes e revelar novas práticas e desafios da universidade hoje.
No MAR, um seminário reunirá vários temas da programação numa série de encontros sobre documentação histórica e dança, movimentos artísticos e movimentos sociais, com convidados nacionais e internacionais.
As companhias internacionais que estarão no Panorama também se apresentarão em outros estados. O Rosas leva “Cesena” para São Paulo, nos dias 23 e 24 de outubro, no SESC, assim como a francesa Olivia Grandville. A companhia portuguesa Real Pelágio, de Silvia Real vai, além de São Paulo, para Belo Horizonte e Fortaleza, e os artistas também portugueses Vítor Roriz e Sofia Dias passarão no Festival Contemporâneo de SP e na Bienal de Fortaleza.
Sobre o Festival Panorama
Criado pela coreógrafa Lia Rodrigues em 1992, o Festival Panorama nasceu do desejo de se construir um espaço para apresentação e discussão da dança contemporânea no Rio de Janeiro. Ao longo dos seus 21 anos de história, o evento já reuniu mais de 350 companhias nacionais e internacionais, ficando reconhecido como um dos festivais de artes do corpo mais importantes da América Latina.
Sem fins lucrativos, o Panorama se diferencia por possibilitar o acesso democrático ao universo da experimentação artística. Inicialmente centrado na dança, seguiu a própria tendência da dança contemporânea de mesclar linguagens e se tornou um evento multidisciplinar que contempla projetos em que a matéria-prima artística é o corpo e os resultados são surpreendentes. Seu principal objetivo é provar que excelência artística e ingresso popular é uma combinação não só possível, mas também a mais democrática.
Preocupado em expandir sua atuação também para a formação profissional e de público, o Festival constrói laços de parceria com universidades, escolas e organizações no intuito de promover o conhecimento artístico.
Oferecendo palestras e propondo discussões, o Panorama trabalha com a preparação de crianças e jovens para o contato com o conteúdo de experimentação artística. No ano passado, mais de dois mil ingressos distribuídos pelo festival possibilitaram que crianças, adolescentes e adultos – e seus professores – de diferentes contextos sociais tivessem o seu primeiro contato com espetáculos de artes cênicas.
O Festival Panorama tem como diretores Nayse López (diretora geral), Catarina Saraiva (diretora artística e de produção) e Renato Saraiva (diretor executivo), e é realizado pela Associação Cultural Panorama, dirigida por Eduardo Bonito e Nayse López.