Exposição Francisco Brennand no Sesc Interlagos

Marco cultural da paisagem do Recife, a obra escultórica do artista pernambucano Francisco Brennand, 85 anos, raras vezes é exibida fora de seu ateliê, localizado no bairro da Várzea do Recife. Transformando essa perspectiva, o Sesc São Paulo traz ao público mais de 60 obras do artista, com a curadoria de Emanoel Araujo, diretor do Museu Afro-Brasil. Uma oportunidade aos que querem conhecer, apreciar e se aproximar da arte deste escultor mundialmente conhecido.

Nascido em 11 de junho de 1927, no Engenho São João, no Recife, Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand é um dos mais importantes e premiados escultores do Brasil. Homem de múltiplos talentos, também é pintor, desenhista e ilustrador, participou de cursos com André Lhote e Fernand Léger em Paris, na década de 50. Autor de murais e painéis – dentre os quais o mais reconhecido “Batalha dos Guararapes”, no centro do Recife – Brennand já foi agraciado com o Prêmio Interamericano de Cultura Gabriela Mistral, da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Desde a década de 1970, quando restaurou a antiga olaria de seu pai, em um projeto de integração da arte à arquitetura, o trabalho de Brennand conquistou reconhecimento. Em Recife, no bairro da Várzea, seu ateliê ocupa os espaços da velha fábrica, nos quais é exposto um impressionante conjunto de esculturas e painéis.

Em 1971, iniciou as obras de restauro da Cerâmica São João da Várzea – fundada em 1917 – instalando, a partir de então, seu ateliê e um arrojado projeto de esculturas cerâmicas.

Em 1998, ganhou uma grande retrospectiva na Pinacoteca de São Paulo, a convite de Emanoel Araujo.

Na escolha do título da exposição que sai do Sesc Sorocaba e chega ao Sesc Interlagos, segundo o curador Emanoel Araujo, destaca-se a presença vibrante dos elementos da natureza, Fogo e Terra para o surgimento da obra de Brennand. Além de frutos, aves e peixes, “há também o fogo, que é como uma bigorna que alisa a massa crespa, deixando espaço para a crosta grossa e uniforme da tinta colorida, de ocres e ferrugens, de onde escapam os azuis e os verdes, ou meios tons leves, foscos e brilhantes. Da cor que se transforma ardida pelo calor do fogo”, descreve Araujo.

“Mostrar a escultura de Brennand em outro espaço que não seja o seu próprio, em Pernambuco, será sempre um desafio, diante do complexo diálogo criado por ele entre a escultura e o espaço em que ela se desenvolve, ora com a arquitetura, incluindo os antigos galpões da antiga fábrica de cerâmica, e ora se incorporando às ruínas deixadas pela ação dos anos e do passado da fábrica onde nasceu esse grande cenário”, avalia o curador.

O Artista recebeu uma dedicatória do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, o que demonstra a proporção do seu trabalho:

a Francisco Brennand
fechar na mão fechada o ovo
a chama em chamas desateada
em que ele fogo se desateia
e o ovo ou forno tem domadas

(João Cabral de Melo Neto)
(Ferraz, 1997, p.26).

O Sesc São Paulo homenageou o mítico e particular universo de Francisco Brennand na inauguração do Sesc Sorocaba, em setembro de 2012. Além disso, em outubro do mesmo ano, o documentário Francisco Brennand recebeu o prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) sobre a sua vida e obra concedida pela 36.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, dirigido por Mariana Brennand Fortes, sua sobrinha-neta.

No mês de fevereiro, chegam ao Sesc Interlagos mais de 60 obras do artista reforçando a sua importância nas artes visuais brasileiras.