“Se eu fosse Iracema” estreia no Sesc Tijuca

Uma carta escrita pelos índios guarani kaiwoá, em 2012, despertou o interesse do ator e diretor Fernando Nicolau para a condição indígena no país. No texto, pediam que sua morte fosse decretada, em vez de tirarem sua terra. Sensibilizado, convidou o dramaturgo Fernando Marques para mergulhar numa profunda pesquisa. Juntos, iniciaram o processo de criação do monólogo Se eu fosse Iracema. Estrelada por Adassa Martins, a peça estreia no dia 9 de abril, no Sesc Tijuca. A temporada será de sexta a domingo, às 19h, até 1º de maio.

A peça não tem a intenção de levantar uma bandeira e, sim, uma reflexão. Branco, mestiço, índio, ocidental. É possível coexistir? Abordando a questão indígena no Brasil, a montagem pretende examinar a questão da possibilidade de convivência das diferenças. “As contradições estão presentes em diversos relatos e textos documentais que usamos na concepção”, explica o diretor. “O Fernando apresenta o projeto de forma tão apaixonada que me senti honrada pela possibilidade de falar sobre este assunto. Olhamos tão pouco para os índios, parece que ficaram em 1.500”, destaca Adassa.

Se eu fosse Iracema tem início com a figura do pajé – pessoa de extrema importância na tribo que representa a sabedoria – e que traz Adassa interpretando um texto em guarani inspirado no cacique Raoni, que participa do documentário Belo Monte, anúncio de uma guerra, de André D’Elia. Em seguida, a atriz vive uma mulher bêbada lendo os primeiros quatro artigos da Constituição de 1988.

Após o prólogo, a dramaturgia une mitos e ritos de passagem, não necessariamente de forma linear. “Escolhemos trabalhar o ciclo da vida: a origem do mundo, a infância, a adolescência, a fase adulta na figura da mulher e o ancião, na figura do pajé chegando ao fim do mundo”, explica o diretor. Alguns trechos foram traduzidos para o guarani pelo cineasta indígena Alberto Álvares. Para dar voz a alguns personagens, Adassa desenvolveu uma interlíngua: “ouvi os pajés e diversos índios falando em documentários e percebi os fonemas mais presentes. A ideia é criar uma fusão do português com uma língua indígena”, conclui a atriz.

Fernando Nicolau e Fernando Marques são capixabas e se conheceram em Vitória, no Espírito Santo, onde o diretor teve aula de teatro com o dramaturgo. Juntos, participaram de diversos processos de pesquisa e criação cênica, construindo uma trajetória comum. Se eu fosse Iracema teve como inspiração e referência filmes como Índio cidadão?, de Rodrigo Siqueira; Belo Monte, anúncio de uma guerra e  A lei da água, ambos de André D’Elia. Recém-lançado no Brasil, o livro francês A queda do céu – Palavras de um xamã yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert, também foi uma importante referência tanto para o autor quanto para o diretor. Obras de Darcy Ribeiro, Alberto Mussa, Betty Mindlin e Manuela Carneiro da Cunha também fizeram parte do processo, assim como encontros e entrevistas com estudiosos.

No cenário de Licurgo Caseira, apenas um tronco de árvore cortado por uma lâmina de vidro. O figurino de Luiza Fradin não faz um retrato carnavalesco da cultura indígena. Usando materiais como látex e borracha, o figurino revela a miscigenação do povo brasileiro. A trilha sonora original de João Schmid pontua diversos momentos do espetáculo.

SERVIÇO
Espetáculo: Se eu fosse Iracema
Temporada: De 9 de abril a 1º de maio de 2016
Datas: De sexta a domingo, às 19h
Local: Sesc Tijuca – Teatro II
Endereço: Rua Barão de Mesquita, 539 – Tijuca
Informações: (21) 3238-2139
Capacidade: 50 pessoas
Duração: 60 minutos
Classificação indicativa: 16 anos
Gênero: Drama
Ingressos: R$8 (inteira), R$4 (estudantes e idosos) e R$2 (comerciários)
Horários da bilheteria: Terça a sábado, de 7h às 20h. Domingo, 9h às 20h.

*As informações são de responsabilidade de seus organizadores e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio.

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