Mostra ao ar livre resgata história do Cordão da Bola Preta e do tríduo momesco carioca desde a década de 20

Um acervo gigantesco que narra a trajetória do Cordão da Bola Preta e do Carnaval carioca esteve guardado ao longo de anos, sem que o grande público tivesse acesso. Até agora. Para alegria dos foliões, depois de restaurado, esse valioso material é reunido na mostra ao ar livre Cordão da Bola Preta: nove décadas animando o Carnaval carioca, que faz um (extenso) recorte com fotos, pinturas e documentos do bloco, o mais tradicional do Rio de Janeiro. Em cartaz no Largo da Carioca, com entrada franca, a exposição oferece a oportunidade de viajar no tempo e pela cultura popular no século 20. O primeiro desfile do bloco em 2012 aconteceu nesta sexta-feira, 10/02, e o próximo está marcado para o sábado de carnaval, dia 18, saindo às 9h da Candelária, no Centro.

 

Em 1917, o grupo formado por Caveirinha, Chico Brício e amigos, já com planos de fundar um cordão que provisoriamente chamaram de “Só se bebe água”, reunia-se nos bares da antiga Galeria Cruzeiro, no prédio que abrigava o Hotel Avenida, no Centro. Pedro Ernesto, presidente da instituição e um dos responsáveis pela renovação do Bola nos últimos anos, conta que a ideia de batizar o grupo de “Cordão da Bola Preta” veio de uma conversa de bar. “Quando os 18 fundadores discutiam o nome do cordão, um deles avistou uma bela pierrete (como costumam chamar o feminino de pierrô) vestida de roupa branca e bolas pretas”. Daí, surgiria o nome do bloco que, em 2007, se tornou Patrimônio Cultural do Povo do Rio de Janeiro e, em 2011, reuniu nas ruas do Centro mais de 2 milhões de foliões.

 

“Em 1918, o grupo de foliões dissidentes do Clube dos Democráticos resolveu se unir, bem ali onde hoje é o edifício da Avenida Central, para brincar Carnaval. Entre os fundadores do Cordão da Bola Preta, a maioria é medalhista do Clube do Botafogo, por isso a semelhança da marca do bloco com o escudo do time”, explica Heloísa Alves, curadora da mostra e coordenadora do projeto de revitalização do acervo do bloco.

 

Materiais como estandartes, reportagens de jornais antigos e fotos da agremiação vão contar a trajetória dessa turma. Pedro Ernesto explica a importância do bloco para a cidade: “Quando surgiu, era mais um bloco entre os muitos que existiam, mas, com o tempo, se tornou a única referência da folia momesca naquele período por conta do difícil momento pelo qual passou o Carnaval de rua carioca na década de 90”Heloísa enfatiza que “mesmo quando a festa nas ruas perdia espaço para os grandes desfiles de escolas de samba, o bloco continuava a sair”. Por outro lado, enquanto os bailes sucumbiam, o Bola estava em pleno vapor.

 

A mostra é dividida em três partes: as origens do Carnaval, a linha do tempo da folia carioca e a história do Cordão da Bola Preta. “Com a linha do tempo pretendemos facilitar o entendimento do espectador e fazer perceber como os fatos acontecem simultaneamente”, explica Heloísa. “A história da agremiação acompanha importantes momentos do Brasil e da cultura do povo. Por exemplo, exibiremos materiais do bloco com carimbos da polícia da ditadura de Vargas. Como as marchinhas têm um caráter de crítica – da política, da sociedade e letras com duplo sentido – as canções e os estandartes eram obrigados a passar pelo crivo da censura”.

 

O projeto de resgate da memória do Cordão da Bola Preta ainda inclui mapa online que reconstitui todos os lugares alugados pela agremiação para realizar seus bailes antes de ter sede própria. O visitante do mapa confere lugares como a República, casa localizada na Glória famosa por ser frequentada por boêmios, como Donga, Ary Barroso e Pixinguinha, além de outros como o Club dos Plíticos, na Rua do Passeio, e o Palace Club.

 

Casos curiosos

 

O mais interessante são os casos curiosos expostos, que ilustram ainda mais o espírito divertido da festa. Um deles é o estatuto inicial do bloco: para ser membro da agremiação era necessário “Ser bom copo” (o candidato era avaliado numa chopada), “Ser alegre”, “Ser maior de 21 anos” e, por último, apresentar provas de que trabalhava – a vagabundagem era inadmissível no cordão.

 

“Há, ainda, casos engraçados pelos quais passaram os sócios. Muitos deles saíam para os bailes escondidos das famílias, por isso, todos eles recebiam um apelido, como ‘Potoca’, ‘Caveirinha’ e outros. Um deles, adiantava o relógio todo noite, mas chegou uma hora em que a esposa percebeu o quão pouco havia dormido e como o marido estava escapulindo cedo de casa. Esse foi o único dia em que este integrante do bloco não saiu para festejar com os amigos”, conta a coordenadora.

 

Potoca, por sua vez, é uma das incógnitas do Cordão da Bola Preta. Nome que assinava todas as ilustrações da Caderneta de Ouro – caderno de assinaturas para captar doações à instituição –, ele permanece anônimo para os pesquisadores. Dele, só se tem a informação do sobrenome, Palhares. Entre as ilustrações, a de um palhaço representando a agremiação, datada de 1948 e outra, de 1945.

 

Para finalizar, um aviso para os que cantam com animação a marchinha “quem não chora não mama, segura meu bem a chupeta…”,: fiquem sabendo que este não é o hino original do cordão. Esta canção, na verdade, é de 1935, quando Nelson Barbosa e Vicente Paiva criaram a canção para um sub-bloco do CBP, o Bloco Chupeta. A música vingou e se tornou hino oficial do Bola, sendo gravada oficialmente em 1962 por Carmem Costa.

 

::: Serviço :::

Temporada: 11 de fevereiro a 8 de março de 2012

Local: Largo da Carioca, s/nº, Centro – Rio de Janeiro

Outras informações:

Grátis
www.cordaodabolapreta.com.br

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