O cineasta texano Wes Anderson é conhecido ao longo de seus projetos cinematográficos por prezar bastante pelos aspectos visuais que traz para tela dos cinemas, focando dessa forma bastante no departamento de arte. Não diferente disso, em O Grande Hotel Budapeste Anderson realiza uma produção que retrata um trabalho meticulosamente elegante neste quesito que acaba se sobressaindo, mas que devido sua abordagem bastante teatral em toda sua trama, tanto nas atuações quanto na condução de cenas, o filme perde um pouco sua elegância para dar vida a um universo um tanto farsesco, aonde para muitos pode soar como um distanciamento da trama, devido aos exageros em sua atuação e construção narrativa, se utilizando dos elementos do teatro, algo que não cabe muito nas telonas e muitos cineastas insistem em tentar unir as duas linguagens, sendo que uma acaba anulando a outra e tornando tudo uma alegoria.
Em seu oitavo trabalho como realizador de longas, o ainda jovem cineasta, consegue assim como em seu belo trabalho “Moonrise Kingdom”, criar uma atmosfera única e bastante envolvente que mergulha entre momentos cômico, sem nunca perder o foco de investigação além de trazer pontos bastante maduros e momentos inteligentes, que carrega quase que sempre ao longo da projeção. O longa-metragem é dedicado ao poeta e dramaturgo austríaco que faleceu em Petrópolis/RJ na década de 40 – “A minha ideia era fazer um filme com a minha própria versão das ficções de Zweig”, disse Wes Anderson que assina o roteiro ao lado de Hugo Guinness (voz de Nathan Bunce em “O Fantástico Sr. Raposo”). A trama do longa é ambientada nos anos de 1932 e traz personagens criados de forma peculiares, que conseguem oscilar entre momentos bizarros e extremamente humanos, além de ser apresentada em cinco partes, sendo antecedidas por duas introduções e precedida de uma conclusão.
A narrativa é conduzida entre passado e presente dentro da cidade de Zubrowka, que apesar de ser ficcional tem problemas bastante reais e convincentes como a II Guerra Mundial. evento que é trabalho de forma simbólica, não necessitando se sustentar em fato histórico. Inicialmente a trama recusa em dois períodos no passado para então ter sua história contada quando o escritor (vivido Jude Law) escolhe o luxoso ontem quando se encontra em uma enorme crise criativa. Neste mesmo período ele encontra acidentalmente Zero Moustafa (F.Murray Abraham), o dono do hotel, que apesar de possuir um poder financeiro, ele passa por um momento bastante solitário e isolado no hotel. Em uma conversa informal a trama volta mais ainda na história, mas precisamente em para 1932, período entre as duas guerras mundiais, o famoso concierge de um famoso hotel europeu Gustave (Ralph Fiennes) conhece um jovem empregado e os dois se tornam melhores amigos. Entre as histórias vividas pelos dois, estão o roubo de um famoso quadro renascentista, a batalha por uma fortuna de uma família e mudanças que atingiram a Europa durante a primeira metade do século XX. Ao longo da projeção somos envolto ao estilo Wes Anderson de se contar história, que para muitos pode-se passar como pretensioso ou mesmo incompreensível, mas nunca podemos afirmar que estamos diante de uma produção que decai no facilitismos de uma narrativa vaga ou até mesmo no excesso de acontecimentos.
Embora com características por vezes semelhantes, o cinema e teatro são duas linguagens bastante opostas, talvez este seja um dos problemas dessa produção que traz personagens, direção de arte, fotografia e ainda situações criadas claramente com um perfil teatral, aonde boa parte do filme, temos a nítida impressão parece que estamos assistindo à um teatro filmado, algo que perde e muito a consistência e a grandiosidade que a trama poderia ter adquirido. Se utilizando de atuações exageradas que junto com a cenário nos coloca em uma alegoria cômica, que pouco nos faz acreditar que aquilo tudo é ou poderia ter sido real.
Trilha sonora de Alexandre Desplat é fascinante e conduz a história com a delicadeza, acompanhando toda a narrativa, podemos ver uma trilha que a cada instante acrescenta e ajuda a contar a história, conseguindo dessa forma, ajudar no ritmo e em toda a narrativa, fazendo com que o espectador não disperse e não durma nas quase 2h30 de filme bastante falado (repleto de diálogos interessantes) e pouco mostrado Em boa parte de sua recente filmografia, Wes Anderson além de ter uma linguagem única, quase que como uma assinatura, estão também as escolhas acertadas de seus atores. Na dupla de protagonistas estão o conhecido ator britânico Ralph Fiennes, indicado duas vezes ao ®Oscar e a grata surpresa, apesar de alguns trabalhos na televisão sem muita expressão, Tony Revolori que vive o cativante personagem Zero Moustaf na fase jovem. Ambos antes formam uma dupla bastante interessante em mostram um sintonia, conforto e descontração em suas atuações – o que facilita bastante direção e toda a produção. O longa ainda conta com um elenco de apoio extremamente competente com nome de Adrien Brody, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Saoirse Ronan, Edward Norton e Jude Law.
O Grande Hotel Budapeste, consegue se destacar por sua beleza estética e seu roteiro, cheio de acontecimentos que fazem com que a todo momento você se interesse pelo longa, para tentar entender e decifrar tudo que está sendo contado, por contrapartida erra ao tornar tudo teatral, o que faz com que os diálogos percam um pouco seu impacto, fazendo com que o público saia com uma sensação de “isso é estranho, mas é interessante…” sem causar uma sensação única, homogenia. Isto na verdade não é novidade na filmografia de Wes Anderson, que cade vez mais se mostra um cineasta com potencial bastante promissor entre à sua geração. Apesar das escolhas acertadas com diálogos bons e personagens interessantíssimos que respiram vida, o longa se torna bastante massante devido sua forma de contar história, deixando tudo lento e artificial, por se utilizar de técnicas teatrais em suas atuações. Algo que, infelizmente pesa é muito, dentro de uma projeção.