“Ricardo III”, obra de William Shakespeare, um dos maiores dramaturgos do teatro ocidental, pelas mãos do ator Gustavo Gasparani e do diretor Sergio Módena, reestreia no Teatro Maria Clara Machado (Planetário), no dia 05 de abril, sábado, depois de uma temporada arrebatadora e de enorme sucesso, com lotação esgotada em todas as sessões e elogios do público e crítica no Espaço SESC no início do ano. E, numa feliz coincidência, abril é o mês que marca os 450 anos do nascimento do poeta inglês (1564 -1616).
“Ricardo III” narra um pedaço da história da Inglaterra. É um dos primeiros dramas históricos escritos por William Shakespeare e encerra em si um dos contos mais tenebrosamente sedutores que já se ergueram em cena. Sua obra encanta diferentes gerações graças à universalidade dos seus temas e à beleza poética que emerge de sua escrita.
O texto traz uma visão rica dos bastidores políticos no que se refere à imoralidade e à ambição desmesurada para se alcançar o poder. Mesmo tendo se passado pouco mais de quatro séculos, os temas abordados servem para refletirmos sobre o mundo em que vivemos. “Ricardo III” discute a luta por poder, intrigas, e a hipocrisia da política.
Nesse projeto, Gustavo Gasparani e Sergio Módena voltaram a trabalhar juntos. A dupla já havia firmado uma parceria de sucesso em 2012, quando dirigiram o musical “As Mimosas da Praça Tiradentes”, que deu a Gustavo o prêmio Shell de melhor ator. Em 2013, Sergio Módena dirigiu “A Arte da Comédia”, que já acumula nove indicações entre os principais prêmios teatrais do Rio de Janeiro, incluindo o prêmio CesgranRio de melhor direção, e foi indicada como uma das 10 melhores peças do ano na retrospectiva de teatro feita pelo jornal O Globo recentemente.
Em “Ricardo III”, Gustavo Gasparani e Sergio Módena também assinam a adaptação do texto de Shakespeare, que propõe um único ator para “contar” essa história fascinante.
“A proposta de um único ator encenando uma história épica nos remete à infância, estágio poderoso onde nossa imaginação não conhece limites e nos permite criar todo um universo a partir da utilização dos objetos mais cotidianos. Assim, construímos castelos, tronos e coroas usando apenas o espaço de um terreno baldio ou de um quarto vazio. Não importa. Convencionamos o que for preciso para contarmos uma história. E o teatro elisabetano é o teatro das convenções por excelência. É a palavra que leva o público aos mais diversos lugares e provoca toda a gama de sensações que o autor deseja. Para mim, esse é um dos aspectos mais fascinantes de Shakespeare. E acredito que essa proposta em Ricardo III serve muito bem a essa natureza lúdica do autor. Um único ator, ora conta a história e ora interpreta os personagens. Ele se transforma em rei, rainha, servo, carrasco e príncipe, num piscar de olhos. O ator indica o caminho e o público aceita a brincadeira “- diz Sergio Módena sobre a concepção do espetáculo.
Gustavo Gasparani, que viveu recentemente “Édipo Rei”, de Sófocles, encara este desafio e leva ao palco um monólogo onde interpreta 21 dos 54 personagens do texto original. Alternando narração e dramatização, interpreta-os num jogo cênico instigante, que revela, não só o conteúdo da obra de Shakespeare, mas também a natureza do próprio teatro. A cada instante, se transforma, convocando o público a usar a imaginação e a embarcar nas inúmeras possibilidades das convenções teatrais.
Gustavo comenta a experiência: “Foi assistindo à versão de Ricardo III de Laurence Olivier para o cinema, lá pelos meus vinte anos, que me encantei pelo personagem e pela peça. Quando o Sergio me propôs contar essa história para o público, sozinho em cena, fui imediatamente mordido pelo desafio. Todos os meus instrumentos de ator são exigidos no seu máximo, além da proposta remeter ao processo de criação dos meus textos e personagens. Toda essa viagem, tendo Shakespeare como companheiro, o meu preferido, e tendo a oportunidade de falar os belos versos traduzidos por Ana Amélia Carneiro de Mendonça (mãe de Barbara Heliodora) durante os solilóquios do protagonista, são como ouro para um ator. Shakespeare nos oferece um universo riquíssimo e imagens poéticas que revelam a alma humana como nenhum outro autor. É conviver com a beleza diariamente num exercício de humildade, compreensão e afeto. Nada poderia ser mais prazeroso.”
O figurino de Marcelo Olinto se resume a calça jeans, uma blusa cinza e tênis. No palco estão uma luminária, uma mesa, um quadro negro, pilots, um apagador e um cabideiro, com os quais Gasparani “contracena” em cenário criado por Aurora dos Campos.
Essa adaptação de “Ricardo III” entra em contato, de forma clara e simples, com a obra de William Shakespeare. Afinal, as questões levantadas pelo bardo inglês continuam pungentes, pertencem às ruas, aos homens e mulheres de qualquer idade e classe social. Enfim, pertencem ao nosso mundo que, cada vez mais tecnológico, pode ser terrivelmente primitivo quando o lado sombrio de nossa natureza se manifesta perante o mais ínfimo vislumbre de poder.
Um espetáculo de linguagem popular e acessível, que transita entre a construção poética original de Shakespeare e intervenções narrativas para revelar a alma humana. Assim como fazia Shakespeare em seu tempo.
SINOPSE
Encenada pela primeira vez entre 1592 e 1593, com enorme sucesso, a peça se passa no final da Guerra das Rosas (1455-1485), conflito sucessório pelo trono da Inglaterra ocorrido entre 1455 e 1485 que coloca em choque político os dois ramos da dinastia Plantageneta: a Casa Real de York e a Casa Real de Lancaster. Ricardo, Duque de Gloucester – que de fato governou a Inglaterra de 1483 a 1485 –, não sente remorso algum ao eliminar seus adversários, tramando complôs, traindo familiares e casando-se por interesse com o único fim de chegar ao trono. Shakespeare retratou Ricardo III exagerando-lhe as características físicas de feiúra e sua maldade pessoal, criando um vilão fascinante aos olhos do público. Além disso, os diálogos elaborados pelo autor no fim do século XVI chegam ao século XXI, em toda a sua força, carregados de maldades, ressentimentos e ódios à flor da pele, legítimos duelos verbais.
Ficha Técnica
Autor: William Shakespeare
Adaptação: Gustavo Gasparani e Sergio Módena
Direção: Sergio Módena
Ator: Gustavo Gasparani
Direção Musical: Marcelo Alonso Neves
Direção de Movimento: Marcia Rubin
Cenário: Aurora dos Campos
Figurino: Marcelo Olinto
Iluminação: Tomás Ribas
Produção: Coisas Nossas Produções Artísticas e Sábios Projetos
Local: Teatro Maria Clara Machado/Planetário (Av. Padre Leonel França, 240 – Gávea/ RJ – 2274-7722)
Reestreia: 05 de abril, sábado
Temporada: de sexta a domingo – até 11 de maio de 2014
Horário: sexta e sábado: 21hs; domingo: 19h30
Preço: R$ 40,00 e R$ 20,00 (com meia entrada) http://www.compreingressos.com/
Bilheteria: quarta a sábado das 14 às 21hs e domingo das 14 às 19h30
Duração: 90min
Classificação: 12 anos
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