Ela acabou de fazer 70, mas isso é segredo de Estado. Horas de academia, algumas plásticas, aulas de boxe, natação e aplicações de botox ajudaram a manter sua aparência nos 50 e poucos anos. Por não agüentar tanta disposição, o marido a trocou por uma mulher, digamos, mais calma e a deixou à beira de um ataque de nervos.
Responsável pela volta de Louise Cardoso à comédia depois de oito anos, esta tragicômica personagem é a estrela de ‘Velha é a Mãe’, texto inédito e premiado de Fábio Porchat, que reestreia no próximo dia 5 de agosto, no Teatro Clara Nunes, com direção de João Fonseca. O espetáculo comemora um ano e meio de sucesso e a marca de 40 mil espectadores e 180 apresentações em diversas cidades brasileiras.
Ana Baird divide a cena com Louise e interpreta Alice, filha única do casamento que acaba de terminar. Ao visitar a mãe, em uma tentativa de consolo, ela mal consegue falar tamanho o descontrole emocional de sua interlocutora. Entre revelações, ataques de raiva e lembranças do passado, mãe e filha trocam farpas e carinhos, graças aos ácidos diálogos de Porchat, vencedor do Festival de Novos Dramaturgos do CCBB em 2007 por este texto. Louise conheceu a peça pouco depois e logo comprou os direitos.
João Fonseca, amigo de Porchat, tinha sido a primeira pessoa a ler a peça e, inclusive, deu alguns conselhos e opiniões sobre seu desenvolvimento. Na época em que ainda procurava um texto, Louise encontrou o diretor e o convidou para dirigir sua próxima produção. O acaso fez com que ‘Velha é a Mãe’ chegasse às mãos da atriz e, quando ela avisou ao diretor que montaria a peça, o ciclo de coincidências se fechou. ‘Nós temos uma ligação com mãe também, ela vinha da ‘Mãe Coragem’ e eu ainda estou em cartaz com ‘Minha Mãe é uma Peça’’, brinca o diretor, se referindo ao último espetáculo protagonizado por Louise e ao bem-sucedido monólogo de Paulo Gustavo dirigido por ele.
A intimidade de atriz e diretor com o gênero vem de longe. Apesar de ter uma trajetória também marcada por textos mais densos, Louise se tornou conhecida nacionalmente por seu trabalho em comédias na televisão, em programas como ‘TV Pirata’ (1988-1989), e em montagens como ‘Fulaninha e Dona Coisa’, de Noemi Marinho, que rodou o Brasil por três anos, e ‘Salve Amizade’, de Flávio Marinho. Seu último trabalho cômico foi ‘Sylvia’, com direção de Aderbal Freire-Filho, em 2002. Em seguida, ela protagonizou ‘O Acidente’ (2003/2004), de Bosco Brasil, e ‘Mãe Coragem e Seus Filhos’ (2007/2008), de Bertolt Brecht, quando dividiu a cena com a Armazém Companhia de Teatro.
Também conhecido por transitar bem entre diversos gêneros dramáticos, João Fonseca dirigiu mais de vinte espetáculos na última década, que renderam sete indicações ao Prêmio Shell (‘Maria do Caritó’, ‘A Falecida’, ‘Pão com Mortadela’, ‘Escravas do Amor’, ‘Édipo Unplugged’, ‘O Casamento do Pequeno Burguês’ e ‘Tudo no Timing’). O humor e o despojamento são heranças de seu trabalho com Antonio Abujamra e a companhia Os Fodidos Privilegiados, onde começou sua carreira como diretor.
Na última vértice deste triângulo, Fabio Porchat é outro exemplo de um trabalho tão diverso quanto volumoso. Aos 26 anos, ele já tem um currículo multifacetado, incluindo a direção de um clássico do teatro contemporâneo (‘Piquenique do Front’, de Fernando Arrabal, em 2006), o trabalho como ator de comédia (‘Infraturas’, ao lado de Paulo Gustavo) e autor de peças e programas de televisão. Há quatro anos, é uma das estrelas do sucesso ‘Comédia em Pé’, espetáculo de stand-up comedy que se mantém em cartaz por alguns teatros na cidade, às vezes simultaneamente.
‘Eu ri muito da primeira vez que li o texto, acho que tenho comédia na veia, na hora quis montar. Há anos venho procurando uma comédia brasileira contemporânea, um texto inédito e engraçado’, conta Louise.
Todo em tons de vermelho, o cenário de Nello Maresse ressalta o desespero da situação vivida pela protagonista. Descontrolada, ela quebra cinzeiros – o marido, fumante, foi embora mesmo – e objetos da casa. Encarregada de acalmar os ânimos, Alice (Ana Baird) faz o contraponto com a espevitada personagem de Louise. Psicóloga, discreta e solitária, ela sempre foi abafada pela forte personalidade da mãe. Mesmo assim, elas desenvolveram uma relação de afeto e cumplicidade.
As duas atrizes já ensaiam um encontro no palco faz tempo. Por uma outra coincidência, Ana tinha sido, quando criança, ‘filha’ de Louise no cinema, em ‘Parceiros da Aventura’ (1980), de José Medeiros. Trinta anos depois, elas retomam os mesmos papéis familiares.
::: Serviço :::
Velha é a Mãe!
Texto de Fábio Porchat
Com Louise Cardoso e Ana Baird
Direção de João Fonseca
Cenário: Nello Marese
Figurinos: Rita Murtinho
Iluminação: Maneco Quinderé
Direção de Produção: Alessandra Reis
Teatro Clara Nunes
Shopping da Gávea – Rua Marques de São Vicente, 52
Tel: 2274-9696
Reestreia em 5 de agosto.
Temporada de 5 de agosto a 30 de outubro
Sextas e Sábados, às 21h30. Domingos, às 20h.
Ingressos a R$ 70 (sex e dom) e R$ 80 (sáb).
Duração: 70 minutos
Classificação etária: 12 anos
Vendas: Bilheteria e http://www.ingresso.com.br