Diante do enorme sucesso de Forrobodó – Um Choro na Cidade Nova, que estreou em 1912 para uma temporada de 1.500 apresentações, um crítico escreveu que aquela era uma peça para durar três séculos. Pelo menos um século já durou. A comédia musical com músicas de Chiquinha Gonzaga ganha nova montagem que teve sua estreia no dia 13 de julho, no Sesc Ginástico. A direção é do mesmo André Paes Leme que foi responsável por sua última encenação, em 1995.
Não é mera coincidência. André e a produtora Andréa Alves, da Sarau, resolveram retomar a parceria de 18 anos atrás para realizar um novo Forrobodó. Enquanto a versão que foi apresentada em 1995 procurava reconstituir o estilo ingênuo e pitoresco de uma época do teatro carioca, a que chega ao palco do Sesc Ginástico nem usa figurinos antigos, apostando na inteligência do espectador, que verá os atores partirem de uma roda de samba para encarnar seus personagens.
“É uma roda-espetáculo. Ou como se a roda contasse o Forrobodó”, diz André, diretor de vários musicais, entre eles Grande Otelo – Êta moleque bamba! e É samba na veia, é Candeia.
No elenco há um remanescente da versão de 1995: o gaúcho Flavio Bauraqui, então fazendo sua primeira peça profissional no Rio. Ele trabalhava como porteiro num condomínio da Barra da Tijuca, onde também dava aulas de teatro. O ator e mestre de capoeira Beto Simas o indicou para um teste, pois sabia que André precisava de atores negros para Forrobodó. Ganhou vaga no elenco e decolou para uma carreira brilhante.
“A montagem de 95 tinha uma característica de ser graciosa. Mas se passaram 18 anos, já somos maiores de idade, podemos falar desse Brasil que mudou, inclusive na postura dos negros, diferente da que aparece em momentos da peça. Para mim, é muita sorte poder jogar outro olhar sobre a mesma coisa”, comemora Flavio, que tem como colegas de elenco o baiano Érico Brás (de Tarja Preta e do seriado Tapas e beijos, da TV Globo), Juliana Alves (íntima do samba – rainha de bateria da Unidos da Tijuca, e comemorando 10 anos de carreira em sua primeira experiência no teatro), os cantores Marcos Sacramento e Pedro Miranda, e também Alan Rocha, Edna Malta, Joana Pena, Sara Hana e Sérgio Loureiro.
O libreto de Forrobodó é de Carlos Bettencourt e Luiz Peixoto, jovens autores que começariam a se consagrar com o sucesso de 1912. Na época, os textos eram escritos contando com a colaboração dos atores, no caso os da Companhia de Mágicas e Revistas do Teatro São José. Um processo que tem sua semelhança com o trabalho colaborativo entre André e o elenco da montagem de 2013.
Forrobodó tem uma trama simples, que gira em torno de um triângulo amoroso e se passa, em parte, num clube. O pioneirismo da peça estava em levar ao teatro tipos populares, como o capoeira, o guarda-noturno, o ladrão de galinhas. E vários personagens são negros, algo ainda incomum naquele momento. E o maxixe, gênero musical em voga nos bailes populares, domina as composições de Chiquinha. André avançou um pouco para as rodas de samba, que começavam então a se formar.
“Pode ser uma roda de qualquer época, inclusive dos dias de hoje. O espetáculo poderia se passar num sobrado da Lapa ou no Trapiche Gamboa”, afirma o diretor, lembrando que a revitalização do samba e das rodas, ocorrida no Rio nestes últimos 18 anos, facilita essa nova proposta de montagem.
Os musicais também ganharam enorme impulso de 1995 para cá, tornando muito mais acessível para a plateia um espetáculo não linear, no qual os atores assumem que estão contando uma história em vez de representá-la de modo realista.
“Temos descoberto um pouco mais o nosso jeito de fazer musical, a nossa cara”, diz o diretor, ressaltando que estão intocáveis no novo Forrobodó a simplicidade, o despojamento, o humor. “A peça mostra uma sociedade que tenta parecer outra, elegante, francesa, mas não sabe como.”
André, o arranjador Leandro Braga e a diretora musical Maria Teresa Madeira se sentiram livres também para ampliar o repertório, pois a trilha original de Forrobodó não é grande. Outras oito músicas estão no espetáculo, de compositores como Pixinguinha, Sinhô e Caninha. Se em 1995 apenas a pianista Maria Teresa ficava no palco, agora há mais quatro músicos, sendo três sopros: clarinete/sax, trombone e tuba.
“Fizemos novos arranjos, mas sem perder o apelo urbano muito forte que as músicas têm. É uma sonoridade característica do início do século passado”, diz Maria Teresa.
Encenar Forrobodó neste momento tem significados especiais. Um deles é a peça se passar na zona portuária, exatamente a menina dos olhos da reforma urbana em curso no Rio em função das Olimpíadas de 2016 – e, por isso, uma região que está envolta em contrastes sociais, também presentes na trama. Outro significado é um espetáculo tão bem-sucedido de Chiquinha Gonzaga voltar quando a Sbat (Sociedade Brasileira dos Autores Teatrais), entidade que ela fundou, vive uma terrível crise financeira, correndo até o risco de acabar.
Para André e Andréa, o que aconteceu com Forrobodó em 1912 se repetiu, de certa forma, em 1995. A peça em que o empresário Paschoal Segreto não acreditava e que não teria existido sem a insistência de Chiquinha foi refeita no Centro Cultural Banco do Brasil para apenas duas apresentações. O resultado foi tão bom que o centro cultural programou uma temporada e, depois, uma turnê por outras cidades. A montagem ganhou o Prêmio Mambembe como uma das melhores peças daquele ano.
Estreia para convidados: 12 de julho
Temporada: de 13 de julho a 08 de setembro
Local: Teatro Sesc Ginástico
Endereço: Rua Graça Aranha, 187 – Centro
Tel.: 2279-4027
Bilheteria: de terça a domingo, das 13h às 20h
Ingresso: R$30,00 (inteira), R$15,00 (meia) e R$5,00 (comerciário)
Horário: de quinta a domingo, às 19h
Duração: 120 minutos
Classificação: 12 anos
Capacidade: 513 lugares
Gênero: comédia musical
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