Bem, a Frequência Não Modulada desta sexta-feira trata-se de uma edição especial de aniversário. O texto em questão foi escrito há praticamente três anos e acho que é uma boa hora de compartilhá-lo aqui na coluna. Primeiro porque a data coincide com o aniversário de CINCO ANOS do disco, que é no meio da semana que vem (qual o problema de postar alguns dias antes, hein). Aposto que vão pensar: “nossa, que preguiçoso, reaproveitando velharia”. Há coisas que nunca ficam velhas. Inclusive quando se trata de música, cinema, enfim, da arte de maneira geral.
Por falar em arte, em 1954 a artista plástica mexicana Frida Kahlo pintou Viva La Vida, obra autobiográfica que exaltava a vontade de viver mesmo com tanta dor e sofrimento. 54 anos depois, Chris Martin, vocalista da banda britânica Coldplay, resolveu homenageá-la nomeando o quarto disco de estúdio de Viva La Vida or Death and All His Friends, um dos álbuns mais esperados do ano de 2008. Tendo em vista o álbum anterior, X&Y, já era possível perceber a magnitude do que viria a seguir.
As gravações do disco começaram em junho de 2007 e terminaram em abril de 2008. Dois meses depois, 11 de junho de 2008, o Viva La Vida or Death and All His Friends chegou às lojas do mundo inteiro. Com a produção do veterano Brian Eno, londrino responsável pela produção de álbuns da banda irlandesa U2, além de grandes nomes como David Bowie e Talking Heads, o disco conta com uma sonoridade mais elaborada do que nos álbuns anteriores, porém sem se descaracterizar, ou seja, não tão introspectivo. O resultado? Um disco agradável com letras consistentes e arranjos extasiantes. O primeiro single, Violet Hill, foi disponibilizado para download gratuitamente no site oficial da banda e teve 2 milhões de downloads em apenas duas semanas.
O arranjo de cordas de Viva La Vida, o segundo single do disco, nos remete a um clima revolucionário onde Martin encarna um rei que foi exonerado do poder de seu reino e conta a história antes de ser executado (revolutionaries wait for my head on a silver plate –revolucionários esperam por minha cabeça numa bandeja prateada). A canção, que utiliza referências religiosas e históricas, realizou a façanha de encabeçar o topo das paradas no Reino Unido e nos Estados Unidos simultaneamente.
Cemeteries of London explora um lado sombrio, característica até então nunca usada em composições do grupo com um arranjo folk abertamente inspirado em música espanhola. Lost! é mais uma prova de que órgãos e Coldplay soam perfeitamente na mesma frase (escute Fix You do álbum X&Y e veja se não é verdade). Outro destaque do disco é a canção “42”, que foi escrita por todos os membros da banda. Dividida em três partes distintas, tem a curiosa característica de não ter refrão.
Em “Yes”, Chris Martin canta de uma maneira diferente, com vocais mais graves. A sugestão foi de Eno, que queria que cada faixa soasse diferente de uma da outra. Ainda mais pelo motivo de Chris ter uma voz muito “reconhecível”. A canção é basicamente sobre amores proibidos e tentação sexual: ele pede pra não se deixar cair na tentação, mas ao mesmo tempo pressiona a moça a dizer “sim”. E violinos seduzentes se misturam aos vocais baixos de Martin, o que, de fato, combina com a proposta da canção.
Não se pode deixar de comentar aqui a arte gráfica do disco. Muito bem produzida, a capa foi inspirada na obra “A Liberdade Guiando o Povo” do pintor francês Eugene Delacroix, que retratou a Revolução de Julho de 1830: a queda do Rei Carlos X do poder. A mulher com os seios a mostra em cima dos corpos aniquilados ao chão representa a liberdade, depois de muita batalha.
Viva La Vida mostra o amadurecimento da banda em relação aos álbuns anteriores. Nota-se que a banda se empenhou (e atingiu o objetivo) em atingir as grandes massas sem deixar de soar introspectivo. Os Grammies de “Melhor Álbum de Rock”, de “Canção do Ano” e “Melhor Performance Vocal Pop Duo ou Grupo” para Viva La Vida em 2009 e o título de “álbum mais vendido de 2008” já dizem o bastante. Pra finalizar, o disco na íntegra pra você, leitor, ouvir. Até a próxima. Ou não.