ARCADA é a próxima exposição individual de Edith Derdyk, que tem como ponto de partida a tradução primorosa da Gênese pelo poeta concreto Haroldo de Campos, publicada no livro BERE’ SHITH _A Cena de Origem (Editora Perspectiva, 1993). Abre em 21 de fevereiro e permanece até 2 de abril de 2013, na FUNARTE, Galeria Mario Schenberg.
Edith Derdyk tem focado o permanente diálogo entre a palavra e a imagem, entre a instalação (situações espaciais efêmeras) e sua produção de livros de artistabem como sua extensa pesquisa sobre o desenho, sendo autora de diversos livros de referência (Desenho. Disegno. Desígnio, Formas de pensar o desenho, Linha de Costura entre outros). Esta mostra será mais um desdobramento deste processo de pesquisa e criação artística, em que o desenho, aqui, também será explorado através das linhas no espaço e grafias sobrepostas.
Em ARCADA a pesquisa se debruça mais profundamente sobre a natureza imagética da palavra escrita quando em estado poético a partir dos versos bíblicos transcriados/traduzidos por Haroldo de Campos, no livro Cena de Origem, e na exposição ARCADA enfatizando a sintonia entre a origem do verbo e o aparecimento da luz, questão assim expressa já nos primeiros versos bíblicos escritos em aramaico/hebrew arcaico e presente nos mitos da criação de distintas tradições religiosas.
Para a concepção e produção da exposição ARCADA, Edith Derdyk realizou uma viagem de pesquisa para Jerusalém (janeiro/2012), com apoio do Centro de Cultura Judaica, onde foi em busca de material (fotos, vídeos, sons, livros, entrevistas com linguistas) para buscar imagens que ativassem sua pesquisa sobre as origens da palavra em seu estado poético e suas intersecções entre escrita e desenho, entre linguagem verbal e visual. Em agosto/setembro_2012, participou do programa de residência na Biblioteca do CCJ onde realizou a série Tábula presente na mostra ARCADA.
O espaço expositivo da sala Mario Schenberg será estruturado em dois conjuntos de trabalhos:
A instalação ARCADA irá sustentar/afundar um plano de luz a 20 cms do chão, suspensos por linhas pretas de algodão que pendem desde o teto, ocupando uma área aproximada de 18 metros quadrados (3 X 6 metros). Estas linhas irão desenhar um volume “perdido” suspenso no ar, com a presença ostensiva das linhas que desenham uma região de escuridão , dada a sobreposição e acúmulo de linhas pretas estendidas no espaço, gerando um peso visual sobre uma fresta de luz pairando a 20 cms do chão.
A série Tábula é composta por cerca de 120 impressões (20X30 cm cada) a jato de tinta mineral, ocupando uma área na parede de 600 cms de extensão por 120 cms de altura. Estas impressões são frutos de sobreposições de fotos tiradas da primeira página da Gênese, extraídos de Bíblias populares de várias línguas, compradas em sebos. Estas sobreposições acabam construindo um texto ilegível, blocado, quase que intransponível, uma área preta, escura, quase um buraco na parede.
Arcada e Tábula acabam estabelecendo, entre si, uma zona de tensão entre as 2 áreas densas e escuras : o retângulo horizontal na parede e o retângulo vertical das linhas no espaço.
No dia 02 de abril será lançado o catálogo da exposição ARCADA, com o texto do curador Jacopo Crivelli, contendo fotos da exposição, bem como os estudos, maquetes, anotações, fragmentos de livros, desenhos, projetos, de maneira que todo o processo de elaboração e concepção deste trabalho seja colocado à vista, dando as pistas dos bastidores da construção genética da mostra.
Segundo as palavras do curador Jacopo Crivelli:
“Aparentemente, o trabalho de Edith Derdyk é simples. Surge da acumulação de materiais ordinários, mantidos pela artista em seu estado puro, sem algum tipo de intervenção que altere as características originárias. O papel, por exemplo, é apenas papel (papel à enésima potência, poder-se-ia até dizer, haja vista a sua alvura), exatamente como os fios de algodão, as chapas de ferro, os livros que confluem para as suas instalações ou esculturas nunca deixam de ser o que eles mais intimamente são. E contudo, essa simplicidade é, como se dizia, aparente. Apenas isso.
A complexidade do trabalho de Edith Derdyk, por outro lado, é sutil. Gosta de se esconder nas coisas, com maior prazer e teimosia, ao que parece, quanto mais prosaicos os objetos e os materiais que habita. É uma complexidade, poder-se-ia quase dizer, que brota, ou torna-se evidente, ao se tentar fazer, dessas obras aparentemente tão simples, uma exegese. Pense-se, por exemplo, com algum vagar, na simplicidade do papel em branco, e mergulhar-se-á na sua imensidade metafísica, no seu olhar paralisante de Medusa, na pletora de metáforas que dele emanam.
É por isso, cabe imaginar, que a artista se dedica há anos (e cabe imaginar que o fará ainda por um bom tempo) a uma pesquisa tão abnegada e apaixonada da Cena de Origem de Haroldo de Campos. Qualquer tradução é, antes de mais nada, uma paciente exegese, uma tentativa, mais ou menos original e autoral, de entender e transmitir o significado do que está escrito, mas nenhum texto é, em sua pureza originária e fundante, mais próximo dos materiais da própria Edith, de seu preto e seu branco, e dessa luz que, com evidente coerência, se abre agora um caminho pela Arcada.”
Instalação de Edith Derdik
Abertura: 21 de fevereiro de 2013, quinta-feira, das 19h às 22h
Visitação: de 22 de fevereiro a 02 de abril de 2013
Exposição individual
Galeria Mario Schenberg
Endereço: Alameda Nothmann_1.058
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