Talento ou “Talento”: uma breve reflexão sobre o cenário fonográfico atual

A Frequência Não Modulada dessa semana não é exatamente um especial sobre um artista e/ou banda específico. Pra fugir um pouco do usual, o assunto dessa sexta é uma espécie de reflexão quanto a cenário fonográfico atual de maneira geral. Claro que essa indignação não é aplicada a todos, apesar da grande maioria perder o rumo no que faz. Você vai entender no que se resume essa indignação.

A primeira parte da coluna se refere a artistas que perdem o rumo durante a carreira. Aqueles artistas que começam sensacionais e arrasantes, mas depois de um tempo, acordam como se tivessem batido a cabeça em algum lugar e perdido a memória, fazendo coisas que os fãs jamais imaginariam, vulgo “vendendo sua imagem” de maneira negativa, claro. Até porque vender a imagem é normal para quem está no ramo.

Já a segunda parte vai tratar da reflexão do verdadeiro talento. Do famoso dilema se os artistas vendem por que são realmente talentosos ou apenas por que sabem se aproveitar dos poderes da mídia. Isso chega a ser retórico, mas não custa bater um papo sobre isso também. E, indubitavelmente, essa segunda parte se interliga com a primeira. Até porque se tratam de artistas talentosos que se tornaram caricaturas de si mesmos.

Essa reflexão pode soar severa, mas infelizmente é o que vem acontecendo com o passar dos anos na música. A verdadeira música, feita com paixão e boas produções, vem sendo substituída por letras banais e depreciativas, além da sonoridade atual batida com rappers latindo nas músicas, por exemplo. A cantora em questão, que deveria ser o foco, passa a ser uma mera coadjuvante e sem indicações ao Oscar ainda. Acho que vocês sabem a quem me refiro.

Qual das duas é a verdadeira Mariah?

Mariah Carey. Como não amar aquela cantora que surgiu em maio de 1990 com aquela voz fenomenal, produção incrível, enfim… coerência. Tivemos Emotions, Music Box (Dreamlover, Hero, Without You), Daydream (obra-prima absoluta), Butterfly (aclamado pela crítica), etc. Depois de se separar do então marido Tommy Motolla, o então empresário dela na época que a mantinha em rédeas curtas (vide o porquê do trabalho dela ser tão fantástico), ela acordou outra pessoa. Ela saiu da linha “sou diva, passem meu vestido já” para “yo, traz meu champagne aí, babe”. Claro, ela teve ótimos momentos nos anos 00, mas em sua maioria, fomos contemplados (só que não) com rappers, letras superficiais e uma mudança drástica no estilo musical. E tudo isso para que? Para tentar mais um #1 no topo das paradas da Billboard. E Mariah sabe que o que vende é um feat com rapper, gemidos e roupas curtas. Só que mesmo com esses artifícios, qualquer um em sã consciência sabe que, por mais grandioso que seja o passado de uma grande cantora, não é o suficiente para concorrer com os grandes (?) nomes da atualidade.

Desnecessário 

Seu mais novo single, Triumphant, nem parece que é dela e sim dos rappers que fazem participação especial OH WAIT. Veredicto: Anos 90: Voz impecável, mas infeliz. Qualquer um percebia que sua vida pessoal era um inferno e que seu casamento não era o conto de fadas que pensou que seria. Anos 00: Perda vocálica considerável (apesar de ainda dar conta do recado), porém… feliz, casada, mãe, independente, tomou finalmente as rédeas da sua carreira, apesar de não estar direcionando pro caminho que costumávamos amar. Mesmo tendo perdido o rumo, ela ainda tem o mérito de ser uma das artistas mais relevantes da música. Mariah é influente e talentosa. Teve a chance de voltar às origens e ser produzida por gente “grande” e gravar um grande álbum pra evidenciar a (ainda) boa voz que tem. Mas, infelizmente, a sangria pelo topo das paradas não permitiu tal fato. Certo, o álbum ainda nem foi lançado, mas já dá pra perceber que vai seguir a linha Miss Laje 2012. Uma lástima.

Céline Dion, pelo contrário, continuou no mesmo estilo de sempre, ou seja: não contratou rappers nem colocou um shortinho curto ou apareceu de biquini nos clipes. Ok, ela fez um ensaio para a V Magazine, mas vulgar é a última coisa que ela poderia estar. Tá bela, tá Bardot, tá classuda. As músicas dela soam modernas, mas com os elementos dos anos 90 e não a descaracterizou em nada, pelo contrário: ela não tenta ser uma pessoa que não é. Confira algumas fotos do ensaio da V Maganize abaixo:

 

Um exemplo singelo e menos grave agora: Madonna. Para falar a verdade, seu último álbum “reflexivo”, digamos assim, foi o American Life, onde ela criticou veementemente o governo Bush e refletiu sobre as maravilhas e dores que a fama proporciona. Claro que foi um fiasco nos Estados Unidos, porém um sucesso na Europa. Depois deste disco, ela veio com o Confessions on a Dance Floor, que era tudo (fenomenal, enérgico. etc) menos reflexivo: foi feito unicamente pra dançar, inspirado na Disco Music. Nem todo álbum precisa ser reflexivo. Basta ter um conceito e o Confessions fez por merecer o sucesso que teve. Em 2008, Madonna veio com o Hard Candy: um disco R&B, produzido por Timbaland, que soa muito Justin Timberlake e Nelly Furtado e nada Madonna. Não mostrou a rainha do pop ao seu melhor.

O conceito, se é que se pode chamar assim, é inexistente: Hard Candy foi feito às pressas, justamente por causa do fim do contrato com a Warner Music, sua gravadora desde o início da carreira. É um álbum “just ok”. Há quem considere um erro na carreira da Madonna, há quem não. Por outro lado, a cantora islandesa Björk também foi produzida por Timbaland em seu 7º disco de estúdio, Volta, de 2007. E a produção, ainda assim, soa Björk. Ao ouvir o primeiro single “Earth Intruders”, você diz: “poxa, isso é muito Björk, muito original”. Ao ouvir o Hard Candy, dizem: “é a Nelly Furtado cantando?”. Aí reside a indignação.
Agora pensemos: o que é o verdadeiro talento pra você? Este que vos fala criou uma pirâmide pra (tentar) exemplificar essa questão:

É conveniente levar em conta que algumas “cantoras” precisam mixar até a respiração para melhorar a voz. Quando uma cantora é contratada por uma gravadora, ela tem duas opções: uma delas é pagar um técnico vocal e aprender a conciliar o canto com a respiração; a outra é contratar excelentes engenheiros de som e produtores que não tenham medo do trabalho duro para mixar a bela voz da cantora, enquanto a mesma sua na academia para cuidar do bem mais valioso: o corpo, também conhecido como ganha-pão. Agora, todos sabemos da existência de cantoras que fazem sucesso pela beleza, apenas. E aquelas que não tem nem voz e muito menos corpo? Valendo: tik tok on the clock… 

Voltando ao verdadeiro talento nos dias atuais: ele existe, claro. Mas em sua grande maioria, sabemos que não. A não ser que usem o corpo para emitir vibratos e melismas. Er… não. E, ironicamente, esses “astros” em questão vendem mais do que aqueles que realmente mostram a que vieram. Estamos numa era de iTunes, de música digital, onde a farofa superficial come solta. Já se foi o tempo que a música era feita para os ouvidos. Uma grande produção visual, como um ensaio fotográfico por exemplo, é sempre bem vinda (e até importante),, mas a indústria fonográfica foca só nesse ponto. O cenário musical atual está sempre atrás dos charts e das vendas e dos downloads e etc, etc, etc.

E então você se pergunta: por que eles vendem tanto? O sucesso de um artista está diretamente ligado a um excelente trabalho de marketing e, claro, a produtores competentes. Com batidas genéricas e repetitivas e letras chicletes (no sentido depreciativo), pronto: qualquer Zé das Couves ou uma Maria Ninguém pode fazer sucesso e vender até a mãe se quiser. “Para que saber cantar ou tocar um instrumento se eu tenho um corpo malhado e delirante?” Cuidar da estética é importante, mas não é tudo. Quando só prestam atenção no visual, nota-se claramente a futilidade e o “mais do mesmo”.

Vender a imagem é normal, afinal todo artista no show business tem a obrigação de vender seu peixe e mostrar a que veio. Mas tem gente que se perde no meio do caminho e não consegue mais se encontrar. Aquele momento onde um falso talento é designado unicamente para iludir e manipular cabeças de jovens incapazes de ouvir a verdadeira música e de ter senso crítico.

2 Replies to “Talento ou “Talento”: uma breve reflexão sobre o cenário fonográfico atual”

  1. Concordo completamente com tudo dito neste post! Hoje em dia basta ter uma carinha “bonita”, uma voz “mais ou menos” (o auto-tune poe-na “melhorzinha”), e uma musica com uma letra melosa ou que se repete varias vezes (para ficar grudada no cerebro) que ja faz “sucesso” no mundo da musica!

    A imagem tb é importante, mas nao deve vir em 1º lugar, nem, na minha opiniao, em 2º ou 3º…

    É por isto que maior parte da musica que ouço tem mais de 20 anos!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *