Pense na sofisticação. Na voz milimetricamente trabalhada. Em letras interessantes e, algumas, autobiográficas. Redenção, pecado, agradecimento, amor, ódio. E, acima de tudo, uma incrível homenagem aos grandes nomes da música soul, jazz e R&B. Uma nova imagem a ser trabalhada, ainda mais depois de se despir para o mundo em 2002. Talvez uma diva clássica?
Lançado há exatamente seis anos nos Estados Unidos, Christina Aguilera resolveu voltar às origens e criar algo realmente novo trazendo o antigo. Back to Basics é o tributo digno dela aos anos 20, 30 e 40 na música. Inspirado nas músicas que ouvia quando criança, Billie Holiday, Etta James, James Brown, Marvin Gaye, Ella Fitzgerald entre outros grandes nomes, trata-se de um álbum retrô e, ao mesmo tempo, contemporâneo. O disco, que contém toques dos anos 20, 30 e 40, foi muito bem recebido pela crítica, além de ter uma turnê de tirar o fôlego – a mais bem sucedida de 2007.
Não só o disco em questão é especial, mas a era inteira. Melhores figurinos, melhores músicas – incluindo covers dignos como o de It’s A Man’s Man’s Man’s World (de James Brown) na 49ª edição do Grammy Awards – e também arrebatadoras colaborações como a com Elton John no Oi Fashion Rocks 2006 cantando Bennie and the Jets (grande single do álbum Goodbye Yellow Brick Road, de 1973). Pro texto não ficar cheio de links, vá ao youtube e assistam. Juro que não se arrependerão.
Com a produção do DJ Premier, conhecido produtor de hip hop, o primeiro disco tem batidas mais modernas com toques de blues, soul e jazz antigos. Destaque para Makes Me Wanna Pray, onde ela convida Steve Winwood, músico inglês que participou das bandas Traffic, Go, Blind Faith e Spencer Davis Group, pra tocar piano e hammond ao som de um coral de igreja sensacional. A canção contém um sample de Glad, música do álbum John Barleycorn Must Die – 1970 – de Traffic. Ain’t No Other Man, 1º single do álbum, levou um Grammy de Melhor Performance Vocal Pop Feminina. Assista Ain’t No Other Man abaixo:
Oh Mother é dedicada à mãe de Christina, uma espécie de consolo pela fase abusiva e infernal que passou com o marido. Still Dirrty é outro ponto alto do álbum, onde ela diz que ainda faz a hot sim-e-daí? E que se vocês falam da forma que ela se veste e age estão perdendo seu tempo, é. Na sequência, Here to Stay complementa ainda mais a faixa anterior, reforçando a ideia de que ela não dá a mínima para o que estão pensando dela e que ela vai viver a vida dela para ela. Ok? On Our Way e Without You referem-se a Jordan Bratman, seu então atual marido, assim como Save Me From Myself, do disco dois – o qual chegaremos lá em 3,2,1.
O segundo disco, ao contrário do primeiro, produzido por Linda Perry, é um álbum completamente retrô com elementos circenses, cabaré e muita sensualidade. Nasty Naughty Boy é um exemplo vivo disso, assim como I Got Trouble – que foi gravada num microfone dos anos 20 pra soar como o rádio naquela época. Mesmo com a voz radiofônica distante, conseguimos perceber o vozeirão de nossa Christina Maria soando mais poderoso do que nunca. Hurt, o 2º single, faria Barbra Streisand chorar rios de tão dramática que é. Mercy on Me tem vocais matadores e um arranjo envolvente. Save Me From Myself mostra uma Xtina mais serena e acústica. Em Candyman – 3º single – Baby Jane se derrete por um cara que ‘makes her panties drop and has a big UHHHHH’. Mesmo clássica, Christina ainda manteve sua sexualidade e força de atração. Assista Hurt abaixo:
Back to Basics é um disco essencial. Christina fez o requisito e depositou todo e qualquer tipo de inspiração nele, com samples de grandes clássicos da música soul e R&B, tornando o disco mais interessante a cada faixa. Uma obra-prima dos tempos modernos. Algo que não se vê todo dia. Se você apenas gostava da Christina, esse álbum será o culpado para fazer você, fã, amá-la.
Um adendo: A canção Boogie Woogie Bugle Boy Of Company B das Andrews Sisters, datada de 1941, é considerada uma das primeiras gravações de Rock n’ Roll. Já dá pra perceber de onde “Candyman” foi inspirada. A base rítmica é praticamente a mesma, porém não foi creditada como sample, porque o arranjo dela é mais trabalhado, suponho. Compare abaixo:
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Com um disco tão rico, conceitual e bem produzido como o Back to Basics, esperava-se que o próximo álbum fosse tão bom a altura. O que infelizmente não aconteceu. O Bionic flopou e flopou feio. Apesar de não merecer. É um grande álbum, mas não foi divulgado da maneira correta e a escolha pro primeiro single não foi das melhores. A temática é original e futurista, justamente pra contrastar (propositalmente, claro) com o Back to Basics, que é todo retrô. A produção é excelente e, diferente da maioria das músicas pop atuais, mostra claramente, mesmo às batidas eletrônicas, o vozeirão e tal.
O álbum tem a parte mecânica e a parte humana (a parte final do álbum): onde reside o sentimento, como ela mesmo disse é o “coração” do álbum. You Lost Me, I Am… e etc, mostra um lado humano naquele corpo “biônico”. Devido a escolha de “Not Myself Tonight” como primeiro single, a crítica e o público caíram em cima da Christina, alegando que ela não trouxe nada demais e que quis ser/agir como Lady Gaga, pela sonoridade e pela roupa colada. Uma pena que um disco tão bom tenha morrido na praia por um erro de marketing. Assista abaixo o primeiro single, Not Myself Tonight:
Christina deu a volta por cima com o lançamento do filme “Burlesque”, onde atuou ao lado de Cher e fez covers de músicas da Etta James, como a fantástica “Something’s Got A Hold On Me” e “Tough Lover”. Ainda neste ano, Christina planeja voltar com tudo, com novo single e disco. Dizem por aí que ela vai arrasar. Esperemos. Com a voz que ela tem, com uma boa estratégia e, acima de tudo, com uma boa produção, não é de se duvidar.
Excelente review <3