A artista Ana Hupe conecta mulheres africanas residentes em São Paulo a latinas que moram em Berlim na exposição Malungas. A mostra selecionada para a Temporada de Projetos do Paço das Artes será exibida de 25 de abril a 4 de junho no MIS (av. Europa, 158), onde a instituição da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo está sediada atualmente. No dia da abertura, a partir das 19h, a artista participa de uma visita guiada acompanhada da crítica Juliana Gontijo e da diretora artística e curadora do Paço das Artes, Priscila Arantes.
Tanto em São Paulo, quanto em Berlim, Ana Hupe fez um chamado para selecionar mulheres interessadas em participar de uma sessão de retratos e da leitura de um texto para vídeos que compõem a exposição.
A artista conta que as fotos são inspiradas em retratos feitos por fotógrafos estrangeiros (principalmente alemães) da corte e de africanos escravizados no Brasil do século XIX. Os chamados cartões de visita, fotografias de 9 X 6cm, eram trocados e colecionados pela elite da época. “A ideia de Malungas é estender essa prática antiga dos cartões de visita, uma estratégia de visibilidade social,às imigrantes hoje, construindo a partir deles, um senso de coletividade entre as imigrantes africanas e afro-descendentes da cidade de São Paulo”, diz.
A mostra traz também uma instalação com duas projeções. Na primeira, latino-americanas que vivem em Berlim lêem trechos de textos em alemão sobre a percepção de estrangeiros do século XIX a respeito da mulher brasileira. Na outra, africanas residentes em São Paulo lêem sobre a perspectiva estrangeira da mulher africana.
Para Priscila Arantes, a exposição visa gerar reflexões em torno de temas urgentes. “Esta exposição coloca as mulheres migrantes e refugiadas como protagonistas, além de dar voz às minorias. Com esta mostra, esperamos colocar em debate a intolerância, o preconceito e a misoginia tão em voga em nossa sociedade”.
Segundo Ana Hupe, carioca que vive entre o Rio e Berlim, a exposição pretende colocar luz nos fluxos migratórios. “O imigrante é um sujeito que deriva pela cidade estrangeira na falta. Não compreende todas as palavras do idioma novo, não domina o sistema econômico, cultural ou semiológico. Este devir imigrante está presente nos trabalhos de Malungas, compostos por palavras em espanhol, alemão, português e inglês”, diz a artista.
A exposição conta, ainda, com uma instalação composta por fotogramas (frases e imagens feitas em papel fotográfico) e um áudio que alude à experiência da artista no sistema de trabalho alemão.
“Malunga” é uma palavra de origem africana, que significa “companheira de viagem”, foi criada pelos escravos que chegaram ao Brasil no mesmo barco para chamar suas novas famílias. O projeto é uma continuação da pesquisa apresentada na exposição Leituras para mover o centro, em maio-junho de 2016 no CCBB-RJ, uma sala experimental de leitura que reunia dispositivos coletivos de leitura, onde diversos livros podiam ser abertos ao mesmo tempo, bibliotecas nômades e fotografias e textos de mulheres imigrantes negras que vivem no Rio e em Berlim, com seus livros favoritos.
Artista selecionado: Ana Hupe | Malungas
Acompanhamento crítico: Juliana Gontijo
Júri: Benjamin Seroussi, Juliana Gontijo, Priscila Arantes, Solange Farkas e Vinícius Spricigo
Abertura: 25 de abril de 2017 >> terça-feira >> 19h
Bate-papo e visita guiada com o artista, a crítica Juliana Gontijo e Priscila Arantes >> 19h30
Visitação: até 4 de junho de 2017
Paço das Artes no MIS
Endereço: Av. Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo/ SP
tel.: (11) 2117-4777
Grátis
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