Cia Mundu Rodá estreia espetáculo sobre a Rabeca no SESC Pompeia

Com 17 anos de estrada e uma pesquisa extensa sobre a cultura popular brasileira, a Cia. Mundu Rodá de Teatro Físico e Dança (SP) se prepara para estrear o seu novo espetáculo no dia 10 de março, no palco do SESC Pompeia. O grupo convida o público para uma deliciosa viagem pelo universo da rabeca brasileira, instrumento considerado o precursor do violino, que é encontrado em diversas manifestações populares e religiosas.

O espetáculo Memórias da Rabeca tem direção de Juliana Pardo e atuação de Alício Amaral. O monólogo gira em torno da narrativa de sete rabecas diferentes e é resultado de uma intensa pesquisa artística em comunidades de rabequeiros como: Caiçara, Quilombola e Indígena do litoral paulista, e comunidades do Nordeste, como Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte. A partir desta pesquisa, foram descobertas diversas histórias envolvendo o instrumento como a de Fabião das Queimadas (1848-1928), escravo que comprou sua liberdade com o dinheiro conquistado através de sua rabequinha e Cego Oliveira (1883-1977), que enxergava o mundo de uma forma singular por possuir uma baixa visão.

A montagem revela memórias guardadas por estas rabecas através do diálogo entre teatro, música e dança, colocando em foco as dinâmicas das relações entre indivíduo e rabeca, dando voz a fatos históricos que fazem parte da construção da identidade cultural brasileira. Com toque penetrante, som por som, nas suas inúmeras possibilidades de ser e se reinventar, cada rabeca documenta histórias e memórias – por vezes inesperadas – de lugares quase esquecidos deste país. Neste contexto, o ator-dançarino e músico dialoga com questões emergentes – como as retiradas de Comunidades Caiçaras e Quilombolas de suas terras para demarcações de reservas ambientais – percorrendo memórias e sonoridades que convergem nas questões de identidade cultural.

O espetáculo teatral propõe escutar por meio da palavra, do som, do corpo e da madeira, falando de sete diferentes movimentos norteadores resultantes da pesquisa, sendo eles:

Cegos Rabequeiros – criado a partir dos registros de “Toadas de Cegos de Mário de Andrade, e de histórias sobre os rabequeiros Cego Oliveira (1883-1977), Cego Aderaldo (1878-1977) e Cego Sinfrônio (1880-?). De quatro cantadores famosos que se acompanhavam à rabeca, citados na literatura brasileira, três são cegos, o que sugere a rabeca como instrumento intimamente associado a cantadores portadores desta deficiência;

Maneirinha – Peça instrumental criada para a rabeca de Seu Nelson, rabequeiro de Alagoas, cuja potência e o timbre especial protagonizam a obra;

Boi da Mão de Pau – Inspirado no romance tradicional do poeta e rabequeiro Fabião das Queimadas (1848-1928), ex-escravo que comprou sua liberdade e de seus familiares através do dinheiro arrecadado com sua música e poesia. O romance é sobre a história de um boi que escolhe saltar de um precipício ao invés de tornar-se prisioneiro;

Cultura Caiçara, Fandango (Resistência e Tradição) – Coloca em foco a cultura caiçara paulista, os mutirões de trabalho, o Fandango (estilo musical caracterizado pela dança, de origem europeia, datada desde o período barroco) e questões sócio-político-ambientais;

Iauaretê – Inspirado no conto Meu Tio Iauaretê, de Guimarães Rosa, percorre as fronteiras entre humanidade e animalidade, revelando a ligação profunda do homem com sua natureza e outros aspectos da cultura indígena;

Redemunho – Criado a partir de relatos e histórias sobre tocadores pactários em busca de habilidades musicais extra-humanas. Livremente inspirado em passagens do romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa;

Minha Chã – Memórias do próprio artista, Alício Amaral, do período em que residiu com sua companheira, Juliana Pardo, na Chã de Esconso (comunidade do interior da Mata Norte de Pernambuco).

Ao longo do tempo, a Cia. Mundu Rodá (criada em 2000) construiu uma trajetória artística marcada pelo diálogo entre o trabalho do ator/dançarino/músico e as manifestações tradicionais. Está sempre em busca de uma expressão artística contemporânea capaz de revelar os traços e os fundamentos da identidade cultural brasileira.

Nas criações realizadas, assim como na atuação formativa desenvolvida por seus fundadores, Juliana Pardo e Alicio Amaral, a Cia. busca incorporar muito mais do que as informações mais evidentes das formas populares, buscando conexões com as mensagens deixadas pelos povos, por meio das gerações, e narrando cenicamente as histórias pouco ouvidas até agora.

Seus trabalhos procuram os fundamentos mais primordiais da corporeidade brasileira e marcam o encontro de povos de origens distintas, apoiada em uma cultura fundamentalmente oral, na qual a pluralidade rítmica transborda um modo de viver que não estabelece limites rígidos entre brincadeira, expressão, formação, crença e arte.

Além da temporada do espetáculo Memórias da Rabeca, a dupla (Juliana e Alício) realiza duas oficinas no Sesc Pompeia durante o mês de março, com intuito de abordar, discutir e disseminar o tema. Se programe para participar das atividades e assistir este espetáculo surpreendente da Cia Mundu Rodá. Um convite para rabecar, com este que é uma das maiores referências no estudo da Rabeca do Brasil! Mais informações na fanpage Mundu Rodá ou no site: www.munduroda.com

SERVIÇO
Memórias da Rabeca
Temporada: 10 de Março a 02 de Abril de 2017, quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 19h
Espaço Cênico – Sesc Pompeia
Endereço:
Rua Clélia, 93 – Pompéia – São Paulo – SP
Duração: 50min
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 14 anos
Ingressos: R$7,50 (credencial plena/trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes), R$12,50 (pessoas com +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$25,00 (inteira).
Tel: (11) 3871-7700

*As informações são de responsabilidade de seus organizadores e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio.

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