Andreia Duarte, atriz e idealizadora do espetáculo Gavião de Duas Cabeças morou durante cinco anos, entre 2001 e 2005, na comunidade indígena Kamayura, no Alto Xingu, em Mato Grosso. Estando lá, criou e organizou escolas, assessorou projetos, escreveu livros. Fora da aldeia, a atriz manteve seu interesse pelo tema e realizou palestras, aulas, exposição, contação de histórias, sempre sobre a temática. A amizade e afeto por esse universo fez brotar nela o desejo estético de falar da invisibilidade social indígena e, durante o processo de criação, uma necessidade cada vez mais política.
Por meio de um olhar poético, ético e de resistência, Andreia Duarte, sob direção de Juliana Pautilla, estreia Gavião de Duas Cabeças na sala Renèe Gumiel, na Funarte (Alameda Nothmann, 1058, Santa Cecília, São Paulo). A peça, contemplada pelo edital Cena Aberta, fará temporada de 5 a 10 de julho de 2016 e traz uma voz crítica à questão do genocídio indígena no Brasil atual.
O mito do gavião de duas cabeças é sobre um pássaro que devora o espírito indígena, que sobrevive mesmo depois da morte do corpo. Se o gavião mata o espírito, este é esquecido. Essa metáfora norteia a montagem do espetáculo em que a atriz empresta seu corpo como um documento oral-visual de resistência poética. Em cena, figuras opostas aparecem: uma representante do agronegócio, uma mulher indígena, a atriz questionando a sua própria experiência. O público é chamado a ver-ouvir um genocídio validado por discursos hegemônicos e por leis que infringem os direitos adquiridos dos povos indígenas. Há uma percepção da alteridade: é possível nos colocarmos no lugar do outro?
A peça traz elementos de uma teatralidade contemporânea, unindo performance e teatro, entendendo que o ato estético é, em si, político. A dramaturgia traz um olhar sobre o índio, em seu lugar humano político. Os discursos trabalhados são reais, atuais e sociais que permeiam esse universo no Brasil. De um lado o discurso ruralista, de outro o indígena e ainda o da atriz que viveu ambos os contextos, o urbano e o indígena.
Trata-se de um espetáculo-performance-experiência, autobiográfico, imprescindível para falar de dois encontros necessários na perspectiva da alteridade: tanto o encontro feito pela atriz há 16 anos com os índios Kamayura do alto Xingu, quanto o encontro de agora, com o público, que é sensibilizado a questionar sua posição perante esse tema tão urgente. A partir da voz da atriz, que teve uma experiência real e profunda na aldeia, há uma percepção do público de como ser possível nos colocarmos no lugar do outro. A dramaturgia opta por um olhar atual sobre o índio, em seu lugar humano, político, escapando da imagem do pitoresco e do exótico.
Data: De 05 a 10 de julho de 2016 (terça a domingo), sempre às 20h.
Sala Renèe Gumiel – Complexo da Funarte
Endereço: Alameda Nothmann, 1058. Santa Cecília, São Paulo / Metrô Santa Cecília
Telefone de informações ao público: (11) 3662-5177
Recomendação: 14 anos
Duração: 50 minutos
Entrada gratuita – ingressos retirados com meia hora de antecedência
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