Termina dia 17 de julho a exposição Do arquivo de um correspondente estrangeiro – Fotografias de Luciano Carneiro, com 150 imagens do final da década de 1940 e da década de 1950, período em que o fotojornalista cearense atuou na revista O Cruzeiro. A mostra pretende difundir a visão de um talento ainda pouco conhecido na história da fotografia brasileira e permite um denso recorte do início do moderno fotojornalismo no país.
Luciano Carneiro foi um dos jornalistas mais atuantes de seu tempo. Em uma curta carreira, interrompida por sua morte aos 33 anos em um acidente aéreo, logo se destacou entre os principais nomes de O Cruzeiro. Trabalhou na revista entre 1948 e 1959, inicialmente como repórter e, no ano seguinte, escrevendo e fotografando. Nesse período, a publicação fez uma consistente inflexão em direção a um fotojornalismo mais humanista e engajado. Essa mudança foi concretizada por fotógrafos como José Medeiros, Flávio Damm, Luiz Carlos Barreto, Henri Ballot, Eugênio Silva e o próprio Carneiro, que passaram a integrar a equipe da revista, trazendo para as fotorreportagens maior ênfase na objetividade e no caráter documental e jornalístico.
Graças à enorme estrutura dos Diários Associados, grupo do qual a revista fazia parte, Carneiro pôde fazer séries de reportagens em quatro continentes, incluindo a cobertura da Guerra da Coreia, em 1951, sendo um dos únicos repórteres sul-americanos a cobrir o conflito. Com seu espírito aventureiro e com um brevê de paraquedista que possuía, saltou, ao lado do exército americano, sobre as linhas inimigas durante a guerra.
Carneiro documentou, em 1955, o trabalho humanista do dr. Albert Schweitzer na África – premiado três anos antes com o Nobel da Paz. Acompanhou a entrada de Fidel Castro e seus companheiros vitoriosos em Havana, em janeiro de 1959, e realizou ainda reportagens no Japão, na Rússia e no Egito de Gamal Abdel Nasser, presidente daquele país de 1954 até 1970.
No Brasil, realizou matérias sobre jangadeiros, posseiros, a seca no Nordeste, a herança do cangaço, as lutas estudantis e ainda diversas matérias reunidas na seção “Do arquivo de um correspondente estrangeiro” na revista O Cruzeiro, da qual era titular e onde expressava livremente suas opiniões. Ali, revelava influências da fotografia humanista do pós-guerra praticada por fotógrafos como Henri Cartier-Bresson, Robert Capa, Robert Doisneau e W. Eugene Smith. Era um contraponto à coluna de duas páginas de David Nasser, expoente de uma escola de jornalismo de viés sensacionalista, a qual Carneiro se opunha frontalmente.
Esse conjunto de imagens corresponde integralmente à coleção de originais cedida ao IMS por sua família, em que se destacam as reportagens que realizou no exterior como correspondente da revista.
Além das fotografias originais, serão exibidos materiais de época, como revistas e recortes de matérias. Outro destaque é um vídeo com entrevistas de Luiz Carlos Barreto, Walter Firmo, Evandro Teixeira, Flávio Damm além de dois depoimentos inéditos de Ziraldo e de Luciano Carneiro Filho em que comentam a influência exercida pela geração de fotojornalistas dessa época e analisam, em especial, o trabalho de Carneiro.
Curadoria: de Sergio Burgi e Joanna Balabram
Visitação: de 21 de fevereiro a 17 de julho
Horário: De terça a sexta, das 13h às 19h e Sábados, domingos e feriados (exceto segundas), das 13h às 18h
Instituto Moreira Salles – São Paulo
Endereço: Rua Piauí, 844, 1º andar, Higienópolis
Entrada franca
Classificação livre
Tel.: (11) 3825-2560
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