Em abril a Fundação Clóvis Salgado deu início às exposições dos selecionados no Edital de Ocupação de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado. No dia 15 de Abril o público puderam conhecer os trabalhos de Ricardo Homen (MG), Bete Esteves (RJ) e Marcelo Armani (RS). Os projetos foram escolhidos dentre mais de 230 propostas recebidas pela Fundação entre dezembro de 2015 e fevereiro de 2016.
A iniciativa, já consolidada como um evento de destaque no cenário artístico do estado e do país, busca fomentar a produção artística contemporânea em todo o Brasil. Com trabalhos do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, o edital vê fortalecer sua importância no cenário nacional. “Temos recebido cada vez mais trabalhos de todo o país. Isso é um reflexo da projeção do edital e fortalecimento de um de seus principais objetivos: fomentar a produção e circulação de artes visuais no Brasil”, explica Uiara Azevedo, Gerente de Artes Visuais.
Artistas como Andrea Lanna, Sylvia Amélia, Aretuza Moura, Fernanda Goulart, Inês Linke, Rodrigo Zeferino, Adriano Gomide, Mônica Sartori, Pedro David, Daniel Senise, Laerte Ramos, Marco Paulo Rolla, Raquel Schembri, Dimas Guedes, Coletivo Piolho Nababo, Nydia Negromonte, André Griffo e Adriana Maciel também já tiveram seus trabalhos selecionados em outras edições desse Edital.
Os selecionados contam com apoio da FCS para publicação de catálogo e material educativo, assessoria de imprensa e ajuda de custo para a produção das exposições.
Em 2016 a Fundação Clóvis Salgado promovera ainda, pela primeira vez, as exposições de um edital exclusivo para a fotografia. As exposições contempladas de Luiza Baldan e Nelton Pellenz poderão ser visitadas a partir do dia 28 na Câmera Sete, a Casa da Fotografia de Minas Gerais.
SOBRE AS EXPOSIÇÕES
Entre o Desenho e a Pintura, de Ricardo Homen – Galeria Arlinda Corrêa Lima
Com 38 trabalhos inéditos, feitos com tinta a óleo e grafite para papel, Entre o Desenho e a Pintura, do belo-horizontino Ricardo Homen, explora os limites entre as duas linguagens artísticas. “É uma linha muito tênue e não cabe uma concepção do que é pintura ou o que é desenho. É algo implícito. O momento de produção, a forma como o trabalho é mostrado e a interação com os visitantes são fatores determinantes na apreensão da obra”, explica.
Em sua produção, Ricardo aposta na força dos elementos artísticos, livres de definições objetivas ou questões narrativas. A proposta é que a arte diga por si mesma, de forma simples, direta e orgânica. A intensidade cromática é seu eixo central. As cores escolhidas pelo artista, predominantemente quentes e primárias (azul, vermelho, verde e amarelo), buscam conferir à galeria um ar intimista, criativo e vibrante.
Formas, linhas, frestas, planos, luz, e suas respectivas variações também foram questões exploradas por Ricardo para o desenvolvimento das obras. Para o artista, esses elementos, quando aplicados de diversas maneiras, dão uma sensação de ambiguidade quanto à linguagem artística empregada. “A obra ora se aproxima de um desenho, ora de uma pintura, dependendo do fator acentuado”, explica.
Os trabalhos estão divididos em quatro séries, que vêm sendo produzidas há 5 anos. As séries diferenciam-se pelas dimensões e tamanhos das obras, mas conversam diretamente entre si no âmbito conceitual, através de formas e cores. Além disso, organicidade, vibração, mistura de sensações e tensão com o espaço são noções que permeiam toda a exposição. “É uma mostra simples, afirmativa e direta, mas ao mesmo tempo aberta e livre, da maneira como minha geração foi acostumada a criar”, conta o artista.
O movimento das artes em Minas Gerais deixou heranças e referências para Ricardo. “Tive contato com grandes nomes, como Celso Renato, Amadeo Lorenzato e, especialmente, Amílcar de Castro. Isso foi decisivo para mim. Existem matrizes muito fortes em Minas Gerais que elevaram a arte a um nível de grandeza extremo. Toda essa contribuição é muito importante”, diz Ricardo.
Entre as referências encontradas no trabalho de Homen talvez a simplicidade seja a mais expressiva. O uso predominante de formas geométricas, embora de maneira não-rígida – uma linha torta, um traço mais maleável, é um bom exemplo do emprego do simples nas obras de Ricardo. As formas assumem caráter de construções geométricas, que se articulam em diferentes dimensões, buscando um confronto espacial atraente e provocador para o expectador.
Ricardo Homen, o único mineiro contemplado no edital, destaca ainda a importância de ocupar uma das galerias da Fundação Clóvis Salgado. “O espaço do Palácio das Artes é muito relevante. Estar em um circuito cultural, além do comercial, é de grande importância para um artista. Editais como esse são essenciais”, ressalta. “Todos os trabalhos são inéditos e fazem parte da produção do meu próprio ateliê”, finaliza.
Sobre o artista – Ricardo Homen é um pintor e desenhista, formado em Artes Plásticas pela Escola Guignard. Nascido e criado em Belo Horizonte, aos 17 anos fundou um ateliê em sociedade com seu irmão, ofício que exerce até hoje e que lhe permitiu entrar em contato com nomes de destaque do cenário artístico mineiro. Sua primeira exposição foi em 1986 e, desde então, esteve presente em diversas mostras – individuais e coletivas – em BH e em importantes museus e galerias de cidades como São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Salvador. O período de sua formação, durante os anos 80, foi decisivo para a composição e afirmação de seu estilo, que segue a tendência de artistas como Amílcar de Castro, Celso Renato e Lorenzato: o interesse pela questão da materialidade e a busca pela simplicidade.
TRANS(OBRE)POR#9, de Marcelo Armani – Galeria Mari’Stella Tristão
Inquietação, provocação, o ato pela descoberta e o ideal do “faça você mesmo” moldam o trabalho artístico do gaúcho Marcelo Armani. Uma instalação sonora processual híbrida que reúne cerca de dez fragmentos sonoros e imagéticos de Belo Horizonte. Ao longo de duas semanas, Armani percorreu diferentes lugares da cidade para captar, por meio de equipamentos eletrônicos, a essência desses espaços. Em seu tour, passou por espaços como praças, o Mercado Central e o metrô, por exemplo. Além dos recursos sonoros, o artista utiliza imagens em preto e branco dos locais visitados para criar uma relação afetiva entre o som e a fotografia, que representa o espaço citado de forma não necessariamente explícita.
O nome TRANS(OBRE)POR#9 é uma alusão à forma como o artista define seu processo de criação, ao transpor sons de uma dimensão maior, seja o centro da cidade ou um grande mercado, para um cenário arquitetônico em menor escala. Na galeria Mari’Stella Tristão, a montagem segue a lógica arquitetônica e geográfica de um grande centro urbano, em que ruas, avenidas e alamedas unem toda a cidade, de forma que o expografia se assemelha a um grande mapa, com caminhos e interseções.
Os áudios serão reproduzidos em alto-falantes conectados por cabos vermelhos, que ligam uma instalação à outra, e formam ângulos de 90º, gerando uma série de formas, desenhos e recortes geométricos, semelhantes a representações cartográficas, para abrigar imagens registradas de Belo Horizonte, e criar um diálogo imagético enquanto o fragmento sonoro é reproduzido.
“Esse recurso que eu utilizo na montagem da exposição é uma forma de despertar a curiosidade do público. De longe, as instalações lembram um grande circuito eletrônico, como um chip de computador. De perto, as pessoas passam a ‘ouvir essas imagens’ que eu vou registrar da cidade e criam suas próprias interpretações”, detalha Marcelo. Os áudios também serão manipulados pelo artista. Alguns vão ganhar efeitos sonoros para provocar diferentes sensações no visitante. “Somos direcionados a não ouvir ou a não perceber o som ao nosso redor. A instalação quebra um pouco a dinâmica, porque elas misturam imagens e áudios aleatórios”, diz.
Processo de criação artística – Para a captação dos áudios, o artista utiliza três equipamentos eletrônicos diferentes. Um microfone Shotgun em espaços públicos, como praças e mercados; um microfone de contato que detecta o som derivado de vibrações; e um gravador, para captar conversas dentro do transporte coletivo e em outros locais. Com uma máquina digital, Marcelo faz o registro fotográfico do ambiente, que só acontece quando ele é atraído pelo som do local. “Eu gosto de ouvir a melodia quando todo mundo pensa em barulho. No ônibus, por exemplo, é legal ouvir os sotaques, as conversas. Esses significados sonoros é que me fazem perceber a cidade”, conta.
Mutável de acordo com as experimentações de Marcelo, a obra já foi exposta em São Paulo (SP), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Belém (PA), Juazeiro do Norte (CE), Curitiba (PR) entre outras cidades. Em Belo Horizonte, a instalação terá uma novidade: o artista também vai captar os sons e registrar imagens de sua estada em um apartamento alugado em Santa Efigênia, na região Leste. Essa inserção é inédita na montagem de TRANS(OBRE)POR e foi motivada pela vontade de Armani em compreender melhor sua obra para explorar novas possibilidades criativas. “Essa experimentação serve para me mostrar que não é o artista o criador do trabalho, é o trabalho que está à frente do artista, e ele me transforma, sempre.”, explica Armani.
Sobre o artista – Natural de Carlos Barbosa (RS) Marcelo Armani é artista sonoro e produtor eletroacústico. Desde criança, sempre teve o ouvido apurado para diferentes sons. Da sinfonia em sua cidade natal ao barulho cíclico dos maquinários na indústria metalúrgica onde trabalhou, o artista percebeu que aqueles sons tinham algo a oferecer. Em 2007, ao iniciar suas pesquisas com ruído, novas tecnologias, aproximando-se dos conceitos da música eletroacústica e concreta, a vontade de transformar barulho em arte passou a mover seu trabalho. Em 2011, participou do festival Tsonami Arte Sonoro, na Argentina, e descobriu um potencial vertente para o trabalho artístico. Já participou de residências artísticas, mostras coletivas e individuais, realizando oficinas e conferências no Brasil e no exterior.
SOBRE A… DAS COISAS, de Bete Esteves – Galeria Genesco Murta
Observar o cotidiano, identificar objetos e resignificá-los é a proposta da artista carioca Bete Esteves na exposição SOBRE A… DAS COISAS, inédita em Belo Horizonte. A artista parte da observação contínua de diferentes objetos, para, em seguida, improvisar um outro uso, designar novas funções e induzir devaneios por parte dos visitantes. No total, são quatro instalações que apresentam compostos de máquinas técnicas e artísticas. Além disso serão exibidas séries fotográficas que evidenciam lugares e espaços raramente percebidos pelo olhar humano.
Quem passar pela galeria Genesco Murta vai poder encontrar, por exemplo, uma instalação que é resultado da conexão de uma bicicleta, a uma bateria de carro, a um amplificador e a um circuito elétrico. Apesar de reunir objetos completamente desconexos, os projetos de Bete Esteves seguem critérios: são montados de acordo com a funcionalidade mecânica, elétrica ou eletrônica de cada elemento.
Os trabalhos dessa mostra podem ser percebidos em dois grupos de movimentos: os ‘turbilhonares’, que dizem respeito à rotação, à circulação e à transposição; e os movimentos ‘mágicos’, que, segundo a artista são aqueles que alteram o estado físico dos elementos e apresentam “seres” plenos de vida, conectados a funcionamentos que tiram-no de seu estado natural. São fotografias que transmutam-se quando se aplica, sobre elas, pequenos ‘movimentos mágicos’ e fazem com que criem-se fábulas e aventuras.
Segundo Bete, a proposta é mostrar ao visitante que objetos distintos podem funcionar em harmonia e se adaptar a novos contextos. “É como se os objetos e máquinas se comportassem como seres que se organizam para lidar com circunstâncias que encontram. Podemos pensar que ali também existe um ser vivo, que se autocria em relação ao seus próprios componentes “celulares” e ao local em que se encontram”, detalha a artista.
Trabalho inédito da artista, a videoinstalação Nautilus busca, por exemplo, instigar a relação do visitante com a água. O projeto consiste da animação de caixas d’agua azuis que ganham um recurso de áudio imitando o som do mar. A artista desloca essas caixas das comunidades cariocas e oferece-as na capital como pequenos oceanos para o homem navegar. “Como Belo Horizonte não tem mar, eu imagino que o visitante, ao entrar em contato com o trabalho possa criar o seu próprio mar ao contemplar as de caixas d’água e ouvir o barulho de ondas quebrando”, diz.
Para nomear a exposição, Bete Esteves buscou inspiração no poema didático – composição que tem o objetivo de ensinar algo -, De Rerum Natura (Sobre a Natureza das Coisas, em tradução literal), do poeta e filósofo latino Tito Lucrécio Caro. No texto, Lucrécio argumenta sobre homem rodeado por fenômenos de transformação e dinâmica, baseando-se em reflexões sobre o comportamento físico dos átomos. Segundo a artista, o título de sua exposição também abre espaço para a participação do público.
“As reticências em SOBRE A … DAS COISAS podem indicar, ingenuidade, inocência, elegância, delicadeza. Esses adjetivos são formas de enxergar outras funcionalidades sobre a natureza desse novo objeto, criado a partir da união de materiais que perderam sua função. Por isso, deixo a lacuna para que o visitante possa, ele mesmo, preencher o vazio de acordo com sua imaginação.”, explica a artista.
Fotografia e rascunhos – A exposição também reúne vídeos feitos a partir de fotografias de detalhes da paisagem ou da arquitetura que, normalmente, passam despercebidos aos olhos das pessoas. São imagens de grades de portões, fachadas, postes, telhados e outros elementos que compõem diferentes paisagens e arquiteturas. Segundo a artista, esses registros fotográficos despertam o interesse para novas composições visuais. “É como se colocasse uma lupa em cima daquilo que é capturado pela fotografia e desses pequenos ornamentos pudéssemos perceber o movimento que ele performa. Esse trabalho é um convite para que o visitante se aproxime mais do detalhe, do não perceptivo”, pontua Bete.
A expografia de SOBRE A … DAS COISAS também conta com esboços e desenhos esquemáticos de cada instalação sobre o que seriam, na imaginação da própria artista, a explicação do funcionamento dos objetos criados. “É na observação mais detalhada desses desenhos que é possível perceber a junção dos movimentos turbilhonares e mágicos, um pouco de invencionice e criação mágica”, finaliza Bete Esteves.
Sobre a artista – Bete Esteves é artista, designer e mestre em linguagens visuais. Tem trabalhado com vídeo, fotografia e instalações para explorar a transdisciplinaridade em suas obras e com criação de dispositivos poéticos que unem experiência artesanais, científicas e técnicas, que também é composto por aparatos mecânicos, digitais e tecnológicos.
Período: 15 de abril a 3 de julho
Horário: terça a sábado das 9h30 às 21h; domingo das 16h às 21h
Local: Palácio das Artes, Av. Afonso Pena, 1537 – Centro
Entrada gratuita
Classificação livre
Entre o Desenho e a Pintura, de Ricardo Homen
Galeria Arlinda Corrêa Lima
Sobre a … das coisas, de Bete Esteves
Galeria Genesco Murta
TRANS(OBRE)POR#9, de Marcelo Armani
Galeria Mari’Stella Tristão
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