Modernidades fotográficas, 1940-1964 é a nova exposição de longa duração em cartaz na Galeria Marc Ferrez no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro. A partir de 20 de março, será possível explorar mais de 160 imagens de quatro grandes fotógrafos brasileiros num período crucial para a formação da fotografia moderna no país. Com curadoria de Ludger Derenthal, coordenador da coleção de fotografia da Kunstbibliothek em Berlim, e Samuel Titan Jr., coordenador executivo cultural do IMS, a mostra apresenta do fotojornalismo de José Medeiros (1921-1990) ao modernismo de Marcel Gautherot (1910-1996), da abstração de Thomaz Farkas (1924-2011) à fotografia industrial de Hans Gunter Flieg (1923) – com um país em rápida e contraditória transformação como pano de fundo. No dia 19 de março, às 17h, por ocasião da abertura, acontecerá uma visita guiada com Samuel Titan Jr.
Em outubro de 2013, a exposição Modernidades fotográficas, 1940-1964 iniciou sua itinerância pelo Museum für Fotografie, em Berlim, depois seguiu para a Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e em seguida para a Fondation Calouste Gulbenkian, em Paris. Por fim, foi exibida no fim do ano passado no Círculo de Belas-Artes de Madri. Acompanha a mostra um catálogo com dois ensaios de Samuel Titan Jr. e textos de Lorenzo Mammì, curador geral de programação e eventos do IMS, Sergio Burgi, coordenador de fotografia do IMS, e Helouise Costa, curadora do Museu de Arte contemporânea (MAC USP).
Em um período de grande fluxo migratório, a origem dos quatro fotógrafos não poderia ser mais distinta. Gautherot era parisiense, de origem operária, com formação em arquitetura e com a vida mais nômade entre eles. Simpático à esquerda, tinha especial interesse pelo processo de formação de uma identidade nacional e colaborou com diversas iniciativas e órgãos do Estado brasileiro. Flieg, judeu alemão que fugiu do nazismo e da guerra, foi o único a estabelecer um estúdio fotográfico e prestou serviço para clientes quase sempre industriais, criando para si uma imagem de fotógrafo profissional. Medeiros, brasileiro do Piauí, estado podre e sem tradições artísticas, foi o fotojornalista por excelência, aprendendo o ofício no dia a dia das redações do Rio de Janeiro, onde se estabeleceu. Farkas nasceu em Budapeste, em uma família de comerciantes judeus de material fotográfico, se interessou bastante jovem pela fotografia como linguagem e se tornou o mais “artista”, o mais “vanguardista” do grupo.
Essa riqueza cultural resultou em uma exposição de grande variedade formal e estilística, mas também de enorme riqueza como registro documental de um país vasto e plural. Os temas são os mais variados: paisagens intocadas na Amazônia, fábricas e usinas, religiões africanas, futebol e carnaval, estátuas e igrejas barrocas, ferramentas mecânicas, festejos populares no campo, glamour mundano e cosmopolita nas cidades, tribos indígenas no Centro-Oeste, edifícios modernistas em São Paulo e no Rio de Janeiro, além, claro, da construção da capital do país.
A partir de 1940, quando se fixa definitivamente no Brasil, Gautherot empenhou-se em registrar e conhecer o país que adotou, viajando muito, especialmente para o Norte e o Nordeste. Logo de início, foi trabalhar junto com o Serviço do Patrimônio Histórico, registrando monumentos do período colonial, especialmente a arquitetura barroca e a obra do Aleijadinho em Minas Gerais. Nessa mesma época, tornou-se o fotógrafo preferido de Oscar Niemeyer, fotografando suas criações, e teve amplo acesso à construção de Brasília, onde registrou os três anos de obras da cidade. Sua convivência e amizade com intelectuais ligados ao movimento modernista dos anos 1920 o levaram a documentar também as festas populares brasileiras.
Para entender a obra de Medeiros, é preciso considerá-la dentro do universo da imprensa. Sua linguagem fotográfica se estabeleceu no diálogo entre o fotojornalismo e as grandes revistas ilustradas que existiam nas décadas de 1940 e 1950, sendo a revista O Cruzeiro o melhor exemplo brasileiro, onde trabalhou por 15 anos. Suas coberturas fotográficas iam da vida glamurosa do Rio de Janeiro, com seus personagens deixando-se fotografar, ao rito de iniciação do candomblé na Bahia. Documentou também a Marcha para o Oeste, programa estatal de ocupação e consolidação de territórios, do qual a construção de Brasília foi parte fundamental.
Farkas ganhou sua primeira câmera aos oito anos de idade e explorou a região onde morava, registrando a passagem de um Zeppelin, em 1936, e a inauguração do estádio do Pacaembu, em 1940. Mas só dois anos mais tarde deu seu passo decisivo para se tornar fotógrafo, ao ingressar no Foto Cine Clube Bandeirantes, onde se encontravam nomes como Geraldo de Barros e German Lorca. Ali, se interessou por uma ideia de gramática visual pura, flertando eventualmente com a abstração. Nos anos seguintes, sua amizade com Medeiros o levou a se aproximar de uma fotografia mais humanista, mas nunca esquecendo suas primeiras referências. A partir desse momento, iniciou sua passagem gradual para o cinema documental e surgiu então a Caravana Farkas, responsável por uma série de filmes documentários de curta e média-metragem, a maioria em 16 mm, que tinham o propósito de apresentar ao Brasil facetas pouco conhecidas do país.
Flieg chegou ao Brasil em 1939 com algum conhecimento em fotografia, por ter trabalhado, ainda em Berlim, com a fotógrafa Grete Karplus, além de algum conhecimento das vertentes da fotografia contemporânea alemã, como a Bauhaus e o movimento Neue Sachlichkeit (Nova Visão). Com essa bagagem, instalou-se em São Paulo e abriu seu estúdio, construindo uma imagem de excelência profissional. Durante três décadas, acumulou um arquivo de imagens que documenta como poucos o processo de industrialização do Brasil, especialmente da cidade que escolheu viver. Atendeu clientes como Pirelli, Mercedes-Benz e Willys-Overland, além de ter fotografado grandes projetos de engenharia. Seus trabalhos normalmente eram encomendas para campanhas publicitárias ou para relatórios e brochuras institucionais.
Curadoria: Ludger Derenthal e Samuel Titan Jr.
Abertura: 19 de março, às 17h. Neste horário acontecerá uma visita guiada com o curador Samuel Titan Jr.
Horário: De terça a domingo, das 11h às 20h
Visitação: de 20 de março de 2016 a 26 de fevereiro de 2017
Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro
Endereço: Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
Entrada franca – Classificação livre
Tel.: (21) 3284-7400/ (21) 3206-2500
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