Da autossabotagem à sensatez, Nem Vamos Tocar Nesse Assunto, segundo álbum da Banda Gentileza, não só toca como afunda o dedo em feridas abertas e lugares-comuns.
Seis anos desde o disco de estreia, e após sofrer algumas mudanças de formação, o agora quarteto rearranjou a proposta sonora, mas manteve a estranheza pop. Com duas guitarras, baixo, bateria e alguns tecladinhos incidentais, o grupo voltou a atenção para músicas mais diretas e passou a dar bola para coros, presentes em praticamente todas faixas do novo trabalho.
É, sem dúvida, uma obra para cantar junto, que ganha os palcos de São Paulo no dia 4 de setembro (sexta), às 21h, no teatro do Sesc Ipiranga.
Frutos de um ano de ensaios e composições, os títulos são temperados pela variedade, sem excessos de instrumentação, e contam com produção da dupla Gustavo Lenza e Zé Nigro — responsáveis por álbuns, juntos ou separados, de artistas como Céu, Apanhador Só e Curumin. Em pouco mais de 30 minutos, Nem Vamos Tocar Nesse Assunto funde rock experimental, spoken-word, punk cigano e noise. Pesado, frenético e dançante, impressiona pela exuberância eclética.
As letras ainda são grandes atrativos da banda. O tema de abertura, apenas com piano e vozes, mostra a que veio: “Eu sempre quis (…) escrever novos clássicos do sofrer/ Exaltando a idoneidade daquele que se iludiu/ Onde é que já se viu alguém escrever bem/ Sem romper o amor que estava por um fio?”.
O desamor segue em frente nas canções do vocalista Heitor Humberto. Na distorcida “Espiões“, por exemplo, ele crava: “De todos os meus deslizes, você só soube do menor”. A mesma música termina com o golpe final “o teu perdão não justifica o meu”. “Por Onde Anda” persegue aquela pessoa de espírito livre, que proporciona bons momentos, mas some por tempo indeterminado e reaparece quando você já se habituou à ausência.
“Casa“, primeiro clipe e single, conta dramas de novos arranjos familiares em uma árvore genealógica sem sentido. O refrão apoteótico já animava os shows da Gentileza antes mesmo de ser registrado em estúdio. A loucura segue em “Chorume“, que junta Santana e afrobeat no mesmo pacote. A letra curta manifesta desprezo em rimas e aliterações — “o perfume do teu choro tem o cheiro do chorume”. “Por Mais Que Fosse Pouco” é quase um épico: cheia de trocadilhos, flerta até mesmo com música oriental.
Entre as participações especiais do disco estão Lauro Ribeiro (trombone) e Marc Olaf (piano, teclado e flauta transversa), do sexteto Trombone de Frutas, bem como Hudson Muller (saxofone e trompete), o percussionista Maurício Badé (Criolo) e o produtor Zé Nigro (teclas e percussão).
A mixagem ficou a cargo de Gustavo Lenza e a masterização nas mãos de Felipe Tichauer em seu estúdio em Miami, nos Estados Unidos. As gravações se dividiram entre Curitiba (Nico’s Studio) e São Paulo (Estúdio Navegantes), de janeiro a abril deste ano.
Sem compromisso com a tradição
A Banda Gentileza é hoje um dos principais artistas da música autoral independente do Paraná. Com dez anos de estrada, as ideias e invenções estão em todos os processos pelos quais passa a obra do grupo.
Nas composições, já misturou valsa com música balcânica e samba com bolero. Na divulgação, vendeu disco que vinha com raspadinha da loteria, produziu vídeo aula de coreografia seguido de concurso de dança nos shows e até criou um game para Facebook em que os integrantes eram personagens em 16 bit — a trilha, o single “Quem Me Dera“, cujo videoclipe inspirou o jogo.
Entre o primeiro álbum, homônimo, de 2009, e o novo trabalho, alguns bons anos se passaram. Nesse tempo, eles circularam pelo Brasil, viram seu disco ser apontado como um dos melhores lançamentos nacionais daquele ano e tiveram uma música, “Afinal de Contas“, incluída na trilha sonora da novela Malhação e no filme “Julio Sumiu”, longa metragem estrelado por Lilia Cabral. Explosiva nos palcos, foi eleita duas vezes como a responsável pelo melhor show da cidade natal, em votação realizada com jornalistas, blogueiros e produtores.
É formada por Bruno Castilho (bateria, percussão e vozes), Diego Perin (baixo e vozes), Heitor Humberto (vozes, guitarra, violão e violino) e Jota Borgonhoni (guitarra, viola caipira, piano, teclado e vozes).
Data: Sexta, 4 de setembro, às 21h
Sesc Ipiranga
Endereço: Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga
Ingressos: R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia) e R$ 6 (credencial plena).
Capacidade: 213 lugares.
Censura: Livre.
Telefone: (11) 3340-2000
Site: www.sescsp.org.br
*As informações são de responsabilidade de seus organizadores e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio.