O Instituto Moreira Salles lança mais um título em sua coleção de DVDs: Iracema, uma transa amazônica (1974), de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, um clássico do cinema brasileiro. O DVD será lançado no dia 19 de abril no IMS do Rio de Janeiro e no dia 15 de abril na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, dentro do festival É Tudo Verdade.
Realizado em 1974 para a ZDF, emissora de TV alemã, Iracema, uma transa amazônica retrata uma viagem da inocência à desintegração, da comunidade indígena mais isolada à periferia das grandes cidades. A jovem Iracema, vivida por Edna de Cássia, lança-se na vida pela estrada de carona no caminhão de Tião Brasil Grande, personagem de Paulo César Pereio. O filme, que ficou proibido pela censura no Brasil durante seis anos, ganhou nesse período prêmios em festivais internacionais. Quando liberado no país, em 1980, foi escolhido como melhor filme do Festival de Brasília.
O filme se destaca pela convivência da ficção com o registro documental. Segundo o escritor Antonio Callado, que assina um dos textos do livreto que acompanha o DVD, o filme é um “documentário apenas romanceado”. Mesmo que esse recurso não seja propriamente uma novidade no mundo do cinema, o filme subverte as regras quando combina uma encenação provocadora ao caráter disciplinado do registro documental, como afirma o crítico Ismail Xavier em outro dos textos do livreto. Para ele, Iracema, uma transa amazônica “instala a heterogeneidade em cada cena” e, ao abrigar a mistura entre invasor e invadido numa interação exposta, cria uma solução original que o transforma em obra-prima. Sua força não está no método, na direção, no ator ou no tema, isoladamente, mas na convergência de todos esses elementos.”
Além do filme, o DVD traz os extras Era uma vez Iracema, de Jorge Bodanzky (45 min.), feito em 2006 em parceria com a Videofilmes, de que participam profissionais que atuaram no filme de 1974 e admiradores da obra; e o inédito e exclusivo Ainda uma vez Iracema, também de Jorge Bodanzky (11 min.), filmado em 2014 com o apoio do IMS, em que o diretor volta a Belém para apurar o estado da prostituição nos locais onde o filme foi feito; uma faixa com o filme comentado por Jorge Bodanzky, Eduardo Escorel e João Moreira Salles; e o livreto com os textos “Sem dentes e sem árvores”, de Antonio Callado, publicado na revista Isto É, em janeiro de 1979, antes de o filme ser liberado pela censura, e “O cinema verdade vai ao teatro. Palco: Transamazônica”, de Ismail Xavier, publicado em Filme e Cultura, periódico da Embrafilme, edição de janeiro/março de 1981.