Chama-se “Canto” o terceiro álbum da cantora e compositora Carminho e chega ao Brasil fruto da parceria MP.B Discos, Pirilampo e Som Livre. Não é o primeiro álbum internacional, mas o terceiro e importantíssimo passo na carreira da intérprete portuguesa, uma das mais notáveis representantes da nova geração do fado.
Foi com o lançamento do segundo álbum que Carminho conquistou o Brasil. Desde então, esteve por aqui em vários concertos com lotação esgotada e encantou a platéia seleta do Theatro Municipal do Rio de Janeiro no Prêmio da Música Brasileira. Sua interpretação para “Sabiá” (Tom Jobim /Chico Buarque) fez Caetano Veloso chamá-la de “um breve milagre”. Chico Buarque, Milton Nascimento e Nana Caymmi quiseram gravar (e gravaram) com ela, aumentando o leque de admiradores brasileiros ilustres que Carminho já coleciona.
O fado, que parece renascer na voz de Carminho, continua a ser o norte do novo trabalho, no qual também ouvimos ecos dos saraus musicais dos quais participou por aqui. “Na verdade, este disco foi nascendo das viagens que eu tenho feito e da maturidade que vou conseguindo com elas, das coisas que vou aprendendo. Quanto mais viajo mais percebo quem sou, do que gosto, esta necessidade e vontade de preservar a minha identidade”, define.
A relação cada vez mais estreita com o Brasil se reflete no elenco de músicos convidados e em duas canções inéditas do disco. “Primeiro que tudo, aprendi liberdade com o Brasil. De espírito, de expressão. Foi também o Brasil que me ajudou a dar mais voz às minhas composições: elas já existiam, mas eu não tinha a liberdade. Deu-me uma perspectiva de longe, de alguém que tem a mesma língua”, conta Carminho.
A inédita “O Sol, tu e eu” Carminho conheceu na casa de Marisa Monte, quando Cesar Mendes, músico e um dos autores da canção, tocou o tema que havia composto uma semana antes com Caetano e o filho, Tom Veloso. “Tive pudor de dizer que queria ficar com a música, mas tomei coragem e mandei um e-mail ao Caetano Veloso, dizendo que gostava muito de canta-la no meu disco. Ele me disse: ´Claro que sim, a música é sua, tenho todo o prazer, vai ficar tão bonito’”, conta.
Foi também na casa de Marisa que Carminho ouviu “A chuva no mar”. “Cantamos muitas canções e quando chegamos a esta, começamos a criar vozes sobrepostas, hamonizações… Marisa tinha dito que a canção nos escolheria e foi assim mesmo. Para mim foi uma dádiva e eu sinto que serão um marco em minha vida essas duas canções que me foram oferecidas para que eu fosse mais feliz”, conclui.
“Canto” reúne ainda duas canções compostas por Carminho e temas de Miguel Araújo (“Ventura”), Fado Menor do Porto (“A Ponte”), Fernando Pessoa (“Na Ribeira deste Rio”) e Alberto Janes (“Destino”), entre outros. Um canto que, como canção de marinheiros que o Fado também é, se alimenta do mundo para moldar uma alma profundamente portuguesa – uma alma para a qual a voz de Carminho é, hoje e sempre, cada vez mais, a perfeita tradução em palavras e sons.