Diversidade do cinema árabe é tema da ‘Mostra de Cinema Árabe Feminino’ no CCBB-RJ

Retratar a diversidade do cinema árabe através de uma seleção de mais de 30 obras cinematográficas dirigidas por mulheres é o objetivo da Mostra de Cinema Árabe Feminino, que acontece entre os dias 7 e 25 de março no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro. O filme de abertura será o longa-metragem inédito no país Os Afortunados (The Blessed), da premiada diretora argelina Sofia Djama – que vem ao Brasil especialmente para o evento.

Ao longo de 17 dias, questões políticas e sociais vão permear as produções de realizadoras árabes contemporâneas em uma programação que inclui ainda debates, mesas redondas e uma masterclass de roteiro com Sofia Djama. Formada em literatura pela Universidade de Argel, a cineasta também participa de uma conversa pública após a exibição de seu filme.  

São 13 longas-metragens, sendo oito inéditos, e 24 curtas, somando 37 produções de mais de 10 países: Arábia Saudita, Argélia, Egito, Iêmen, Jordânia, Líbano, Líbia, Marrocos, Palestina, Qatar, Síria e Tunísia. O projeto é uma realização da Partisane Filmes, patrocinada pelo Banco do Brasil através da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), com entrada franca para todas as sessões.

Temas diversos como conflitos familiares, relacionamentos, amizade, autoconhecimento, feminino e LGBT são pano de fundo para abordar o contexto histórico atual da região, que conta com diferentes realidades: desde o Egito e o Líbano, que sempre fomentaram a criação artística – seja com recursos públicos ou com recursos privados -, até a Arábia Saudita, onde ainda é proibido abrir salas de cinema.

A curadoria de Ana França e Analu Bambirra contemplou filmes de gêneros variados como ficção, documentários, experimentais. “Não pretendemos apresentar uma única resposta sobre o que é ser mulher árabe, e sim discutir as várias possibilidades ao fazer um recorte dentro das produções lançadas a partir dos anos 2000. A maioria dos filmes selecionados não foram lançados comercialmente no Brasil”, explica Analu Bambirra.

O filme de abertura será o longa-metragem inédito no Brasil Os Afortunados (The Blessed), da diretora argelina Sofia Djama. O filme ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza de 2017, pela atuação de Lyna Khoudri, e o prêmio de Melhor Direção no Festival de Dubai.

Outros sete longas inéditos estão entre os selecionados: Uma Substância Mágica Flui em Mim (A Magical Substance Flows Into Me), dirigido pela palestina Jumana Manna, cuja estreia mundial ocorreu na sessão Forum do Festival de Berlim em 2016. O filme parte de uma gravação do musicólogo Robert Lachmann, que leva a uma viagem que retrata a cultura musical palestina; Além da Sombra (Upon the Shadow), é sobre a questão LGBTQ na Tunísia, da diretora Nada Mezni Hafaiedh, vencedor do Tanit de Bronze no Festival Internacional de Carthage e exibido no festival Queer Lisboa; Arij – Cheiro de Revolução (Arij – Scent of Revolution), de Viola Shafik, que também teve estreia mundial na sessão Forum do Festival de Berlim e levanta questões sobre o período pós-Primavera Árabe no Egito; Pássaros de Setembro (Birds of September), primeiro longa-metragem da libanesa Sarah Francis, mostra um retrato íntimo da população de Beirute e foi exibido nos festivais CPH:DOX, FIDADOC Agadir e Art of the Real; Campos da Liberdade (Freedom Fields), filme líbio dirigido por Naziha Arebi, teve estreia mundial no Festival de Toronto e foi exibido no Festival de Londres e no IDFA, sobre o primeiro time de futebol feminino nacional do país; O Disco Quebrado (Broken Record) foi realizado no Iraque por Parine Jaddo e exibido no festival DOK Leipzig, que mostra o percurso da diretora em busca da letra de uma música iraquiana que a mãe cantava na sua infância; e Eu Dançarei Se Eu Quiser (In Between), filme polêmico da diretora árabe-israelense Maysaloun Hamoud, que foi lançado no Festival de San Sebastian e conta sobre a vida e as relações de três mulheres árabes em Tel Aviv: uma advogada criminalista muçulmana secular burguesa, uma DJ lésbica de família cristã liberal e uma garota muçulmana devota que se tornam colegas de quarto.

Na programação haverá debates após três exibições. Campos da Liberdade, com a roteirista e produtora Erica Reis; Trilogia Sci-Fi, com a realizadora cinematográfica Jo Serfaty e Eu Dançarei Se Eu Quiser com Gisele Fonseca Chagas da NEOM/UFF.

Também serão exibidos 24 curtas-metragens, sendo 19 estreias. As exibições estão divididas em seis sessões, que trazem títulos como Eu Tenho te Observado o Tempo Todo (I have been watching you all along), primeiro filme da diretora Rawda Al-Thani e realizado no Qatar; Três Centímetros, dirigido pela libanesa Lara Zeidan, premiado com o Teddy Award de Melhor Curta-metragem do Festival de Berlim; Povo da Terra de Ninguém (People of the Wasteland), da diretora síria Heba Khaled, no qual ela tem acesso a imagens de GoPro realizadas por soldados sírios no front da guerra; Terreno Baldio (Terrain Vague), da argelina Latifa Said, que percorreu mais de 80 festivais em 37 países e ganhou mais de 20 prêmios; e Memória da Terra (Memory of the Land), da diretora palestino-espanhola Samira Badran, único filme de animação exibido na mostra.

Na mostra, está também a Trilogia Sci-fi, da diretora palestina Larissa Sansour, que abordam assuntos relevantes ao povo palestino: Um Êxodo Espacial (A Space Exodus), no qual a diretora recria a icônica cena do homem chegando à lua, utilizando referências do filme “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick; Patrimônio Nacional (Nation Estate), que propõe uma solução para a questão palestina: um arranha-céu que abriga toda a população e seus territórios; e No Futuro eles Comiam da Melhor Porcelana (In the future they ate from the finest porcelain) sobre uma intervenção história criada por um grupo de resistência. Destes, apenas o último foi exibido no Brasil.

Duas mesas redondas também fazem parte da programação: “O mundo árabe no feminino: religião, nação e feminismos”, com a presença de Elzahra Osman (Inep/UnB), Gisele Fonseca Chagas (NEOM/UFF) e Houda B. Bakour (NEOM/UFF); e “Corpos-ficções palestinos: pensamentos fílmicos a partir de uma geografia violentada” formada por Tatiana Carvalho Costa Centro Universitário UNA / CORAGEM-UFMG), Carol Almeida (PPGCOM / UFPE), e Fernando Resende (PPGCOM / UFF).

SOBRE O CCBB

Inaugurado em 12 de outubro de 1989, o Centro Cultural Banco do Brasil celebra 30 anos de atuação com mais de 50 milhões de visitas. Instalado em um edifício histórico, projetado pelo arquiteto do Império, Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, o CCBB é um marco da revitalização do centro histórico da cidade e mantém uma programação plural, regular, acessível e de qualidade. Mais de três mil projetos já foram oferecidos ao público nas áreas de artes visuais, cinema, teatro, dança, música e pensamento. Desde 2011, o CCBB incluiu o Brasil no ranking anual do jornal britânico The Art Newspaper, projetando o Rio entre as cidades com as mostras de arte mais visitadas do mundo. Agente fomentador da arte e da cultura brasileira, segue em compromisso permanente com a formação de plateias, incentivando o público a prestigiar o novo e promovendo, também, nomes da arte mundial.

SERVIÇO

07 a 25/03/2019

Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB-RJ (Rua Primeiro de Março, 66 | Centro, RJ) Tel. (21) 3808-2020

LISTA DE FILMES SELECIONADOS

Longas-Metragens

Além da Sombra (Upon the Shadow) – Nada Mezni Hafaiedh (Estreia)
Aqueles que Restam (Those who Remain) – Eliane Raheb
Arij – Cheiro de Revolução (Arij – Scent of Revolution) – Viola Shafik (Estreia)
Pássaros de Setembro (Birds of September) – Sarah Francis (Estreia)
Campos da Liberdade (Freedom Fields) – Naziha Arebi (Estreia)
Eu Dançarei Se Eu Quiser (In Between) – Maysaloun Hamoud (Estreia)
Malditos Feijões (Bloody Beans) – Narimane Mari
Meu Tecido Preferido (My Favorite Fabric) – Gaya Jiji
O Disco Quebrado (Broken Record) – Parine Jaddo (Estreia)
O Sal desse Mar (Salt of this sea) – Annemarie Jacir
Os Afortunados (The Blessed) – Sofia Djama (Estreia)
Ouroboros – Basma Alsharif
Uma Substância Mágica Flui em Mim (A magical substance flows into me) – Jumana Manna (Estreia)

SESSÃO DE CURTAS 01

Seu Pai Nasceu com 100 Anos, Assim Como a Nakba (Your father was born 100 years old and so was the Nakba) – Razan AlSalah (Estreia)

O Regime da Bondade (The goodness regime) – Jumana Manna e Sille Storihle (Estreia)

Um Retrato Dos Costumes (A Última Mascarada De Alfred Roch) / A sketch of manners (Alfred Roch’s Last Masquerade) – Jumana Manna (Estreia)

Memória da Terra (Memory of the Land) – Samira Badran (Estreia)

SESSÃO DE CURTAS 02

Eu Tenho Te Observado O Tempo Todo (I have been watching you all along) – Rawda Al-Thani (Estreia)

Três Centímetros (Three Centimetres) – Lara Zeidan

Cloch’art – Manel Katri (Estreia)

Hajwalah – Rana Jarbou (Estreia)

O Parque (The Park) – Randa Maroufi

SESSÃO DE CURTAS 03

Rompimento (Rupture) – Yassmina Karajah (Estreia)

Pirulito (Lollipop) – Hanaa Saleh AlFassi (Estreia)

Aya – Moufida Fedhila

SESSÃO DE CURTAS 04

Aqui Tu Estás (Here you are) – Tyma Hezam (Estreia)

Atrás do Mar (Behind the Sea) – Leïla Saadna (Estreia)

Um Minuto (One Minute) – Dina Naser (Estreia)

O Último Encontro (The Last Date) – Sarah Sari (Estreia)

O Povo da Terra De Ninguém (People of the wasteland) – Heba Khaled (Estreia)

SESSÃO DE CURTAS 05

Um Êxodo Espacial (A space exodus) – Larissa Sansour (Estreia)

Patrimônio Nacional (Nation Estate) – Larissa Sansour (Estreia)

No Futuro Comerão da Melhor Porcelana (In the future they ate from the finest porcelain) – Larissa Sansour

SESSÃO DE CURTAS 06

Tahiti – Latifa Said (Estreia)

À Sombra das Palavras (À l’ombre des mots) – Amel Blidi (Estreia)

Eu Estou Aqui (Je suis là) – Farah Abada (Estreia)

Terreno Baldio (Wasteland) – Latifa Said

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