Com estreia apontada para o dia 17 de agosto, ÚLTIMOS DIAS EM HAVANA é definido pelo diretor como um drama alegre. Com première mundial no Festival de Berlim desse ano, o filme é essencialmente sobre a amizade, tendo a cidade de Havana como pano de fundo. Também é um filme sobre como sobreviver à precariedade material de maneira positiva.
Patricio Wood interpreta Miguel, um morto vivo que, mesmo tendo saúde para se movimentar, está paralisado e prisioneiro de si próprio. Nunca converte seus desejos em ações. É uma espécie de anti-herói. Ajuda e cuida do amigo doente, mas é incapaz de expressar emoções. É nobre, mas está ferido e o espectador não sabe a razão.
Jorge Martínez interpreta Diego, um moribundo cheio de vida e bom humor. Embora imobilizado sobre uma cama, o personagem se move o tempo todo: na imaginação, na atitude, no pensamento. Apesar da doença, quer continuar disfrutando dos prazeres da vida. Essa alegria de viver, mesmo na precariedade, é o que lhe dá energia para seguir.
Mistura de Morango e Chocolate com Suíte Havana
Em Últimos Días em Havana, Fernando Pérez presta uma homenagem a Morango e Chocolate, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1993 e dirigido por Tomás Gutiérrez Alea (Titón), Pérez chama seu protagonista homossexual de Diego, mesmo nome do personagem representado por Jorge Perugorría em 1993.
Diego está carcomido pela AIDS e passa seus dias sobre uma cama, em um apartamento sem água e em ruínas, sua única posse. A seu lado está Miguel, outro quarentão que parece não se afetar com o mundo que o rodeia: para pagar as contas de ambos, lava pratos num restaurante enquanto espera a chegada do visto para emigrar para os Estados Unidos.
“É e não é uma continuação. Faço uma homenagem a Titón, com quem comecei minha carreira em 1972, mas também retomo certos personagens de Suite Habana (2003), 15 anos depois. O filme é uma mistura desses dois filmes.
Em relação a esse último, o diretor diz: “São filmes próximos. É o mesmo contexto, mas os personagens expressam atitudes distintas porque a realidade mudou muito e as condições de precariedade e sobrevivência pioraram de 15 anos para cá. É nessa parte mais popular da cidade que se pode medir a temperatura da sociedade cubana hoje. Sempre que posso, retrato ela em meus filmes”.
Retrato de uma Havana sem Fidel
Desde que filmou seu aclamado documentário Suite Habana em 2003 onde imortalizou um dia qualquer na vida de cubanos comuns, sem entrevistas, sem diálogos ou narração apenas imagens, sons e música Cuba mudou muito. Há cada vez mais desigualdades, afirma o diretor.
Os valores começaram a se relativizar. Agora vemos personagens com atitudes condenáveis do ponto de vista ético, mas não quero julgá-los. Quero que o espectador se pergunte por que eles atuam assim. Grande parte da sociedade cubana está mais interessada em resolver seus problemas diários, do que com os compromissos macros da sociedade.
A mudança mais urgente em Cuba neste momento é a necessidade de dinamizar a economia. Não quero que se percam os valores da Revolução de 1959, como a educação e saúde gratuita para todos e em igualdade de condições para uma sociedade mais justa e equilibrada. O problema é que isso ficou no plano ideal, na prática continua existindo desigualdade. Gutiérrez Alea foi quem melhor se expressou a esse respeito: a Revolução Cubana é um roteiro perfeito, mas com uma realização cheia de imperfeições.