Estreia no dia 31 de março de 2017 a nova produção d’A Próxima Companhia, o espetáculo “Quarança”, no espaço cultural próprio da cia. teatral, na zona oeste de São Paulo. O espetáculo, fruto de uma parceria com a Unaluna – Pesquisa e Criação, propõe uma reflexão sobre a violência contra a mulher.
A palavra “quarança” vem do verbo “quarar a roupa”, do regionalismo brasileiro, que significa clarear a roupa pela exposição à luz do sol. Da mesma forma, o espetáculo “Quarança” expõe à luz do teatro questões referentes à opressão feminina em nossa sociedade, tais como o estupro, o feminicídio, a pedofilia e o controle do macho sobre a mulher, seja ela criança, adulta ou idosa. Tais questões são estendidas à luz de “Quarança”.
“Quarança” é uma fábula dramatúrgica que conta a história de Alereda, uma cidade fictícia onde o sol é insistente e a terra, esturricada. Alereda é feita de caminhos estreitos, uma trama de vida e morte. Ocupada por um exército de jagunços, liderados pelo temido Sô Déo, o lugarejo tem suas mulheres violentadas, mortas e, uma a uma, quaradas ao sol, veladas sem lua, extintas, carbonizando o chão.
Neste contexto surge a guerreira Rosa Ararim, que se posiciona contra este estado falocêntrico de opressão. Luciana Lyra assina dramaturgia, encenação e direção e a peça traz à cena as atrizes Juliana Oliveira e Paula Praia, d’A Próxima Companhia e a atriz convidada Lívia Lisbôa.
O processo de pesquisa da companhia iniciou-se em 2014, mesclando vivências pessoais das atrizes-criadoras e da diretora com referências externas, como filmes, livros, artigos, espetáculos, palestras, documentários etc. Uma das ferramentas que a companhia utilizou para aproximar os mitos pesquisados da realidade vivida foi o levantamento de depoimentos de mulheres comuns. Relatos de familiares e amigas, histórias de notícias de jornal, fábulas urbanas etc.
“A partir de nossas experiências pessoais, queremos ampliar o debate sobre a opressão contra as mulheres. E não pretendemos trazer uma versão da mulher somente como vítima, e sim, como ser histórico – sujeito e objeto destas situações -, trazendo à tona histórias de mulheres comuns, afinal, o universo pessoal também é político”, conta a atriz-criadora d’A Próxima Companhia Juliana Oliveira.
Entre os filmes assistidos, um em especial chamou a atenção da companhia: o documentário sobre a vida de Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, conhecida como o “Anjo de Hamburgo”, uma figura praticamente desconhecida. Uma mulher como outra qualquer (divorciada do primeiro marido, com um filho, que trabalhou para sobreviver, que escrevia diários e mandava cartas de amor), mas que teve feitos heroicos. Poliglota brasileira que prestou serviços ao Itamaraty na Alemanha nazista, Aracy teve um importante papel ao livrar da morte aproximadamente uma centena de judeus, concedendo-lhes vistos para o Brasil.
Segunda esposa do escritor João Guimarães Rosa, há uma hipótese de que a personagem ícone de Grande Sertão: Veredas (obra que o autor dedica à Aracy), a guerreira Diadorim, tenha sido inspirada em Aracy, fato que também serviu de inspiração ao coletivo feminino criador de “Quarança”.
“Em pleno século XXI, basta abrir o jornal para vermos ainda hoje meninas de 10 anos (ou menos) sendo obrigadas a casar por acertos de suas famílias, desigualdade gritante de salários, estupros e culpabilização das vítimas, mortes por abortos clandestinos, a obrigatoriedade de abrir mão de sonhos para ser uma ‘esposa perfeita’ ou mãe muito jovem, violência física, moral e verbal. A sociedade em que vivemos ainda acha bastante indigesto ser comandada por uma mulher, seja no plano familiar, empresarial ou político”, conta a atriz Paula Praia.
“Estes fatos que nos assolam todos os dias se tornaram um caldeirão muito rico de material para nos posicionarmos política e artisticamente. Estas histórias perpassam nossas vidas também, embora não tenhamos sido as protagonistas de todas elas. Quando percebemos isso, ficou impossível não nos posicionarmos. Nós três, atrizes d’A Próxima Companhia, escolhemos o teatro para este posicionamento. Ou melhor, temos a obrigação de fazê-lo”, conclui.
Além das apresentações no Espaço Cultural A Próxima Companhia até 21 de maio, “Quarança” também vai circular por diversos espaços culturais independentes da cidade de São Paulo. O projeto, aprovado pelo Prêmio Zé Renato 2016 – 4ª edição, é uma parceria entre A Próxima Companhia e a Unaluna – Pesquisa e Criação.
d’A Próxima Companhia
Estreia: 31 de março de 2017
Temporada de 1º de abril a 21 de maio, sextas e sábados, às 21h; domingos, às 19h.
Classificação etária: 14 anos
Duração: 90 minutos
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) R$ 10,00 (meia)
ESPAÇO CULTURAL A PRÓXIMA COMPANHIA
Endereço: Rua Barão de Campinas, 529, Campos Elíseos, Próximo à Estação Santa Cecília do Metrô.
Capacidade do espaço: 60 lugares
Classificação etária: 14 anos
Tel.: (11) 3331-0653
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