Estreia dia 2 de março de 2017, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, em São Paulo, a mais nova obra da Kiwi Companhia de Teatro: Material Bond, uma peça que discute os desequilíbrios das sociedades contemporâneas, traz para a cena a realidade brasileira, a brutalidade da ação policial e a criminalização dos movimentos sociais, sintomas da injustiça social, da violência de Estado e os processos de desumanização, moeda corrente nos dias atuais.
A montagem tem como força motriz parte da obra do britânico Edward Bond, um dos mais importantes dramaturgos vivos da atualidade. No elenco estão a atriz Fernanda Azevedo e o multi-instrumentista Eduardo Contrera, sob roteiro e direção deFernando Kinas.
Edward Bond é considerado um dos maiores dramaturgos europeus em atividade, cujas peças são montadas regularmente em grandes centros de produção artística (especialmente na Alemanha e na França). Bond, nascido em Londres em 1934, é praticamente um desconhecido no Brasil, apesar de suas mais de 50 peças escritas até o momento. Sua verve dramatúrgica, poética mas contundente, vai na contramão do teatro comercial e despretensioso, mas também se distancia de um tipo dogmático de teatro.
A essas características soma-se a trajetória da Kiwi Companhia de Teatro, um grupo que, simultaneamente, faz e pensa o teatro com o objetivo de contribuir para a construção de um pensamento crítico sobre a sociedade brasileira. Com essa síntese de proposições incisivas da Companhia e a poética radical de Edward Bond, aliada ao olhar atento sobre a violência de nossos dias, a Kiwi estreia Material Bond.
Concepção da montagem
Essa nova montagem da Kiwi é o cruzamento entre teatro, performance, intervenção e show. Material Bond radicaliza, de certa forma, as sugestões do próprio Edward Bond, que mais de uma vez afirmou a necessidade de encontrar novas formas para compreender a sociedade atual. À radicalidade da injustiça e da desumanidade (motes reincidentes na obra do autor) precisa corresponder uma radicalidade estética, dramatúrgica e cênica.
No espetáculo, há o uso abundante de material não-dramático, da hibridização de linguagens e espaços (boa parte das cenas se passa num tablado instalado na plateia), e há também o jogo com o público através de uma intervenção inédita sobre a atualidade. A peça utiliza projeções que trazem diretamente a realidade brasileira para a cena, como a brutalidade da ação policial e a criminalização dos movimentos sociais.
Intervenções narrativas e poéticas, e execuções musicais (gravadas e ao vivo, conduzidas pelo músico multi-instrumentista Eduardo Contrera), mais a articulação de binômios, muito presentes na obra do autor (cômico e trágico, rápido e lento, solene e trivial), resulta em um trabalho cênico que expõe conflitos capazes de revelar, para além da superfície das coisas, conexões de causa e efeito sobre aspectos da vida social brasileira.
O modo encontrado pela Kiwi para lidar com esta radicalidade de conteúdos e formas foi partir de uma série de poemas, letras de canções e pequenas histórias (que o autor também chama de fábulas) de Edward Bond em uma intervenção teatral com roteiro inédito e clara mente inspirado no teatro documentário.
Edward Bond
Descontente com o ambiente teatral de sua época, Bond se afastou, depois do início de seu percurso no Royal Court, de parte do establishment artístico, chegando a proibir a apresentação de suas peças em importantes instituições culturais britânicas. Sua trajetória tem sido marcada pela recusa dos esquemas do teatro comercial, mas também pela distância de um tipo reducionista de teatro.
Edward Bond é um prolífico e brilhante comentador de suas próprias peças, publicando prefácios, introduções, comentários, escrevendo cartas a diretores interessados em sua obra e densos ensaios sobre a relação entre teatro e sociedade. Além desta importante produção teórica, escreveu roteiros cinematográficos, libretos de ópera, fábulas, poemas e letras de canções.
Além da qualidade poética das obras de Bond, sua contribuição também é inegável no campo da experimentação formal, desenvolvendo – tanto na escrita, como teoricamente – técnicas para uma dramaturgia em sintonia com o mundo atual.
Atualmente Bond encontra prazer em trabalhar com grupos jovens, como o Big Brum ou Dundee Rep’s Youth Theatre. Na entrevista concedida ao jornalista Mark Lawson, do jornal britânico The Guardian, Bond revela a preferência por esse tipo de escrita. Aos 83 anos, o dramaturgo britânico ainda revela “(…) eu sinto que apenas comecei a entender as possibilidades do drama. Tudo o que posso fazer é escrever as peças da melhor forma possível e reescrever a realidade como eu a vejo”.
Temporada: de 2 a 25 de março de 2017
Horário: Quintas e sextas às 20h, sábados às 18h
Oficina Cultural Oswald de Andrade – Anexo
Endereço: Rua Três Rios, 363, São Paulo, SP, Brasil – próximo ao metro Tiradentes ( linha 1 – azul )
Telefone: 3221-4704 / Reservas: 987067471 ou 976181690
Gênero: teatro documentário
Duração: 80 mim
Ingressos gratuitos, a distribuição começa uma antes da apresentação
Classificação etária: 14 anos
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