Nova geração de cineastas indianos é tema de mostra no CCBB RJ

A mostra Novo Cinema Indiano apresenta uma programação inédita no Brasil, com dez filmes selecionados pelos curadores Carina Bini e Shankar Mohan, produzidos nos últimos três anos e que representam uma nova geração de cineastas indianos. Serão exibidos longas-metragens produzidos por realizadores que buscam narrativas menos convencionais dentro da cinematografia do país. Filmes ao mesmo tempo reflexivos e de apelo popular, que transitam entre os festivais internacionais de cinema de autor e o grande público, estabelecendo um verdadeiro contraponto ao estereótipo associado à indústria de BollywoodA mostra acontece no CCBB Rio de Janeiro entre os dias 6 a 15 de janeiro de 2017.


As produções presentes na mostra Novo Cinema Indiano foram realizadas em sete regiões da Índia, consequentemente, são filmes falados em sete de suas 18 línguas oficiais – desde longas-metragens feitos na remota região de Assam, nordeste do país, onde se fala a língua Bodo, até filmes dos estados de Tamil Nadu e Kerala, na região sul, a responsável por 50% da produção de filmes indianos.

A sessão de abertura, no dia 6 de janeiro, às 19h, terá uma apresentação de dança indiana com Ludymilla van Lammeren, historiadora pela UFRJ, que estuda a Índia desde 2004, seguida da exibição do longa-metragem Armadilha, de Jayraj, uma adaptação de texto de Anton Chekhov, que mostra o protagonista recomeçando sua vida após a morte dos pais, vencedor do Urso de Cristal em Berlim 2016. Na quinta-feira, 12 de janeiro, às 16h, será realizado o debate “A Índia e a cultura do cinema”, com Gloria Arieira, fundadora e diretora do Vidya Mandir, centro de estudos de Vedanta, Sânscrito e da tradição dos Vedas, e o curador Shankar Mohan.

Entre os destaques da programação estão também Ilha de Munroe, dirigido por Manu, que aborda o conflito de gerações na Índia dos dias de hoje (prêmio de melhor diretor estreante no John Abraham Award); Cinemawalla, de Kaushik Ganguly, que traz a história de um homem e sua luta pela sobrevivência de um cinema de rua na Índia voltado para exibição de filmes em película; O ovo do corvo, assinado por M. Manikandan, que narra as aventuras de dois meninos que sonham em conseguir dinheiro para comprar uma pizza (premiado como Melhor Filme Infantil e Melhor Ator no Indian National Awards e seleção oficial do Festival de Toronto); e O Navio de Teseu, primeiro filme de Anand Gandhi, aclamado na Índia (prêmios de melhor filme e diretor do Indian National Awards, melhor cinematografia do festival de Tóquio, entre outros prêmios internacionais). Vale citar ainda Apur Panchali, inspirado na história da vida de Subir Banerjee, o ator mirim que interpretou o papel icônico de Apu no consagrado filme Pather Panchali, do diretor Satyajit Ray.

A indústria cinematográfica indiana

A Índia está entre os cinco maiores polos produtores e consumidores de cinema do mundo. Dados no Ministério da Informação e Difusão indiano apontam que até o final de 2016 terão sido realizados, neste ano, quase 2 mil filmes no país. Anualmente, as bilheterias somam algo em torno de US$ 2,25 bilhões. Apenas uma fração desses filmes é exibida internacionalmente.

Os indianos consomem seus próprios filmes há décadas. O cinema indiano leva para suas salas de cinema (estimadas em 13 mil) as histórias, desejos e aflições de seu povo, construindo um imaginário de forte influência para os padrões sociais do país.

Curadores da mostra

A curadoria da mostra é uma parceria entra a brasileira Carina Bini e o indiano Shankar Mohan. Desde 1997, Carina passa temporadas na Índia estudando o cinema e a cultura do país. Diretora geral do Festival Internacional Cinema e Transcendência, ela produziu mostras como a BHAVA: Universo do Cinema Indiano (CCBB Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo – 2011 e 2012), a maior mostra de cinema indiano já realizada no Brasil, e a Mostra Cem Anos do Cinema Indiano (2014), para o Museu Correios Brasília. Sobre a seleção de filmes, Carina comenta: “Quando observamos o cinema indiano indo além de Bollywood, percebemos a diversidade de histórias e a pluralidade de maneiras como elas são contadas, vindas das várias Índias que existem naquele subcontinente tão rico culturalmente”.

Formado em cinema, Shankar Mohan trabalhou na área por quase 40 anos. Recentemente, aposentou-se como Chefe e Diretor do Departamento de Cinema do Governo da Índia. Antes disso, dirigiu o Festival Internacional de Cinema da Índia, em Goa (festival de cinema oficial do país) e foi diretor do Instituto Satyajit Ray Film & TV, em Calcutá. Atualmente, ele ensina, escreve e discursa sobre cinema. “Cada filme desta mostra foi selecionado baseado em sua capacidade de representar e iluminar seus diretores, atores, tradições culturais e as preocupações sociais que estão atualmente moldando o curso do cinema indiano. A cada ano, o cenário em constante mudança no contexto indiano traz diferentes gêneros de filmes e cineastas”, afirma Mohan.

VEJA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA (clique aqui!)

Sexta, 06/01:

19h – sessão especial de abertura com apresentação de dança indiana com Ludymilla van Lammeren e exibição do filme:

Armadilha (Ottaal)

Direção: Jayaraj Rajasekharan Nair. 2015, 81 min, 12 anos. Região/Língua: Kerala/Malayalam.

Urso de Cristal de melhor filme no Festival de Berlim 2016; Kerala State Film Award – Melhor Filme; National Filme Award – Melhor Roteiro; National Filme Award – Melhor Filme Ambiental.

Adaptação de “Vanka”, de Anton Chekhov. Kuttappayi, um jovem rapaz, encontra-se triste e desesperado quando começa a escrever uma carta para o avô em um lugar sombrio e escuro. As recordações de Kuttappayi nos levam aos locais pitorescos de Kuttanad, onde ele e seu avô, Valiyappachayi, estão chegando com seus patos. A aldeia é muito agradável, mas o motivo que o leva até lá é a morte de seus queridos pais. Com esperança e liberdade, ele está prestes a começar sua nova vida entre o carteiro da aldeia sem cartas, o cão sem nome, o rapaz rico, Tintu e muitos outros.

Aclamado pela crítica, Jayaraj Rajasekharan Nair teve como mentor Bharathan, um dos cineastas mais famosos do país, com quem ele trabalhou como assistente de direção em Chilambu e em mais seis filmes, incluindo Vaishali, de 1988. Dois anos mais tarde, Jayaraj fez sua estreia na direção com Vidyarambham. Ele é o único diretor a ganhar tanto o Pavão Dourado e o Corvo Dourado no Festival Internacional de Cinema da Índia e Festival Internacional de Cinema de Kerala, respectivamente.

Jayaraj produziu 37 filmes em várias línguas indianas. Adbutham entrou no Livro Limca of Records por concluir a filmagem em duas horas e 14 minutos, o filme mais rápido com o recurso de uma única câmera, e The Train, de 2011, também está no Records por ser um filme onde a conversa de todos os seus personagens são via telefone.

Sábado, 07/01:

14h – Geragalu

Direção: Nikhil Manjoo. 2015, 90 min, livre. Região/Língua: Karnataka/Kannada.

Seleção oficial do 46º IFFI (International Filme Festival of India), um dos mais importantes festivais do país.

O filme narra a história do artista clássico Yakshagana – cujo enorme sucesso, prêmios e nomeações lhe subiram à cabeça. A vida de Gaffur Khan não é totalmente um mar de rosas. Ele não consegue digerir seu sucesso e, em vez disso, torna-se um incômodo para a família e a sociedade. No fim das contas, é seu próprio neto que vem como um instrumento em sua vida e traz mudanças.

Nikhil Manjoo estudou Psicologia, mas encontrou sua paixão na direção, inicialmente na atividade teatral e produção para TV, depois no cinema. Ganhou vários prêmios e medalhas de ouro em festivais nacionais e internacionais. É ator de cinema, recebeu várias premiações importantes no país.

16h – O ovo do corvo (Kaaka Muttai)

Direção: M. Manikandan. 2014, 109 min, livre. Região/Língua: Tamil Nadu/Tamil

National Film Award 2015: Melhor Filme Infantil e Melhor Ator Mirim; Filmfare Award para Melhor filme na língua Tamil; Seleção Oficial do Festival de Toronto 2015.

Quando uma pizzaria é aberta em um antigo parquinho, dois meninos pobres são consumidos pelo desejo de saborear este novo prato. Percebendo que uma pizza custa mais do que a renda mensal de sua família, eles começam a planejar maneiras de ganhar mais dinheiro – começando inadvertidamente uma aventura que irá envolver toda a cidade.

  1. Manikandan é um cineasta, escritor e diretor que trabalha em Tamil. Ele começou a carreira como assistente de fotografia. Fez sua estreia na direção com o curta-metragem Vento (2010).

19h – Cinemawala

Direção: Kaushik Ganguly. 2015, 105 min, livre. Região/Língua: Bangala/ Bengali. Seleção oficial do Festival Internacional de Cinema da Índia.

Um projecionista de filmes aposentado se esforça para evitar que seu cinema seja demolido. O tema do filme é um tributo às salas individuais de cinema com projeção em película que estão rapidamente se tornando raras na Índia, ultrapassadas pelo avanço da tecnologia digital.

Kaushik Ganguly é diretor, roteirista e ator do cinema de Bengali. Outro filme seu, Apur Panchali, também será exibido na mostra. Ele é conhecido por abordar temas de sexualidade, como relacionamentos lésbico e transexuais. Ganhou o prêmio de melhor diretor no 44º Festival Internacional de Cinema da Índia.

Domingo, 08/01

16h – Ilha de Munroe (Mundro Thuruth)

Direção: Manu. 2015, 92 min, 12 anos. Região/Língua: Kerala/Malayalam.

Seleção oficial do IFFK (International Filme Festival of Kerala – 2016) e do Jio Mami (Mumbai International Film Festival), um dos festivais mais prestigiados do país. Prêmio nacional de melhor filme no Aravindam Memorial Award, e Prêmio John Abraham Award, como melhor diretor estreante e melhor filme na língua malayalam.

Adolescente rebelde, mas amoroso, Keshu e seu pai chegam à casa de seus ancestrais na Ilha de Munroe, onde o avô vive com Kathu, a empregada. O pai quer levar Keshu para um tratamento psicológico adequado, mas o avô, que está convencido de que seu filho está sempre errado, não suporta a ideia. Apesar das advertências graves, ele quer que seu neto fique na ilha e planejar seu futuro.

Manu atua no meio cinematográfico desde os tempos de escola. Ao completar a faculdade de Filosofia na Universidade de Kerala, voltou-se para o jornalismo, trabalhando como editor, colunista e crítico de filmes em diferentes jornais. Finalmente voltou para o cinema como roteirista e assistente de documentários e filmes para TV.

18h – Punhalada no coração (Katyar Kaljat Ghusali)

Direção: Subodh Bhave. 2015, 161 min, livre. Região/Língua: Maharashtra/Marathi.

Seleção oficial do 46º IFFI (International Filme Festival of India), um dos mais importantes festivais do país. Bilheteria na Índia: 5,9 milhões de dólares.

Por que a garganta está localizada equidistante entre o cérebro e o coração? O que levou a Providência a colocar a voz entre o intelecto e a emoção? Este musical tenta explorar exatamente o tema do ego, através da história do cantor Sadashiv e seus dois gurus – Panditji e Khasaheb.

Subodh Bhave tem uma longa carreira com filmes e seriados para a TV, para o cinema, filmes comerciais, teatro e documentários. Ganhou sete prêmios e 15 indicações.

Segunda, 09/01:

14h30 – Apur Panchali

Direção: Kaushik Ganguly. 2013, 97 min, 12 anos. Região/Língua: Bengala/ Bengoli

O filme é uma homenagem a um dos mais célebres atores mirins do mundo Subir Banerjee, que interpretou o papel icônico de Apu no consagrado Pather Panchali, de Satyajit Ray. Lançado nos cinemas em agosto de 1955, o filme é lembrado até hoje como uma marco do cinema indiano. Mas, ironicamente Subir “Apu” Banerjee nunca atuou em qualquer outro filme.

16h30 – Geragalu

Direção: Nikhil Manjoo. 2015, 90 min, livre. Região/Língua: Karnataka/Kannada.

18h30 – Navio de teseu  (Ship of Theseus)

Direção: Anand Gandhi. 2013, 144 min, livre. Região/Língua: Mumbai/Hindi e Inglês

Selecionado para a première do IFFI (International Film Festival of India); Prêmios de Melhor Filme do ano de 2013 no National Film Awards; Melhor Filme no Festival Internacional de Cinema de Transilvânia; Melhor Cinematografia no Festival Internacional de Cinema de Tóquio; Melhor Atriz no Festival Internacional de Cinema de Dubai; Prêmio do Júri de Excelência Técnica no Festival de Cinema de Mumbai.

Se as partes de um navio são substituídas, pedaço por pedaço, esse é ainda o mesmo navio? Uma fotógrafa diferente lida com a perda de sua visão após um procedimento clínico; um monge erudito enfrenta um dilema ético frente à sua ideologia de vida e tem de escolher entre seus princípios e a morte; um jovem corretor da bolsa de valores, seguindo o rastro de um rim roubado, aprende como a moralidade pode ser complexa.

Anand Gandhi começou sua carreira de roteirista em 2000 com o surgimento do gênero de telenovela na Índia. Seu primeiro longa-metragem, Ship of Theseus, ambientado no Cairo, Estocolmo e Mumbai estreou no Festival Internacional de Cinema de Toronto de 2012, onde foi descoberto como a “jóia escondida” da seleção de filmes do festival de Mumbai naquele ano. Foi dada uma Menção Especial pelo Júri de Sutherland “por fazer cócegas no nosso intelecto e mostrar-nos as facetas raramente vistas da vida indiana”. O crítico Derek Malcolm o colocou na lista de “filmes que mudaram nossas vidas”, feita para comemorar o centenário do Círculo de Críticos.

Quarta, 11/01

15h30 – Armadilha (Ottaal)

Direção: Jayaraj Rajasekharan Nair. 2015, 81 min, 12 anos. Região/Língua: Kerala/Malayalam.

17h30 – O ovo do corvo (Kaaka Muttai)

Direção: M. Manikandan. 2014, 109 min, livre. Região/Língua: Tamil Nadu/Tamil

19h30 – O fabricante de caixão (The coffin maker)

Direção: Veena Bakshi. 2013, 123 min, livre. Região/Língua: Goa/ Konkani-Inglês.

National Film Award 2013 para Melhor Filme da Língua Inglesa.

Filmado numa pequena aldeia de Goa, o filme conta a história de Anton Gomes, que vem de uma família de carpinteiros tradicionais que passam a fabricar caixões quando as circunstâncias difíceis os deixam sem emprego e dinheiro. Anton passa a ficar pessimista e desiludido. Até que um dia, a morte desafia sua vida.

Veena Bakshi começou sua carreira como assistente de famosos publicitários. Depois abriu sua própria agência, realizando – como produtora ou diretora – mais de 300 filmes publicitários. O fabricante de caixões é seu primeiro longa-metragem.

Quinta,  12/01

16h – Debate “A Índia e a cultura do cinema”, com Gloria Arieira, fundadora e diretora do Vidya Mandir, centro de estudos de Vedanta, Sânscrito e da tradição dos Vedas, e o curador Shankar Mohan.

19h – Cinemawala

Direção: Kaushik Ganguly. 2015, 105 min, livre. Região/Língua: Bangala/ Bengali.

Sexta, 13/01

16h – Que assim seja (Astu)

Direção: Sumitra Bhave e Sunil Sukhtankar.  2014, 135 min, livre. Região/Língua: Maharashtra/Marathi

Melhor Roteiro, Diálogo e Melhor Atriz Coadjuvante no 61º National Film Awards 2014, o mais importante prêmio do cinema indiano.

Inspirado numa experiência vivida pelo protagonista do filme. O relacionamento entre pai e filha, quando o pai, um doutor em sânscrito aposentado, que sofre de Alzheimer, desaparece e é encontrado por um casal andarilho que cuida de um elefante, e passa a viver o seu momento a cada dia…

Os diretores Sumitra Bhave e Sunil Sukhtankar formam uma dupla do cinema marathi, proveniente do estado do Maharashtra. Representantes do cinema autoral, seus filmes sempre trazem temáticas sociais.

18h30 – Navio de teseu  (Ship of Theseus)

Direção: Anand Gandhi. 2013, 144 min, livre. Região/Língua: Mumbai/Hindi e Inglês 

Sábado, 14/01

14h30 – Apur Panchali

Direção: Kaushik Ganguli. 2013, 97 min, 12 anos. Região/Língua: Bengala/ Bengoli

16h30 – Ilha de Munroe (MundroThuruth)

Direção: Manu. 2015, 92 min, 12 anos. Região/Língua: Kerala/Malayalam.

18h45 – Punhalada no coração (Katyar Kaljat Ghusali)

Direção: Subodh Bhave. 2015, 161 min, livre. Região/Língua: Maharashtra/Marathi.

Domingo, 15/01

15h – O ovo do corvo (Kaaka Muttai)

Direção: M. Manikandan. 2014, 109 min, livre. Região/Língua: Tamil Nadu/Tamil

17h – O fabricante de caixão (The coffin maker)

Direção: Veena Bakshi. 2013, 123 min, livre. Região/Língua: Goa/ Konkani-Inglês.

SERVIÇO

NOVO CINEMA INDIANO
Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro

6 a 15 de janeiro de 2017
Rua Primeiro de Março 66, Centro, tel (21) 3808-2020
Salas de Cinema 1 (98 lugares) e 2 (50 lugares) – Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia).

Patrocínio: Banco do Brasil
Curadoria: Carina Bini e Shankar Mohan
Produção: Atman Filmes
Realização: Centro Cultural Banco do Brasil

*As informações são de responsabilidade de seus organizadores e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio.

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