Refilmagens de filmes clássicos nem sempre conseguem transmitir a atmosfera dos seus originais, em sua maioria, devido à uma ideia bastante equivocada de que uma boa história merece, sim, ser contada várias vezes. Ao pensar dessa forma, podemos analisar que superficialmente é uma proposta interessante, trazer de volta às telonas filmes cultuados por seus roteiros envolventes com personagens marcantes, não soa nem de longe uma péssima ideia. A grande questão em refilmagens/remakes é a ausência de coragem em suas produções, principalmente para “quebrar” certas estruturas dos longas originais, o que acaba comprometendo praticamente toda a nova versão. Um exemplo mais recente é o cultuado retorno da franquia Star Wars às telonas, com o novo longa Star Wars: O Despertar da Força, que de novo praticamente não tem quase nada inovador, sua estrutura (do roteiro) ficou praticamente intacta, repetindo as mesma viradas e situações dos longas anteriores.
Ao ser anunciado, Caçadores de Emoção: Além do Limite chamou de certa forma a atenção de todos, pois muitos imaginavam que, apesar da demora, enfim o longa teria uma continuação. As noticias sobre uma possível sequência ganharam forças quando rumores indicavam que Keanu Reeves reprisaria seu papel como agente infiltrado do FBI Johnny Utah. Mas no momento que Reeves recusou participar do projeto, uma nuvem negra surgiu, indicando que teríamos, assim como tantos outros, uma nova refilmagem sendo produzida. Talvez pela falta de opção, após recusa de Keanu, que seria uma ponta chave para uma continuação, ou simplesmente por falta de criatividade/coragem, o roteiro seguiu para uma estrada bastante arriscada – aquela que maior obstaculo a comparação com filme original.
Lançado originalmente no início da década de 90, mais precisamento no ano de 1991, o longa original Caçadores de Emoção foi estrelado pela dupla Patrick Swayze e o jovem Keanu Reeves, sendo dirigidos pela cineasta Kathryn Bigelow (ex-esposa de James Cameron). Esta nova “versão”, que assim como tantos outros remakes, não tem praticamente nada de novidade, personagens, conflitos, e até desfechos são literalmente idênticos ao original. No longa o jovem agente especial do FBI Johnny Utah tem como missão se infiltrar em meio a atletas de esportes radicais, suspeitos de cometerem uma série de roubos nunca vistos até então. Não demora muito para que ele se aproxime de Bodhi (Édgar Ramirez), o líder do grupo, e conquiste sua confiança.
Devemos ser justos ao dizer que o longa original de 1991 não carrega uma esplendida trama, existe nele diversos momentos de falta de coerência e claro erros superficiais, mas ao todo o material apresentando é bastante satisfatório. Mas a questão deste remake, é que ele além de não ter a coragem necessária, ou a talvez experiencia, para enxergar os pontos negativos do primeiro filme e transforma-los em coisas positivas nesta versão, o roteiro escrito de Kurt Wimmer (Salt) praticamente se sustenta em estender ao máximo cenas que utilizam adrenalina pura. Todos sabemos que esportes radicais conseguem reproduzir cenas maravilhosas quando bem filmados, neste caso não é diferente, em diversos momentos somos contemplados por cenas lindas, tendo como protagonista a imponente Mãe Natureza. Mas o que deveria ser uma ideia bastante favorável para sustentação do roteiro, acaba por se tornar na verdade o grande “vilão do filme”, pois é exatamente neste ponto que a trama fica se arrastando, o que acaba deixando o filme sem ritmo e extremamente cansativo, e até certo ponto monótono.
O novo Caçadores de Emoção conta com a direção do ex fotografo Ericson Core, que estreou como diretor de longas no drama esportivo Invencível. Dada sua experiência, não é a toa que visualmente este remake supera facilmente seu original, com diversas cenas de tirar o folego, sequências de câmeras muito bem executadas e aéreas que exploram o máximo do ambiente em questão (favorecendo bastante a ambientação nos esportes radicais). A direção, no modo geral, se torna dessa forma, um ponto bastante forte neste remake, conseguindo transmitir toda a adrenalina e explorar as paisagens maravilhosas na qual o filme se ambienta. A fotografia também ajuda, e muito, na melhora do aspecto visual – com um ótima coloração e enquadramentos que não deixam o público perder um detalhe das cenas mais radicais do filme. Mas claro que nem tudo ajudou positivamente o filme, ao optar em explorar o máximo das cenas dos esportes, a certo ponto da exibição temos a nítida impressão de estarmos assistindo um comercial/copilação de campeonatos do gênero, ou talvez alguns vídeos promocionais de marcas conhecidas desses esportes.
Um outro ponto que, não chega a incomodar, mas sentimos que falta algo “mais” nele, é sem dúvida o perfil dos personagens. Ele convencem mas estão bem longe de encantar, talvez pela falta de química entre os atores, ou mesmo pela construção superficial – apesar do primeiro trecho do filme tentar trabalhar exatamente esse ponto. Fica difícil condenar a performance de Edgar Ramirez e Luke Bracey, pois ambos atores tem se mostrando em uma escalada interessante em Hollywood, principalmente em seus projetos mais recentes aonde estão variando, acertadamente, entre os gêneros do cinema.
Fica difícil dizer que a nova versão de Caçadores de Emoção é realmente um filme ruim, pois em sua ideia inicial (do projeto), a julgar pelo contexto geral apresentado, não deveria se tornar um remake desnecessário. Mas infelizmente, a sua falta de coragem em mudar certo eventos e ainda a insistência de explorar o máximo as cenas de esportes radicais (em certo ponto esquecendo o gênero de thriller criminal), acabaram por levar esse projeto para aquela prateleira de refilmagens que não deveriam ser feitas. Mas claro que devemos lembrar, seu original também está longe de ser algo fantástico, mas não foi dessa vez que fomos contemplados com um roteiro que tenta fugir completamente das referencias do seu primogênito.