Missas celebradas em esconderijos de chefões da Máfia e famílias que estão longe de serem santas, controlando festivais católicos, são alguns dos indícios da estreita ligação entre a Igreja Católica e o crime organizado. E o especial de uma hora de duração A Máfia e o Vaticano, que o HISTORY estreia dia 12/12, investiga por que os mafiosos usaram a religião para justificar seu poder e qual era a aliança motivada por razões políticas que manteve a Máfia e a Igreja juntas por décadas.
Apresentada pelo historiador e especialista John Dickie – que também esteve à frente do especial Dinheiro Sagrado –, a produção vai ao sul da Itália para conhecer os bunkers subterrâneos utilizados pelos mafiosos para evitar capturas e conversar com sacerdotes que se envolveram com o crime organizado, além de outras pessoas que arriscam suas vidas opondo-se à Máfia.
Em junho de 2014, o Papa Francisco visitou a Calábria, região atingida pela pobreza e sede da Máfia mais poderosa da Itália, e a menos conhecida, a Ndrangheta. Ele conheceu a família de Cocò Campolongo, um menino de três anos assassinado pelos criminosos junto com seu avô. Os corpos crivados de balas foram queimados pelos assassinos para esconder as provas. Indignado, Francisco excomungou os mafiosos e divulgou as seguintes palavras: “A Ndrangheta representa a adoração do mal e o desprezo pelo bem comum. Mafiosos não estão em comunhão com Deus”. Não apenas os criminosos, mas a própria igreja precisa ouvir essa mensagem.
Uma semana depois, no povoado calabrês de Oppido, uma procissão tradicional que carregava uma estátua da Virgem Maria parou para homenagear o chefe local da Ndrangheta, que havia acabado de sair da prisão. Curiosamente, a polícia saiu de cena.
Em 2010, a polícia italiana filmou em segredo os patrões da Ndrangheta durante uma peregrinação ao santuário remoto de Polsi. Em Catania, a Cosa Nostra tem se infiltrado na festa de Santa ’Ágata, uma das mais maiores festas do mundo católico. Aos olhos da população, a Igreja tem dado legitimidade à Máfia, na medida em que mantém um silêncio culpado em alguns casos, como quando o filho de um dos chefes da organização criminosa teve o privilégio de ser batizado pelo Papa Bento XVI.
No especial, John Dickie investiga a extensão total da cumplicidade da igreja com bandidos assassinos e explica como o oportunismo político levou cardeais a conspirarem com a Máfia. Nas gravações, participou de procissões e descobriu como os chefes do crime foram acolhidos em confrarias religiosas.
Igualmente importante, A Máfia e o Vaticano mostra que as bases religiosas estão lutando contra a Máfia, como parte de um divórcio dramático que está em andamento entre a igreja e os criminosos – e que ganhou fôlego com a iniciativa do Papa Francisco, em 2014, de excomungar mafiosos. Porém, ainda hoje, em muitas partes da Itália, a relação entre eles se caracteriza mais pela colaboração e pelo compromisso, do que pelo confronto. Será que a jornada do papa Francisco contra a Máfia pode ser bem-sucedida?