Lançamento da ZUM #9 em São Paulo terá debate entre a fotógrafa Lucia Mindlin Loeb e o professor Agnaldo Farias sobre como representar a cidade através da fotografia

A nova edição da revista ZUM será lançada em 30 de outubro, sexta-feira, às 19h30, na livraria Martins Fontes (avenida Paulista, 509, Bela Vista) com bate-papo entre a fotógrafa Lucia Mindlin Loeb e o professor da FAU/USP e crítico de arte Agnaldo Farias com mediação do jornalista Mauricio Puls. Os convidados discutirão arte e urbanismo a partir de “Avenida Celso Garcia”, trabalho de Lucia que faz parte da edição. A fotógrafa registrou a avenida localizada na zona norte de São Paulo em dois momentos diferentes (2004 e 2014), construindo panoramas que, segundo o jornalista Mauricio Puls, narram a corrosão silenciosa da cidade.

A ZUM #9 apresenta também as fotografias do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, editadas com exclusividade pelo fotógrafo Miguel Rio Branco. As imagens foram feitas no início da década de 1980 durante pesquisa etnográfica entre os índios Araweté, com os quais o antropólogo passou 11 meses. A seleção de Rio Branco apresenta o cotidiano desse povo, marcado pela intimidade corporal e pela austeridade material.

Outro destaque é o resgate das fotografias de George Love (1937-1995), que viveu no Brasil entre as décadas de 1960 e 1980 e integrou a equipe de fotógrafos da revista Realidade. Love, que estampa a capa desta edição, sobrevoou a Amazônia e percorreu São Paulo em busca de uma visão nova para a fotografia. Com um trabalho experimental, que às vezes flerta com a abstração, Love almejava captar a atmosfera de um lugar, mais do que uma representação descritiva do assunto. A relação entre o crescimento urbano e a preservação da natureza também era preocupação do fotógrafo.

A premiada jornalista Dorrit Harazim narra a história da renomada fotógrafa mexicana Graciela Iturbide, que expandiu a fotografia documental com sua maneira singular de retratar a relação entre o homem e a natureza, o indivíduo e a cultura, o real e o psicológico. A seleção de imagens da ZUM traz trabalhos marcantes, como a série feita entre as mulheres de Juchitán de 1979 a 1989.

ZUM analisa a relação do artista chinês Ai Weiwei com a fotografia e a internet. Entre 2005 e 2009, Weiwei manteve um blog em que publicou cerca de 100 mil imagens. O blog foi encerrado por conta de uma proibição governamental, e Weiwei migrou seu diário visual para o Twitter e o Instagram. A revista publica algumas dessas imagens e um texto em que o artista reflete sobre a fotografia, além de uma análise do pioneirismo de Weiwei feita pelo curador Urs Stahel. Weiwei acaba de abrir uma grande retrospectiva da sua obra na Royal Academy of Arts em Londres e de receber permissão para sair da China, depois de 4 anos proibido de deixar o país.

Em 2002, o fotógrafo Lucien Hervé (1910-2007) concedeu ao curador Hans Ulrich Obrist uma das melhores entrevistas da sua vida, inédita em português. Hervé foi o maior divulgador da obra do arquiteto Le Corbusier e relembra nesta conversa a origem húngara, a luta na Resistência, o interesse por arte e filosofia grega e sua amizade com o famoso arquiteto, cuja morte completa 50 anos.

“Sob controle” é o texto assinado por David Levi Strauss, professor da School of Visual Artes de Nova York, que analisa o sentido político por trás de casos famosos de manipulação fotográfica, desde as intervenções feitas por Hitler e Stálin às controvérsias que envolvem o consagrado prêmio World Press Photo e a Casa Branca.

No centenário de nascimento do prêmio Nobel Saul Bellow (1915-2005), ZUM traz um texto em que o romancista ataca o uso da fotografia na imprensa e o constrangimento de ser fotografado. Para Bellow, “o rosto do sujeito, que é a seu modo uma história, a história que ele apresenta, tem outra história subjacente, às vezes bem diferente, e é graças à habilidade do fotógrafo que essas camadas de história são reveladas”.

O último trabalho do italiano Ugo Mulas (1928-1973), famoso por registrar as Bienais de Veneza e a cena artística de seu país, é publicado na íntegra nesta edição da revista. A série Verificações é, ao mesmo tempo, uma revisão de sua obra e uma reflexão sobre a linguagem e a história da fotografia. Para Mulas, a suposta imparcialidade da imagem pode servir às operações mais ambíguas. A matéria conta também com um comentário de Giuliano Sergio, historiador da arte e especialista na obra de Mulas.