Cine Humberto Mauro exibe filmes dirigidos por mulheres mineiras

A produção cinematográfica em Minas Gerais sempre foi marcada pela resistência. Para as mulheres, além do fato de estarem fora do centro de produção, historicamente localizado no eixo Rio-São Paulo, era preciso ainda encarar um cenário ocupado e dominado majoritariamente por homens. Como forma de oferecer visibilidade às obras dirigidas por mulheres e contribuir para o debate sobre o lugar feminino no cinema, o Cine Humberto Mauro apresenta a mostra Cineastas Mineiras, que vai exibir durante 14 dias, 38 filmes – 16 longas e 22 curtas-metragens – nos formatos DCP, digital e película.

A mostra reúne diretoras importantes, de diferentes gerações, que contribuíram para fortalecer a posição feminina no universo cinematográfico. Nomes como Tania Anaya Maria de Fátima Augusto estão entre as 18 cineastas mineiras que compõem a programação. A curadoria é de Philipe Ratton, gerente do Cine Humberto Mauro e Bruno Hilário, coordenador, com colaboração de Mariah Soares e Vitor Miranda, assistentes de produção.

Passando pelo documentário, animação, ficção entre outros estilos, as temáticas dos filmes são variadas, mas todos convergem para o fato de terem sido dirigidos por mulheres, ponto marcante e fundamental. A apresentação conjunta dos títulos selecionados contextualiza e representa um importante recorte do cinema dirigido por mulheres em Minas Gerais. Há um cenário de grandes possibilidades para uma maior ocupação feminina na direção cinematográfica. É necessário que estas discussões sejam realizadas de forma aguda e o objetivo principal dessa mostra é contribuir para o debate, diz Bruno Hilário.

Diversidade de temas e estilos – A abertura da mostra será marcada pela exibição de “Nos olhos de Mariquinha”, produção de Cláudia Mesquita e Júnia Moura, que retrata a vida de uma moradora de uma comunidade do Aglomerado da Serra, em BH.Um dos grandes destaques da programação é o resgate de “Rosa Rosa” (1968) e “Solo” (1969), curtas de Rosa Maria Antuña Martins, uma das precursoras da direção de filmes em Minas Gerais. Haverá ainda uma homenagem à Carmen Santos, grande pioneira do Cinema Nacional, com a exibição de um curta-metragem documentário sobre sua vida e dedicação ao cinema.

A mulher que amou o vento

“Subsolos” (2015), de Simone Cortezão, também faz parte da mostra. Elefoi o vencedor da 17ª edição do FESTCURTASBH –Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, realizado no mês de setembro de 2015 pela Fundação Clóvis Salgado. O filme retrata uma paisagem triste, embora comum em Minas Gerais: a devastação causada pela mineração e o modo como a população é afetada por esse problema.

Destaque também para a exibição do filme “Amor Maldito”(1984), de Adélia Sampaio, uma investigação sobre o amor lésbico em uma narrativa que aborda o tema de forma madura, com um forte viés emancipador.

Além da direção – Para Philipe Ratton, os reflexos da mulher na direção são perceptíveis em diferentes aspectos da obra. “O olhar feminino por si só determina e influencia a forma como as personagens são construídas. Podemos perceber isso também na forma única de lidar com cada uma das situações e modos de abordagem cinematográfica.”, complementa.

Discussão que se fortalece –  A decisão de fazer uma mostra dedicada às cineastas mineiras foi reflexo de um protagonismo que a gerência de cinema identificou em diferentes momentos de 2015. “Temos observado a presença massiva das mulheres em várias ocasiões. Sempre tivemos mulheres cineastas, mas elas estão cada vez mais ocupando esses espaços. Nada mais justo do que produzir uma mostra que reúna essas obras e propicie essa discussão”, afirma Bruno Hilário.

O protagonismo se reflete em duas grandes ações do Humberto Mauro. Neste ano, a grande vencedora do FESTCURTASBH na categoria Competitiva Minas foi Simone Cortezão, com o filme Subsolos. Já no prêmio BDMG/FCS de Estímulo ao Curta Metragem de Baixo Orçamento, os dois prêmios na categoria Amanhecer – destinada a cineasta sem exibição comprovada em circuito- foram concedidos a mulheres. “O Cine Humberto Mauro é um espaço mineiro por excelência e a gente pode discutir o universal a partir do nosso próprio quintal”, conclui Philipe Ratton.

Como forma de incentivar a discussão,haverá ainda um debate acerca da figura feminina em produções cinematográficas, do histórico já desenvolvido em Minas Gerais e outras questões relacionadas à mostra. Para enriquecer o debate, as realizadoras serão convidadas a trocar suas experiências com o público.

História Permanente do Cinema – Duas edições do História Permanente do Cinema vão ter relação com a mostra. No dia 29, será exibido o filme O mundo odeia-me, de Ida lupino, com comentário da pesquisadora e professora Ursula Rosëlle e no dia 05, para encerramento da mostra, a exibição de Jeanne Dielman, Chantal Akerman, comentado pela pesquisadora e professora, Carla Maia.

SERVIÇO

Mostra Cineastas Mineiras
Local:Cine Humberto Mauro -Avenida Afonso Pena, 1537 – Centro.
Data: 23 de outubro a 05 de novembro
Entrada: Gratuita, com distribuição de ingressos 30 minutos antes da sessão.
Informações para o público: 3236-7400

*As informações são de responsabilidade de seus organizadores e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio.

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