Colaboradores de longa data, o diretor teatral Alex Cassal e a coreógrafa Dani Lima tiveram há dois anos uma ideia: um processo criativo que aglutinaria artistas de diferentes perfis, desafiando-os a construir um espetáculo imprevisível e, ao mesmo tempo, coletivo – como um jogo. Após ser apresentado na Mostra Rumos Itaú Cultural, em São Paulo, “6 modelos para jogar” estreia no Espaço Sesc, no Rio de Janeiro, no dia 1º de outubro. A temporada será até 25 de outubro, de quinta a domingo.
A primeira inspiração veio da obra do escritor argentino Julio Cortázar, especialmente no livro “O Jogo da Amarelinha”, que mistura técnicas formais de vanguarda e elementos da cultura de massas em capítulos que podem ser lido em diferentes ordens. “O perfil aventureiro e experimental do Cortázar, que explodia a linguagem e a narrativa de todas as maneiras possíveis, teve muita influência na minha geração. A ideia da linguagem como um jogo que nos coloca diante do outro e testa as possibilidades de encontrar-se e perder-se”, explica Alex Cassal. “Foi a partir daí que Dani Lima e eu começamos a reunir outros artistas para integrar a proposta: no desejo de explorar coletivamente lugares cênicos ainda não mapeados”, completa.
Os idealizadores então convidaram os coreógrafos e diretores Denise Stutz (MG), Cristian Duarte (SP) e Márcio Abreu (PR) para dividirem a direção projeto. E cada diretor convidou intérpretes oriundos da dança, do teatro e da performance, que também participariam da criação. Cristian convidou a dançarina Júlia Rocha (SP); Denise o ator e bailarino Fábio Osório (BA); Marcio o bailarino Francisco Thiago (CE); e Alex e Dani o ator, bailarino e coreógrafo Renato Linhares (RS). Babi Fontana uniu-se ao grupo como assistente de direção, acompanhando todo o processo.
Em abril deste ano, a equipe se reuniu durante oito dias tendo como ponto de partida a obra de Cortázar. Cada diretor tinha a tarefa de encontrar suas próprias estratégias para falar de assuntos em comum – acaso, relação com o outro, sensação de começar algo novo, como estar pela primeira vez diante de um desconhecido. “Tivemos que inventar perguntas e jogos para criar intimidade entre nós, dentro da estrutura fragmentada que tínhamos. Como essa particularidade do projeto – um grupo de pessoas de lugares distintos juntas por um período enxuto de tempo – poderia estar expressa no processo e na dramaturgia? Qual seria a regra que daria conta de organizar cada cena e a multiplicidade de olhares num todo?”, destaca Dani Lima.
Nas etapas seguintes, cada diretor criou um pedaço de um espetáculo que só conheceriam por inteiro a poucos dias da estreia. E a cada três semanas, os intérpretes trocavam de diretor mantendo a mesma entrega a novas propostas. Alguns materiais eram modificados ou desenvolvidos pelo diretor seguinte; tornavam-se cenas, jogos, solos e sequências. Antes da estreia em São Paulo, todos os diretores se encontraram para verem o resultado do processo e perceberam que não havia ali um espetáculo composto de materiais diferentes, mas sim diversas peças que, em comum, tinham o desejo de convidar o espectador a habitá-las. Seis versões de um mesmo espetáculo – ou seis modelos.
A criação partiu da obra de Cortázar, no entanto, não é baseada na mesma. O público não encontrará citações ou os personagens do autor. “Pelo menos não como personagens dentro de uma narrativa, no sentido literário ou dramatúrgico”, esclarece Cassal. “Não queremos transpor o livro para outro formato, o da cena. Cortázar funciona aqui como uma peça de um jogo”, conclui.
Na temporada de quatro semanas no Espaço Sesc, os espectadores poderão assistir e comparar estes diversos modelos. Há materiais que se repetem em todos, mas são realizados de maneiras distintas; os que aparecem apenas em um ou outro modelo. Em todos está presente a ideia de jogo com a linguagem, a cena e com o próprio espectador; um jogo em que tudo e todos podem mudar de lugar. “Queremos uma narrativa aberta, uma obra que possibilite a interferência ou a participação do público, assim como Cortázar fez em seus jogos literários”, destaca Cassal.
Os quatro intérpretes estarão em cena em todos os espetáculos. Na estreia, no dia 1º de outubro, o público poderá assistir à direção de Alex Cassal, que será apresentada novamente no dia 15. A direção de Denise Stutz poderá ser vista nos dias 2, 8 e 23; Cristian Duarte nos dias 3, 17 e 18; Marcio Abreu nos dias 4, 11 e 18; Dani Lima nos dias 10 e 25; e o sexto modelo – a versão dos próprios intérpretes em direção coletiva com Babi Fontana, nos dias 9, 16 e 22 de outubro.
O projeto “6 modelos para jogar” é viabilizado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura e Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro, tem patrocínio Oi, apoio cultural Oi Futuro, apoio Programa Rumos Itaú Cultural, realização Sesc e Ministério da Cultura.
Data: De 1 a 25 de outubro
Horários: Quinta a sábado às 19h. Domingo, às 18h
Espaço Sesc – Sala Multiuso
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana)
Informações: 2547-0156
Capacidade: 60 pessoas.
Valor: R$ 5 (associados Sesc), R$ 10 (meia-entrada) e R$ 20 (inteira).
Funcionamento Bilheteria: terça a domingo, 15h às 21h.
Ingressos antecipados no local. Pagamento somente em dinheiro.
Classificação: 14 anos
Duração: 75 minutos
Realização: Sesc
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