A LRG (Lifted Research Group), marca californiana com foco no streetwear e entusiasta da cultura urbana, possui como uma das principais características da marca o apoio a projetos culturais que envolvem música e arte. Por isso, a marca se une ao Beatwise Recordings, selo independente baseado na cidade de São Paulo, para desenvolver uma compilação em vinil com as principais produções que marcaram sua história em dois anos de existência. O vinil estará disponível a partir de setembro por R$ 50,00 durante as apresentações do selo.
Com o apoio da LRG, que em tempos de internet viabiliza um registro histórico em vinil, para este projeto os produtores selecionaram uma compilação de todos os artistas do Beatwise, e será possível encontrar uma diversidade interessante de ritmos e beats, já que cada produtor habita um universo distinto, com influências que vão da música negra dos últimos anos à música contemporânea – do jazz ao detroit techno, passeando por novas escolas do bass music como o footwork e o dubstep inglês, tendo o rap instrumental como ponto de partida. “O principal objetivo é mostrar que a música brasileira pode ser experimental, eletrônica e ainda original”, aponta Lauro Netto, brand manager da LRG Brasil.
Beatwise Recordings é um selo independente que iniciou suas atividades em outubro de 2012. Os fundadores Cesar Pierri (CESRV) e Diego Santos (Sants) tinham como principal objetivo documentar uma cena em andamento naquele momento: a nova geração de produtores brasileiros independentes de beats e suas ramificações. Hoje a produtora conta com 19 lançamentos de distintas referências e oito artistas: Abud, Bento, CESRV, Cybass, MJP, Sants, Sono TWS e Soul One.
“O objetivo do selo é fomentar uma cena criativa que se mistura com outros gêneros e movimentos culturais. Não é um ambiente necessariamente movido por um único gênero, mas pelo interesse da evolução de sons que atualmente convergem – drum’n’bass, trip hop, rap, techno e house/ garage”, afirma Cesar Pierri, mais conhecido como CESRV, produtor musical e um dos fundadores do Beatwise.
A LRG cuidará de todo o registro do vinil, além de algumas ações específicas, como as imagens e a produção de oito vídeos mostrando o dia-a-dia dos produtores, e um nono trazendo um compilado de toda a série, que serão publicados nas redes sociais da marca e da produtora, para potencializar a divulgação.
Esta não é a primeira ação deste porte que a LRG apoia. Grandes nomes da produção musical, como Kanye West, já fizeram parte do time da LRG. Além disso, a marca também já fez parceria na produção do vinil da banda ZULUMBI, formada pelos músicos Lúcio Maia (Nação Zumbi), PG (Elo da Corrente) e Rodrigo Brandão.
Especialmente para a Beatwise, o lançamento do vinil marcará um novo ciclo do selo com o lançamento do sub-selo Zambi Records, focado principalmente em atender a necessidade dos produtores aspirantes. “A Zambi foca em testar novas sonoridades, que nem sempre estão ligadas ao universo beat/ bass, tendo como premissa pequenos lançamentos em formatos de EP e free download. Procuramos complementar as bordas de um universo central que o selo principal cobre”, afirma CESRV.
Beatwise Recordings
Sants
Diego Santos, jundiaiense de 23 anos, começou a produzir aos 15 anos, quando buscava compor drum’n’bass. Desde então, passeou por alguns gêneros, até perceber que era totalmente desnecessário se prender a um. Seu primeiro EP como Sants, “Soundies”, é uma ode a cultura pop adolescente dos últimos 20 anos – recortes de samples da Nickelodeon, Cartoon Network, Fresh Prince of Bel Air e Street Fighter encontram beats sujos e encorpados. “Low Moods”, seu segundo trabalho, é mais maduro, uma fotografia do bucolismo urbano. “Noite Ilustrada”, seu primeiro álbum é uma miscelânea que procura descrever a experiência da noite paulistana em dez faixas. Seu último lançamento, “Chavoso”, pela Trapdoor, é um recorte dessas noites regadas a graves – o compromisso com a pista é evidente aqui, onde mostra que pode trabalhar sonoridades de clube com a mesma intensidade.
CESRV
Cesar Pierri, paulistano de 29 anos, começou suas atividades como produtor em 2006. Desde cedo sendo exposto a música, atualmente trabalha no estúdio FLAPC4, no Bixiga, onde produz e grava diversos artistas. Depois de alguns anos de experiência com bandas locais, Cesar começou a produzir um som mais sintético, voltado para a música eletrônica e suas vertentes. Em 2012 com a Colab 011, festa local de bass music e adjacentes, foi o ambiente propício para desenvolver essas experiências. Em um curto espaço de tempo, lançou alguns trabalhos, como os EPs – “Chances” e “Nowhere”. Ambos tiveram visibilidade nas mídias internacionais especializadas. “Chances” é uma curta exposição a timbres downtempo com timbres ensolarados. O segundo, totalmente noturno, é o lado B da experiência da noite paulistana – bumbos descompassados e arpejos elétricos se encontram numa dança. No fim de 2013, cansado de alguns excessos, em “One Thousand Sleepless Nights” ele assume suas verdadeiras raízes e referências musicais. Sampleando clássicos brasileiros da música soul e recortando a sua maneira, seu primeiro álbum teve um ótimo reconhecimento nessa atmosfera sonora nacional. Seu último release “Darkwaters” (2014) é uma incursão mais introspectiva que o antecessor, e casa perfeitamente com a experiência e cultura de mixtapes ao redor do globo difundida por sites com o bandcamp.
Cybass
Glauber Barreto é DJ e produtor fluminense de Jacarepaguá. Começou produzindo jungle/ breaks em 1998 e desde então nunca mais parou. Sua primeira escola, o drum’n’bass, possibilitou ter parte de seu trabalho reconhecido nacional e internacionalmente – tem uma pequena discografia de lançamentos em selos reconhecidos no segmento como Basswerk, Silo, Under Construction Vibez e Keynote. Residente da grande Rio de Janeiro, Glauber se mudou para São Paulo recentemente, onde deixa o drum’n’bass de lado e começa sua experimentação com gêneros ascendentes como o glitch hop e o two-step. Levando suas referências cyberpunk sempre à tona em seu som, Cybass tem uma discografia que mostra bem o seu talento e paciência para o sound design das faixas. “Hop It”, de 2013, é um curto conjunto de beats não terminados dos últimos três anos. Em sua boa parte entre o range de 80 a 90 bpm, possui texturas interessantes e basslines muito trabalhados. “Altered Carbon”, de 2014, feito para o selo inglês Lost Tribe Records, continua a sua história escrevendo beats tortos, dessa vez focados mais em um range entre 60-70 bpm e voltando a assumir as raízes do jungle. “Time Left”, de 2015, recém-lançado, é o fechamento desse ciclo e o início de outro – aqui os timbres se tornam mais apoteóticos e a sensação é de uma retomada a um boombap mais cadenciado, com uma camada de sons que poderia facilmente ter saído de algum sci-fi contemporâneo.
Sono TWS
Marcelo Innocente, jundiaiense do bairro Colônia, pavimentou sua história através da música jamaicana e a cultura soundsystem. Seu coletivo, “You & Me On a Jamboree”, tem inegável contribuição para a cultura reggae no Brasil. Junto com o “Jurassic Soundsystem” e seu alter-ego Blackscorcha, Sono passou os últimos dez anos colecionando e respirando música jamaicana. Pesquisador de compactos raros e obscuros, Sono começou a produzir algumas bases no ano de 2013. Com o intuito de produzir novas sonoridades fora do tradicional reggae jamaicano, Sono TWS começa suas atividades como produtor de beats instrumentais com a primeira mixtape intitulada T.W.S. – em homenagem aos seus companheiros do graffiti e referências primárias, como o hip-hop Golden Era. Sono introduziu no selo a cultura das fitas K7, tanto no primeiro quanto na sua segunda mixtape, “Mocado”, uma viagem nas referências culturais. Para o futuro, a compra de novos equipamentos analógicos e uma busca constante pelo aprimoramento de técnicas de sampling e composição, fazem Sono TWS ser um dos produtores mais interessantes da nova safra de beats instrumentais no Brasil.
Bento
Rodrigo Bento, carioca da Zona Norte, cresceu num ambiente diferente do resto do Rio de Janeiro. A Ilha do Governador, hoje lar do Galeão, vai na contramão de sua cidade: ali ele pode ficar num tipo de zona neutra de qualquer referência cultural que a cidade lhe reservaria. Sendo assim, Bento é daqueles jovens da geração Z – internet e videogames desenharam suas referências culturais. Designer em formação, Bento começou a escrever beats num Guitar Pro 2, em midi mesmo. Depois de algum tempo, passou para o FL Studio, aonde começa a assumir personalidade introspectiva, porém carismática, transcrevendo para sua música a identidade de sua formação e influências – os loops certeiros e baterias “sloppy” do Dilla aqui ganham um tom brasileiro em alguns momentos, em outros, puramente eletrônico, oito bit. Seu primeiro EP, “Bento”, de 2013, é um resumo de dois anos de produção em oito faixas. Integrante do grupo de rap Morlockz, com base em São Paulo, Bento divide seu tempo entre dois estágios, produções próprias, videogame, Twitter e bases para os MCs do grupo.
Soul One
Thiago Salvioni discoteca desde muito cedo. Sua paixão por techno começou ainda na adolescência, onde chegou a discotecar em festas do gênero no antigo Lov.e Club, clássico da noite paulistana na Vila Olímpia. Desde então, sua produção passeou pelo rap, sua outra paixão, com alguns momentos reservados ao darkwave, post-punk e post-hardcore. Seu primeiro álbum, “Ardilosa”, é uma conversa com suas velhas referências e sedes novas. O primeiro split na Beatwise, “Cinza/Musgo”, é um passeio pelos cantos escuros da cidade. A textura rugosa dos synths conversa bem com a sujeira dos céus de São Paulo, e os graves nublados são o complemento perfeito para o seu habitat urbanóide. Seu segundo álbum, “Pulso”, de 2013 (independente), veio com as referências darkwave evidentes nas timbragens e escalas. “Eras”, seu último trabalho pela Beatwise, é o meio termo entre suas ambiências bucólicas e grooves eretos do rap. Paulistano da Zona Leste, Soul One faz parte do coletivo Metanol FM, que organiza festas de rua, rádio online e eventos trazendo artistas internacionais e nacionais para divulgação dessa nova cultura eletrônica. Em atividades nos últimos sete anos, a Metanol FM se consolidou através dos seus integrantes na cena musical brasileira.
MJP
Marcelo JP, ou MJP, é artista gráfico e produtor musical integrante dos coletivos Metanol FM e Metagrafismo, além de integrar os selos Beatwise Recordings, Factus Records e Aural Records. Como produtor e seletor musical, transita pela música experimental e a eletrônica em uma mistura de estilos entre o bass, beats, techno, house e juke. Seus trabalhos gráficos, as pinturas e fotografias são diretamente ligadas às referências da arquitetura e a vida urbana, buscando uma linha abstrata sensorial e o equilíbrio estético. Entre outras exposições, já participou da coletiva Printshoq, da Choque Cultural, onde também lançou uma série de gravuras entre 2011 e 2012. Entre suas apresentações, tocou ao lado de importantes nomes internacionais que fazem parte de suas influências musicais, como Machinedrum, DJ Rashad, Onra, Free the Robots, Galun e Thavius Beck. Em 2013 foi selecionado para participar do Red Bull Music Academy Bass Camp São Paulo. MJP também esteve presente na coletânea Hy Brazil Vol 3., organizada pelo produtor Chico Dub.
Abud
Abud começou seus trabalhos como DJ no extinto Berlin, um dos clubes mais lendários de São Paulo, lugar onde a cena do jazz alternativo paulistano se expandiu e consolidou bandas como Otis Trio, Martinez, entre outros. Walter Abud começou aos 18 anos sua pesquisa de discos e obscuridades da música brasileira e soul internacional. Seu caminho para a produção musical foi natural após anos atuando como pesquisador musical, DJ e músico nas horas vagas. Seu primeiro release na Beatwise, “São Paulo Jazz Impressões”, de 2014, teve uma boa repercussão na mídia especializada e conta com a participação de Beto Montag, vibrafonista de jazz da elite musical de São Paulo.