O conjunto de obras cinematográficas brasileiras tem um rótulo que carrega há alguns anos, o de se aproveitar de problemas sociais e políticos para ser tema de suas produções. Isso é um fato que ao longo desses lançamentos revelou projetos interessantes, não apenas por retratar nossa triste realidade dessa forma aproximando o público, mas sim por explorar um tema delicado e complexo de forma à passar sua real mensagem. É nesse sentido que o mais novo projeto do talentoso comediante Leandro Hassum chega aos cinemas brasileiros com o longa O Candidato Honesto.
No Brasil existe uma neutralidade incompreensiva (ao se tratar do estudo e compreendimento da politica na sociedade) para um povo que à todo momento clama por justiça, essa realidade ficou mais clara para todos nós no último ano quando milhões de pessoas foram as ruas em busca de chamar a atenção dos políticos desse país para os graves problemas internos. A grande verdade que quase, ou nada, mudou desde então devido exatamente à indiferença e o conhecido “comodismo” com que o povo brasileiro trata um assunto tão sério que interfere diariamente em sua vida. Esse fato causa bastante desconforto em muitos estudiosos e intelectuais brasileiros, como um país consegue conviver com tanta obscuridade, corrupção desenfreada? Este último aspecto é um dos fatores que mais prejudica nossa nação, e é exatamente aonde este novo projeto do cineasta Roberto Santucci, responsável pelas comédias de sucesso “De Pernas pro Ar” e “De Pernas pro Ar 2”, tem como base o seu roteiro.
Assim que começa a exibição temos à sensação de ter visto, em algum momento, os eventos apresentados. Apesar de conduzido de forma diferente, este sentimento não se torna errado ao compararmos o filme brasileiro com a produção hollywoodiano “O Mentiroso” estrelado por Jim Carrey. Em O Candidato Honesto podemos ver quase que exatamente a realidade da politica nacional, aonde designamos poder (devido nossa democracia representativa) à pessoas que na verdade não mereciam se quer chegar próximo de seus cargos políticos. É difícil falar de uma produção com temática cômica, mas que carrega assuntos tão sérios, e não se atentar a falta de respeito com que somos tratados à todo momento por nossos políticos. O roteiro de Paulo Cursino – escritor das comédia “Até que a Sorte nos Separe” e “Até que a Sorte nos Separe 2”, encontra no ator Leandro Hassum sustentação necessária para conduzir sua trama. O longa gira em torno de um presidenciável corrupto que, contra sua própria vontade, acorda um dia e só consegue falar a verdade, usando e abusando de um humor escrachado, que em diversos momentos se torna desconfortável, o longa faz uma sátira aos políticos de hoje e não poupa direita nem esquerda, oposição nem poder.
As comédias nacionais, e muitas vezes filmes que abordam conteúdo da nossa realidade, usam e abusam de uma construção narrativa bastante equivocada, aonde acreditam que para se aproximar da realidade brasileira devem se utilizar de palavras pejorativas (muitas vezes se tornando constrangedoras para quem assiste). Isso é um fardo que carregamos ao longo da nossa filmografia, quase que desde sempre, o uso correto dessas palavras e expressões (utilizadas em diversas produções internacionais) não causaria o desconforto, mencionado anteriormente, e não rotularia ainda mais nossas produções. Apesar de se tratar de um humor bastante escrachado, o que talvez explicaria o tom apelativo, o longa se perde exatamente neste momento ao escolher (erroneamente) se utilizar desses termos, o que em muitos momentos do longa ocasiona uma nítida perca de ritmo (isso é grave em se tratar de comédia) e ainda culminando em cenas desconexas e que em certos momentos não retrata nem um pouco a realidade da política. A própria direção de Roberto Santucci, assim como todo filme, oscila bastante ao decorrer da projeção não conseguindo se destacar perante um roteiro bastante falho em sua construção. Claro que o longa, por se tratar de um assunto bastante atual devido as eleições desse ano, consegue apresentar algumas cenas interessantes, e que de certa forma, muitos espectadores conseguirão entender realmente a mensagem inicial. O longa aborda ainda alguns outros conflitos (de forma superficial), não apenas politica em si, como questões familiares – aonde podemos ver que as ações de certos políticos resultam diretamente na base da sociedade.
Vivendo o corrupto candidato a presidência João Ernesto, o ator Leandro Hassum se encontrar bastante confortável no filme – apesar de sua forma de atuação na comédia vir se tornando bastante repetitiva devido a inúmeros projetos seguidos, tanto no cinema como na televisão. No drama podemos ver que Hassum ainda tem bastante o que apresentar ao público, mas conhecendo o cinema nacional/televisão podemos afirmar que, infelizmente, não conseguiremos ver o ator em outros gêneros, algo comum no cenário nacional, dessa forma ficará preso ao rótulo de comediante durante um bom tempo, o que pode vir a se tornar cansativo e repetitivo, e com isso ir perdendo um pouco do brilho e destaque atual. Uma grata surpresa nesta comédia nacional fica para a repórter Amanda (vivida pela atriz Luiza Valdetaro), que à todo momento se destaca em cena ao servir de apoio na construção da trama.
A comédia O Candidato Honesto, assim como quase todos projetos nacionais, ao tentar contar uma história forma descontraída e divertida, opta por usar e abusar de erros cometidos repetidamente em outros projetos brasileiros. Palavras de baixo calão sendo jogadas ao vento, cenas apelativas que não contam e não contribuem com absolutamente nada para a trama, personagens e atuações mais que caricatas, e ainda um roteiro que está bem longe de ser original.
No geral, a ideia inicial do longa era tratar um assunto sério e pesado de forma mais “light”, se utilizando de sátiras e da própria comédia, porém acaba caindo no erro, que muitas produções nacionais cometem, de achar que a comédia está na utilização de diálogos sujos e que esses nos aproximam mais da realidade, algo que não acontece no dia a dia de ninguém, quem em consciência normal costuma usar a todo momento “palavrões” um atrás do outro e de forma desconexa e sem sentido algum? Além disso a comédia, perde o foco e se torna quase que um besteirol, dessa forma distanciando ainda mais o público de um assunto que deveria ser levado um pouco mais a sério. Apesar de todos esses problema, o longa consegue, de certa forma, passar sua mensagem sobre a corrupção que existe na politica nacional.
O filme é incoerente e machista! Já que a primeira honestidade dele é dizer que uma mulher que é indiscutivelmente magra é gorda. A segunda honestidade é desrespeitar e abusar sexualmente a apresentadora de TV. A terceira honestidade é trair a esposa, transando com a secretária no escritório. A quarta, acho que é a única, ele recusa o dinheiro. A quinta é tentar transar com a jornalista. Isso só para começar. O filme tem muito mais machismo que isso. Não podemos compactuar com uma coisa dessas em pleno 2014.