Ingmar Bergman ficou muito próximo de muitos de seus atores e atrizes principais, chegando a preservar traços das personalidades dos intérpretes em algumas personagens de seus filmes. Para essa pauta, sugerimos entrevista com Pedro Maciel Guimarães, professor e pesquisador em História e Estética do Cinema e Audiovisual, doutor pela Sorbonne Nouvelle (Paris 3) e pós-doutor pela ECA-USP, que participará da programação paralela da mostra INGMAR BERGMAN – INSTANTE E ETERNIDADE, no dia 6 de maio, às 19h, ministrando a palestra Bergman e os Atores: Desejo e Individualidade.
Além dos mais de 50 filmes, o cineasta sueco produziu mais de 200 peças teatrais. Da vivência dos palcos, é possível que Bergman tenha transferido a ideia de ‘trupe’ para o cinema. Filmava-se e vivia-se então sempre com as mesmas pessoas, o que estreitava as interações entre o grupo de artistas e também entre a equipe de produção.
O professor e pesquisador Pedro Maciel Guimarães aponta que Bergman trabalhava com os mesmos atores em diferentes filmes porque “estabelecia relações de proximidade com eles, eram seus amigos pessoais e as mulheres com quem se relacionava”. O diretor costumava escalar uma equipe básica de atores, entre eles Erland Josephson, Harriet Andersson, Liv Ullmann e Gunnar Bjornstrand, que atuaram em obras-primas como O Sétimo Selo, Gritos e Sussurros, Sonata de Outono, Fanny e Alexander e outros clássicos bergmanianos.
Discreto, Bergman se relacionou amorosamente com algumas de suas atrizes nos bastidores, mesmo quando casado. Maciel destaca algumas delas, como Harriet Andersson, um relacionamento de três anos, Bibi Andersson, com quem se envolveu entre 1955 e 1959, e Liv Ullmann, com quem foi casado de 1965 a 1970. O caso de Liv foi peculiar. Apesar de o casamento, do qual nasceu uma filha, ter durado por cinco anos, a relação que mantiveram enquanto artistas, amigos e companheiros se estendeu por mais 37.
Liv tinha apenas 25 anos, e era uma atriz novata, com poucos filmes no currículo quando foi convidada por Bergman, que tinha 46 anos e já era considerado um dos maiores cineastas vivos do seu tempo, a trabalhar no filme Persona. A partir daí, nunca mais se separaram. Bergman dirigiu Liv em doze produções, e mantiveram durante muito tempo uma colaboração muito rica para o cinema. Segundo Bergman, os dois passaram a vida toda “dolorosamente conectados”.
Entretanto, como ressalta Pedro Maciel, as preferências amorosas de Bergman não influenciavam suas obras, ainda que pudesse haver alguma diferenciação no modo como ele filmava as mulheres com as quais se relacionava. Um caso especial é o filme Mônica e o Desejo. Harriet Andersson, a atriz principal, era mulher de Bergman. Maciel se apoia na crítica do francês Alain Bergala para afirmar que a obra retrata essencialmente um homem filmando seu objeto de desejo.
Mantendo relacionamentos com seus atores, seja de cunho profissional, amoroso ou de amizade, era necessário que Bergman preservasse a individualidade dos intérpretes dentro dos filmes, estabelecendo a coexistência entre ator e personagem no mesmo corpo, em um procedimento comum ao cinema moderno. Maciel destaca que o esforço de Bergman era em
Um exemplo desse procedimento fica explícito A Paixão de Anna, no qual Bergman interrompe a narrativa para entrevistar seus atores, extraindo deles o ponto de vista sobre o personagem. Outros diretores como Godard, Manoel de Oliveira e Marguerite Duras seguiram os mesmos passos.
Muitos atores escolhidos por Bergman consagraram-se internacionalmente, fazendo filmes mundo afora. Ainda hoje diversos cineastas privilegiam o trabalho de certos artistas, como é o caso das parcerias entre Martin Scorsese e Robert De Niro, Wes Anderson e Bill Murray, Pedro Almodóvar e Penélope Cruz e várias outras duplas, o que atesta a pertinência de relações mais estreitas entre diretores e atores na produção criativa da sétima arte.
Filmografia completa e raridades – A Fundação Clóvis Salgado, por meio da Gerência de Cinema, realiza até o dia 12 de maio a mostra Ingmar Bergman – Instante e Eternidade, considerada a maior já realizada no Brasil dedicada ao cineasta. Em um total de 160 sessões, serão exibidos 78 filmes que compõem a filmografia completa e algumas raridades como curtas metragens, making ofs e releituras para a TV de peças de teatro. As cópias, em formatos 35mm, 16mm, digital e DCP, que juntas pesam aproximadamente uma tonelada, foram importadas da Suécia, Inglaterra e Estados Unidos.
A programação conta também com cursos, palestras e debates. Haverá ainda a exibição de duas trilogias: A Trilogia do Silêncio e uma trilogia de filmes com traços autobiográficos escritos por Bergman e dirigidos por outros cineastas.
Atividades da programação paralela da Mostra
- CURSO
Evento: Curso O Cinema de Ingmar Bergman
Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes / Fundação Clóvis Salgado
End.: Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro – Belo Horizonte/MG
Data:1º a 3 de maio (quinta a sábado)
Horário: quinta e sexta-feira, das 9h às 12h, e sábado, das 10h às 13h.
Ministrante: Mateus Araújo, doutor em filosofia pela UFMG e pela Université de Paris I (Sorbonne), ensaísta e professor de Cinema da ECA- USP.
Preço: Acesso gratuito. Inscrição via envio de mini currículo ou justificativa para o e-mail cursos.cinehumbertomauro@gmail.com até o dia 10 de abril. O resultado dos aprovados será divulgado no site da Fundação Clóvis Salgado no dia 24 de abril.
- DEBATES
Evento: Debate A obra de Ingmar Bergman
Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes / Fundação Clóvis Salgado
End.: Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro – Belo Horizonte/MG
Data: 25 de abril (sexta-feira)
Horário: 19h
Debatedores: Victor Guimarães (pesquisador e crítico de cinema – MG); Marcelo Miranda (jornalista e crítico de cinema – MG); Sérgio Borges (cineasta – MG) | Mediador: Rafael Ciccarini (curador da mostra)
Preço: Acesso gratuito
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Evento: Debate Montando Bergman – conversa com os diretores e atores da peça Sarabanda, sobre a experiência de adaptação e montagem de um espetáculo teatral a partir do filme Saraband de Ingmar Bergman.
Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes / Fundação Clóvis Salgado
End.: Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro – Belo Horizonte/MG
Data: 9 de maio / Horário: 19h / Preço: Acesso gratuito
Debatedores: Grace Passô e Ricardo Alves Jr. (diretores); Rita Clemente, Gustavo Werneck, Marina Viana e Rômulo Braga (atores).
- PALESTRA
Evento: Palestra Bergman e os Atores: Desejo e Individualidade
Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes / Fundação Clóvis Salgado
End.: Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro – Belo Horizonte/MG
Data: 6 de maio
Horário: 19h
Palestrante: Pedro Maciel Guimarães, professor e pesquisador em História e Estética do Cinema e Audiovisual, doutor pela Sorbonne Nouvelle (Paris 3) e pós-doutor pela ECA-USP.
Preço: Acesso gratuito
MOSTRA INGMAR BERGMAN – INSTANTE E ETERNIDADE
Evento:Palestra “Bergman e os Atores: Desejo e Individualidade”, ministrada pelo professor e pesquisador Pedro Maciel Guimarães
Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes / Fundação Clóvis Salgado
End.: Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro – Belo Horizonte/MG
Data: 6 de maio
Horário: 19h
Preço: Acesso gratuito
Informações para o público: (31) 3236-7400
*As informações são de responsabilidade de seus organizadores e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio.