No próximo dia 14 de março o Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro comemora o centenário de nascimento da escritora Carolina de Jesus (1914-1977). Conhecida por Quarto de despejo, lançado em 1960, o livro aborda sua vida na favela do Canindé, em São Paulo. Sucesso imediato, foi traduzido para 15 idiomas e vendeu na época dez mil exemplares em apenas um mês, indício dos oitenta mil vendidos ao longo de sua carreira.
O evento Carolina é 100, organizado pelo IMS-RJ, apresentará nesse dia o documentário Favela: a vida na pobreza (Favela – Das Leben in Armut), dirigido pela alemã Christa Gottmann-Elter, em 1971, e até hoje inédito no Brasil. Baseado no livro de estreia de Carolina, é protagonizado pela própria escritora e mostra o cotidiano na favela do Canindé, onde morou durante três décadas, até sair para viver o sucesso do livro.
Esse documentário foi vastamente mencionado na cronologia de Carolina de Jesus com o título livre de O despertar de um sonho. Por expor a extrema miséria no Canindé, o filme teria desagradado o então embaixador do Brasil em Bonn, na Alemanha, que vetou sua exibição no país de Carolina. Foi recentemente restaurado e legendado em português pelo IMS.
Após a exibição do filme haverá uma mesa de debate com a presença do jornalista Audálio Dantas, descobridor de Carolina de Jesus e compilador de Quarto de despejo, e da professora e crítica literária Marisa Lajolo, que já se deteve sobre a poesia de Carolina de Jesus.
Sobre Carolina de Jesus:
Autora que estreou com retumbante sucesso editorial, Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento (MG), em 14 de março de 1914. Do pouco que se conhece sobre sua infância, sabe-se que estudou no Colégio Allan Kardec, do Grupo Espírita Esperança e Caridade, na sua cidade natal. Depois de peregrinar com a mãe em busca de trabalho pelas cidades do interior paulista, Carolina chegou à capital do estado em 1947 e se instalou na favela do Canindé, de onde saía todo dia para trabalhar como catadora de papel. Assim como viveu o cotidiano cruel da favela, conheceu artistas nas saídas dos teatros e acabou por se aproximar do jornalista Audálio Dantas que, ao ler os diários daquela mulher negra e pobre, escritos nos mais diversos tipos de papel, reconheceu neles algum talento. Antes, Carolina se considerava escritora e sonhava alto: queria ser publicada em inglês, nos Estados Unidos. Para começar, Audálio Dantas orientou- a junto à editora Francisco Alves, acompanhou o contrato de edição e, em 1960, Carolina Maria de Jesus lançaria seu primeiro livro, Quarto de despejo, que vendeu dez mil exemplares em um mês.
O sucesso de vendas representou sua saída da favela do Canindé e a hostilidade dos moradores daquela comunidade, que se sentiram expostos na obra então recém-lançada. Foi traduzido para 15 idiomas. Carolina de Jesus conheceu o sucesso e o fracasso quase simultaneamente. Não só teve a glória de se hospedar no Copacabana Palace, a convite da revista Life, em 1960, como, no ano seguinte, a RCA lançou um disco com canções em que ela assina letra e música. No entanto, a fama durou pouco. À inabilidade para lidar com o dinheiro, somou-se o fracasso com as publicações posteriores: Casa de alvenaria: diário de uma ex-favelada, de 1961; Provérbios; e Pedaços da fome, de 1963. A última obra, Diário de Bitita: um Brasil para brasileiros, publicada primeiro na França pela prestigiosa Éditions Métailié, com o título de Journal de Bitita, de 1982, saiu no Brasil em 1986. Depois de conhecer a fama, a autora voltou à vida de pobreza. Morreu em 13 de fevereiro de 1977, na casa de um dos quatro filhos. Boa parte do acervo da escritora encontra-se na Biblioteca Nacional. O Acervo Carolina Maria de Jesus pertencente ao Instituto Moreira Salles chegou em 2006. É formado de arquivo contendo dois cadernos manuscritos: um deles intitulado Um Brasil para os brasileiros: contos e poemas, e outra coletânea similar, sem título. O conteúdo desses cadernos está parcialmente publicado.
Carolina é 100
Exibição do documentário Favela: a vida na pobreza (1971, 16’); mesa de debate com Audálio Dantas e Marisa Lajolo.
Data: 14 de março às 20h
Entrada gratuita | Distribuição de senhas a partir de 19h30 (até duas por pessoa), por ordem de chegada.
Sujeito a lotação.
Data: 14 de Março de 2014 | Horário: 20h
Local: Instituto Moreira Salles
Endereço: Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
Classificação etária: 14 anos
Ingressos: Entrada gratuita | Distribuição de senhas a partir de 19h30 (até duas por pessoa), por ordem de chegada.
Informações para o público: (21) 3284-7400
*As informações são de responsabilidade de seus organizadores e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio.
Gostaria muito de assistir a esse filme! Deveria ser uma obra de domínio público, dada a sua imensa relevância. Como poderia eu ter acesso? Já procurei muito e não encontrei. Gostaria de assistir e mostrar aos meus alunos.