Sandra Cinto apresenta obras inéditas na Casa Triângulo

Desde 2006 com Construçãoque Sandra Cinto não realiza uma mostra individual na Casa Triângulo. Artista premiada e reconhecida internacionalmente, Sandra Cinto apresenta Pausa., com obras inéditas, a partir do dia 8 de outubro, terça-feira, ocupando todos os espaços da galeria. O texto de apresentação é do curador Moacir dos Anjos e a exposição permanece até 9 de novembro com entrada franca.

Atualmente a artista está realizando diversas mostras individuais: A Casa das Fontes, na Casa do Sertanista [até 30 de novembro], São Paulo; Encounter with Waters, no Olympic Sculpture Park Pavilion do Seattle Art Museum, no Seattle Art Museum [até 17 de fevereiro de 2014] e das mostras coletivas: 3am: wonder, paranoia and the restless night, com curadoria de Angela Kingston, no Bluecoat, em Liverpool [com abertura no último dia 28 de setembro] e Analogias, no Museu Brasileiro da FAAP, São Paulo [até 13 de outubro].

Para Moacir, “Ao criar essa cadência visual de aproximação e de afastamento dos traços que formam as pautas, a artista sugere truncar a capacidade da música de marcar os momentos que passam. Faz que o desenho – expressão muda – demande a suspensão impossível do tempo que, ao fim e ao cabo, sempre corre”, explica em texto que segue completo abaixo.

Até a altura em que a vista consegue discernir algo, as paredes da sala – pintadas em cor próxima à de papel gasto – estão todas cobertas de finos traços horizontais e paralelos. A lembrança de pautas musicais é imediata, ainda que agigantadas e sem acolher qualquer notação de sons articulados. Abrigando somente o silêncio e a pausa, elas paradoxalmente evocam, por meio de sua ostensiva presença, o fato de serem lugares onde se marca, por meio da música, o inevitável fluir do tempo. Há algo, contudo, que perturba essa aproximação entre os campos visual e sonoro que Sandra Cinto promove. Em vez de regulares, como seria esperado desses suportes de escrita musical, os espaços entre as linhas riscadas nas paredes vão gradualmente se reduzindo desde cima e a partir de baixo, de modo que, em um dado ponto, quase se confundem em uma única linha mais grossa. Ao criar essa cadência visual de aproximação e de afastamento dos traços que formam as pautas, a artista sugere truncar a capacidade da música de marcar os momentos que passam. Faz que o desenho – expressão muda – demande a suspensão impossível do tempo que, ao fim e ao cabo, sempre corre.

Nessa mesma sala grande, Sandra Cinto ajunta ainda outros tantos índices da música que está ausente das pautas desenhadas. Instrumentos diversos – violoncelo, contrabaixo, violinos, flautas – são fixados ou apoiados na parede ou sobre o piso, sempre destituídos de sua função de emitir os sons que lhes são próprios. Alguns são mesmo combinados entre si ou com outros objetos para formar algo inédito, como se aproximados em cópulas que anulam seus atributos singulares. Outros, por terem sido de alguma maneira modificados ou por deles faltarem partes, tornam-se igualmente impossíveis de ser tocados. Os instrumentos feitos de madeira são pintados da mesma tonalidade das paredes, como se ecoassem, para além daquela superfície plana, o silêncio que emana delas. Sobre as superfícies sinuosas desses objetos de tocar, a artista faz desenhos que são, todavia, em tudo diversos das linhas regulares que cobrem os muros da sala: imagens de paisagens inventadas de montes ou mares, todos feitos de traços curvos e delgados. De novo, a evocação da música é aqui feita somente para pausá-la, como se os breves intervalos de silêncio entre sons que a tornam possível fossem fixados e alongados por duração incerta.

Na sala menor, aonde se vai subindo escada, a pauta desenhada nas paredes vira quase somente rodapé, como se até a já silenciosa remissão à música feita na outra sala não pudesse alcançar esse espaço. No centro de ambiente que convida à voz baixa e ao andar devagar, Sandra Cinto dispõe uma estranha vitrine que está dentro de outra e de mais uma terceira, na qual se guarda somente um caderno de pautas musicais e uma concha, construção natural capaz de reproduzir o murmurar do movimento das águas. Assim tão fechado por detrás de vidro, o livro não serve, contudo, para anotar música; tampouco é possível levar a concha ao ouvido para ouvir a memória do mar. Outra vez, uma pausa é criada para escutar, no espaço inventado da sala, o silêncio que quase o tempo inteiro escapa da vida ordinária.

Há, por fim, mais uma peça que a artista oferece aos outros, na qual torce e refaz os sentidos que se insinuam nas anteriores. Lá fora, já afastada do controlado ambiente das salas expositivas, encontra-se uma mesa feita para aproximar pessoas em torno de conversa calma e da partilha de qualquer coisa. Uma mesa que recorda, na construção e nos riscos que cobrem seu tampo, os objetos e as pautas musicais encontrados dentro da galeria, mas que com o uso incorporam, por meio de inevitáveis marcas e manchas, os rastros da passagem daqueles que ali sentaram e sentam. Como se nessa mesa Sandra Cinto finalmente conciliasse a vontade de pausar a vida e o reconhecimento de que tudo que nela passa provoca ruídos. Como se a mesa fosse música.

SERVIÇO
Pausa. Individual de Sandra Cinto
Abertura: 08 de outubro das 19 às 22 horas
Período da exposição: de 09 de outubro a 09 de novembro de 2013
Local: Casa Triângulo
Endereço: Rua Pais de Araujo 77  [Itaim bibi] Tel: 11 3167-5621
e-mail: info@casatriangulo.com
Site: www.casatriangulo.com

*As informações são de responsabilidade de seus organizadores e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *