Qual pessoa na face da Terra imaginaria o furor que o “Nevermind”, segundo disco de estúdio da banda Nirvana, causaria no cenário fonográfico? Para ser mais específico, na música pop. Pop. Oi? Pois é. Realmente ninguém imaginava a que patamar esse álbum chegaria. Ah, a pressão do segundo álbum. Geralmente o termo “segundo álbum” soa como um carma para maioria das bandas/artistas, pois se o primeiro álbum foi bom, o segundo tem que ser ainda melhor. E, como é de se supor, o primeiro disco, de certa forma, molda o que virá pela frente.
No final da década de 80, a banda já havia se consolidado no cenário grunge de Seattle. “Bleach”, o primeiro álbum deles, apresenta o Nirvana em sua primeira formação: Kurt Cobain (vocais, guitarra, composição), Krist Novoselic (baixo) e Chad Channing (bateria). Assim como todo primeiro álbum, apresentava um som bem pesado, cru e sem firulas. Os vocais rasgados e o ar pessimista de Bleach visivelmente se diferem do soft punk lapidado do álbum em questão e tema desta coluna: Nevermind, lançado pela David Geffen Company.
A 24 de setembro de 1991, o trio de Seattle lançaria o álbum que mudaria a história do movimento grunge: Nevermind. Lançado sem grandes pretensões, atingiu o topo das paradas em janeiro de 1992, arrancando sem dó nem piedade o disco Dangerous, de Michael Jackson de lá de cima. Enérgico e ao mesmo tempo mais tranquilo do que o disco anterior, Nevermind foi produzido por Butch Vig, o cara por trás de discos como Gish, Smashing Pumpkins, e Dirty, do Sonic Youth. Vig, que sabia da admiração de Kurt por John Lennon, usou e abusou dos overdubs e dos delays (as famosas “dobras vocais” que tanto o caracterizam).
Kurt notou que a banda estava em constante mutação. Os primeiros anos eram raivosos. Bem raivosos mesmo. Com o passar do tempo, a sonoridade deles foi ficando mais pop. Afinal, Kurt gostaria que o novo trabalho soasse justamente como uma mistura de sons mais pesados e leves. Eles conseguiram com que o hardcore e o hard rock soassem melódicos. Durante as sessões de gravação do Nevermind, Cobain e Novoselic não ficaram satisfeitos com a performance de Channing e ele, por sua vez, achava que não estava realmente ativo nas composições, sentindo-se deslocado e etc. Em setembro de 1990, Buzz Osborne, da banda Melvins, apresentou Dave Grohl ao Nirvana. Pouco tempo depois, fizeram um teste com ele e Novoselic afirmou, satisfeitos: “Nós sabíamos em dois minutos que ele era o baterista certo”.
O primeiro single, Smells Like Teen Spirit, tocou a rodo na MTV e foi um excelente ponto de partida. Porém, sem grandes expectativas. Para a gravadora era uma simples música de rock alternativo, assim como o próximo single, Come As You Are. O terceiro single foi Lithium e o quarto e último In Bloom. O disco também conta com as excelentes Polly, Stay Away (destaque na fúria dos vocais intensos e rasgados de Cobain) e Drain You. A gravadora esperava que o Nevermind vendesse cerca de 250 mil cópias. Acontece que vendia como água: 400 mil cópias por semana só nos Estados Unidos. Engraçado a gravadora não ter colocado fé num álbum tão icônico, desde sua composição à famosa capa do bebê sendo pescado por uma nota de um dólar. Acabou que, no final, acabaria por vender 35 milhões de cópias.
Ironicamente, Cobain nunca soube lidar com o sucesso. Ele ficava desgostoso com toda essa idolatria por parte daqueles que só curtiam a banda porque fazia sucesso. De acordo com o próprio, ele preferiria nunca ter chegado onde chegou por causa disso. Claro que ele odiou ter influenciado gerações e ter feito parte de uma banda que moldou todo o cenário musical que viria a seguir.
O grunge, também conhecido como Seattle Sound, trata-se de uma combinação de punk e heavy metal. Quem iniciou ele? Está certo que duas das primeiras bandas a iniciarem o estilo foram Soundgarden e o Greenriver, mas ainda assim não se sabe ao certo. Assim como não se sabe quem começou o Punk: Pistols ou Ramones? O estilo, ao lado do punk rock, ajudou a simplificar o rock. Com apenas três acordes, o estilo saiu um pouco daquela complexidade do metal dos anos 70 e 80. Sabe como o menos se torna mais? Então.
O Nirvana foi, inclusive no número de álbuns lançados (apenas três), uma espécie de furacão. Tão rápido quanto o movimento grunge em si. Não durou muito, devido a morte de Kurt em 1994. No começo de 1994, a banda entrou em turnê pela Europa. Em Roma, Courtney Love, esposa de Kurt, o encontrou inconsciente no quarto de hotel, devido a reação de uma combinação de Rohypnol e álcool. O resto da turnê teve de ser cancelada. O vício em heroína voltou, o que o fez ir pra rehab. Menos de uma semana lá, Kurt pulou o muro de lá e pega um avião de volta pra Seattle. Uma semana depois, 8 de abril de 1994, numa sexta-feira, ele foi encontrado morto com um tiro de espingarda na cabeça.
Teria Kurt se matado por não aguentar a pressão da fama? Provavelmente. Ele sempre teve essa tendência suicida. Essa aura autodepreciativa que todos estavam tão acostumados. Será que se estivesse vivo ele agiria diferente? Difícil discutir uma mente tão brilhante e, ao mesmo tempo, tão perturbada como a deste ícone.
Nevermind, mesmo depois de 21 anos, ainda soa ligeiro e intenso. Justamente por ser tão despretensioso que ele chegou num patamar que muitos duvidaram: ele popularizou o movimento grunge, além de tirar o rock alternativo do anonimato, dando cada vez mais espaço a essa vertente. A Universal comprou a Geffen e relançou o disco no ano passado em um pacote contendo 4 CDs e 1 DVD, com raridades, b-sides e gravações totalmente inéditas. O disco encabeça a lista dos 100 Melhores Discos dos Anos 90, além de figurar o segundo lugar da lista dos Melhores Álbuns de Rock da História, do canal de TV VH1, ficando atrás do Revolver (1966), dos Beatles. Poder?
Em outras palavras: Nirvana estava na hora certa, no lugar certo. Confira abaixo algumas faixas deste icônico disco:
Simplesmente magnifico. sem palavras.
Nevermind é um álbum foda,escuto todo dia,mas o In Utero é o melhore deles.