Em nove décadas, muito se pensou e se escreveu sobre a Semana de Arte Moderna de 1922, seus artistas e suas obras. Aos poucos, o repúdio inicial foi dando lugar à celebração e à consagração definitiva do termo modernismo e de tudo o que foi ligado a ele. Com o objetivo de fazer um balanço sobre a influência modernista em diversas artes – literatura, música, artes plásticas e arquitetura –, o Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro organiza o curso Modernismo e Modernidades, que tem início no dia 23 de agosto. As aulas são sempre às quintas-feiras (duas por dia), das 19h às 21h, e vão até 20 de setembro. As inscrições devem ser feitas no IMS-RJ a partir do dia 2 de agosto (quinta-feira). Valor: R$ 400. Aulas avulsas: R$ 100. Concepção de Eucanaã Ferraz e Eduardo Coelho. Mais informações sobre as aulas e os professores abaixo:
23/08 – LITERATURA
- Aula A brasilidade modernista, com Eduardo Jardim de Moraes (professor dos departamentos de Filosofia e de Letras da PUC–Rio).
Os principais pontos do ideário modernista, relativos à literatura e às artes em geral, foram tratados por Mário de Andrade. Será discutida a presença na obra do escritor de dois “tempos” do modernismo, nos anos 1920, cada um deles contendo uma visão do processo de modernização da cultura nacional: o primeiro defendeu uma solução “imediatista”, enquanto o segundo exigiu a definição dos traços específicos da cultura brasileira. Em seguida, será assinalada a concepção de Mário de Andrade do elemento nacional. Para o escritor, ele seria definido por uma via analítica, que operaria o recenseamento dos traços da cultura popular e folclórica. A esse respeito, serão abordados três temas: a especificidade das manifestações culturais brasileiras, o conceito de unidade cultural e o de tempo da brasilidade.
- Aula A poesia dos anos 1930: Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, com Murilo Marcondes de Moura (professor de literatura brasileira da USP).
A aula focalizará o ano de 1930, data fundamental para a poesia brasileira, com a publicação de Libertinagem, primeiro livro propriamente modernista de Manuel Bandeira, e as estreias de Drummond (Alguma poesia) e Murilo Mendes (Poemas). Qual foi a novidade da poesia dos anos 1930 em relação ao momento anterior, à chamada fase heroica do modernismo brasileiro? Tomando por base tal questão, serão abordadas as obras desses três poetas, que sintetizaram o que a lírica brasileira pôde realizar de melhor, tanto no que diz respeito às exigências estéticas das vanguardas históricas, quanto ao impulso de participação nos problemas do mundo.
30/08 – MÚSICA
- Aula Confrontos modernos: Carlos Gomes e Villa-Lobos, com Jorge Coli (professor livre-docente e titular de história da arte e da cultura na Unicamp).
Carlos Gomes e Villa-Lobos foram os dois compositores brasileiros que se projetaram solidamente no campo internacional. Ambos encarnaram um espírito brasileiro, tanto para seus compatriotas quanto para o público estrangeiro. A criação e a recepção da obra desses dois mestres conduzem a perceber paralelismos e convergências entre ambos. No entanto, os modernos, grupo ao qual Villa-Lobos se ligou, recusavam Carlos Gomes como “passadista”, e não reconheciam nele qualquer legitimidade “brasileira”. Essa aula tentará mostrar o quanto esses movimentos de aproximação e de afastamento permitem compreender aspectos cruciais dos constructos nacionalistas que, atravessando as rupturas, mais aparentes que verdadeiras, permanecem não só como força de invenção artística, mas ainda de ficções ideológicas.
- Aula Villa-Lobos e a música popular, com Paulo Aragão (arranjador e pesquisador)
A presença da música popular urbana do Rio de Janeiro é uma constante na obra de Heitor Villa-Lobos. Por outro lado, ele marcou profundamente a obra dos principais compositores da música popular brasileira do século XX. Essas inter-relações serão discutidas por meio de uma audição comentada. Serão analisados diversos excertos de peças de Villa-Lobos em que a presença popular se evidencia, seja em citações literais de obras de compositores como Ernesto Nazareth e Anacleto de Medeiros, seja em melodias ou desenhos rítmicos notadamente inspirados em recursos típicos do ambiente popular. Serão ouvidos trechos de alguns choros, quartetos de cordas e peças de música de câmara de Villa-Lobos, e será discutida a maneira como o compositor utilizava esse material musical.
06/09 – ARTES PLÁSTICAS
- Aula Ambições e limites do projeto modernista nas artes plásticas, com Carlos Zílio (artista plástico).
A aula abordará o modernismo nas artes plásticas, situando seus principais objetivos, como a construção de uma arte capaz de se demarcar no conjunto da produção internacional pelo que seria sua dimensão de brasilidade. Nesse sentido, serão estabelecidos referenciais teóricos para a compreensão dessa questão no âmbito da história da arte. Tendo em vista o problema da identidade brasileira e as conotações que o seu significado tomou no período compreendido entre 1922 e 1945, serão analisadas as três possibilidades elaboradas para essa operação de brasilidade por meio das obras de Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Portinari. Por fim, serão pensadas as ambições e as possibilidades do modernismo como projeto de afirmação cultural brasileiro.
- Aula A originalidade do concretismo carioca, com Luiz Camillo Osório (crítico de arte e professor do Departamento de Filosofia da PUC–Rio).
A aula discutirá o momento de formação do grupo concreto carioca, ainda no final da década de 1940, e sua contribuição na constituição de uma segunda modernidade brasileira. Serão destacadas duas características determinantes: o espaço de encontro do grupo inicial — constituído por Almir Mavigner, Abraham Palatnik, Ivan Serpa e Mário Pedrosa —, no Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro, e a influência indireta de Alexander Calder, principalmente por meio das críticas de Mário Pedrosa. Por um lado, o embate com a potência expressiva crua dos internos obrigava os jovens artistas a reverem procedimentos poéticos, descolados das convenções tradicionais. Por outro, pelos móbiles de Calder, assumia-se a forma plástica como um ativador lúdico do olhar, o que redefinia o modo de ser do espectador. A partir dessas duas redefinições, preparou-se o terreno para a fertilização da novidade neoconcreta no final da década seguinte.
13/09 – ARQUITETURA
- Aula A “guerra-santa” da arquitetura, com Roberto Conduru (professor de história e teoria da arte no Instituto de Artes da UERJ).
A aula abordará a arquitetura entre as décadas de 1920 e 1940, quando vigorou, no Brasil, uma pluralidade de teorias e formas, variando desde a arquitetura de cunho acadêmico, o dito ecletismo, e sua renovação, o movimento em prol de uma arquitetura tradicional brasileira, mais conhecido como neocolonial, até os desdobramentos locais das vanguardas artísticas e do movimento moderno. Essas divergências, formuladas por meio de textos, exposições, projetos e obras arquitetônicas, geraram intensos embates entre os campos e mesmo dentro deles. Serão destacados, nesse encontro, nomes como José Marianno Filho, Gregori Warchavchik, Lucio Costa, Rino Levi, Luiz Nunes e Oscar Niemeyer, que estiveram à frente de disputas travadas tanto pelo controle dos espaços institucionais quanto pelo domínio na configuração de valores como tradição, moderno e nacional. Processo que acabou reconfigurando a paisagem urbana, assim como o ensino, a crítica e a história da arquitetura no Brasil.
- Aula De Pampulha a Brasilia – versões e inversões da arquitetura moderna no Brasil, com Ana Luiza Nobre (arquiteta, professora do curso de arquitetura e urbanismo da PUC-Rio).
A aula será uma introdução aos caminhos tomados pela arquitetura no Brasil após a construção do Ministério da Educação e Saúde, com ênfase no imediato pós-Segunda Guerra, justamente o período entre a implantação do conjunto da Pampulha, projetado por Oscar Niemeyer em Belo Horizonte, nos anos 1940, e a construção de Brasília, inaugurada em 1960, segundo o Plano Piloto de Lucio Costa. Será feita uma apresentação dos projetos e das obras mais significativos do período — destacando-se a atuação decisiva de Affonso Eduardo Reidy, Sergio Bernardes e os irmãos MM Roberto —, e serão abordadas suas eventuais relações com o contexto internacional.
20/09 – O MODERNO DEPOIS DO MODERNISMO
- Aula A Tropicália e a refundação do modernismo brasileiro, com Frederico Coelho (pesquisador, ensaísta e professor de literatura e artes cênicas da PUC–Rio)
A partir das principais obras e declarações de artistas e intelectuais ligados ao movimento tropicalista de 1967-1968, a aula analisará a presença fundamental dos escritos de autores modernistas — especificamente Oswald de Andrade e, em menor medida, Mário de Andrade — na formulação das práticas e das ideias de músicos, cineastas, escritores e artistas visuais do período abordado. Ao apresentarmos a trajetória do pensamento modernista entre as movimentações culturais brasileiras que deságuam na Tropicália, apontaremos as diferentes apropriações do pensamento antropofágico de Oswald e sua difusão renovadora e inventiva por uma cultura urbana de massas em franca expansão no período do regime militar.
- Aula Pós-moderno e pós-modernismo em questão, com Evando Nascimento (professor universitário, pesquisador e escritor).
Decorridas três décadas da publicação do livro A condição pós-moderna, de Jean-François Lyotard, é importante rever em parte as discussões que possibilitaram o surgimento de um novo campo de discussões nomeado como “pós-moderno”. Ao mesmo tempo, importa fazer uma comparação com o “pós-modernismo”, categoria que se refere mais explicitamente ao modernismo histórico, ou seja, aquele que emergiu em diversos países a partir das primeiras vanguardas do século XX. Trata-se de uma apresentação geral do problema, com uma visada teórica e crítica. Do ponto de vista teórico, serão referidos nomes como os de Lyotard, Linda Huntcheon e Octavio Paz. Do ponto de vista crítico, serão discutidos os trabalhos de Hélio Oiticica e de Andy Warhol (artes plásticas), de João Gilberto Noll e de Ana Cristina Cesar (literatura) e de Wim Wenders e de Wong Kar-Wai (cinema).
INSCRIÇÕES: a partir do dia 2 de agosto, na recepção do IMS-RJ
DATAS DO CURSO: de 23 de agosto a 20 de setembro (sempre às quintas-feiras, duas aulas por dia)
HORÁRIO: das 19h às 21h
VALORES: R$ 400 (inteira)/ R$ 200 (estudantes). Aulas avulsas: R$ 100 (por aula)/ R$ 50 (estudantes)
Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro
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