A 6ª edição do Festival Novas Frequências, principal evento internacional de música experimental e explorações sonoras da América do Sul, acontece entre os dias 3 e 8 de dezembro, no Rio de Janeiro. A programação acontece em diversos locais da cidade e reúne 44 atrações de 13 países diferentes em atividades que incluem shows, performances resultantes de residências artísticas, festa, discussões, instalações, caminhadas sonoras e, pela primeira vez, uma rodada de negócios e uma ocupação de 16 horas de duração.
Continuando no formato de ocupação da cidade, o Novas Frequências distribui seus eventos este ano em cinco espaços da cidade, ocupando diversos bairros nas Zona Sul, Norte e Centro do Rio: Oi Futuro Ipanema, Galpão Gamboa, Leão Etíope do Méier (Praça Agripino Grieco), Audio Rebel e Fosfobox.
Fruto da parceria entre os produtores culturais Chico Dub e Tathiana Lopes, o Novas Frequências surgiu em 2011 sempre à procura de artistas que rompem com fronteiras préestabelecidas em busca de novas linguagens sonoras. Considerado oMelhor Festival do Rio de acordo com o Prêmio Noite Rio 2013, o evento só realiza apresentações inéditas no país. No caso dos artistas nacionais, a curadoria prima por apresentações que nunca ocorreram antes no Rio – seja trazendo artistas de outros estados que ainda não tocaram na cidade ou propondo performances comissionadas de artistas residentes.
A grande novidade em 2016 vem a ser uma parceria com o SHAPE, uma plataforma voltada para música, a arte sonora e a performance audiovisual fundada por festivais e centros culturais da Europa membros da rede colaborativa ICAS junto com o programa da União Europeia Creative Europe. Sigla para “Sound, Heterogeneous Art and Performance from Europe”, o SHAPE é formado por 16 associações europeias provenientes de 16 cidades diferentes. Ele consiste em uma plataforma de 3 anos (2015-2017) que visa apoiar, promover e criar intercâmbios entre músicos emergentes e inovadores e artistas interdisciplinares com um interesses em diferentes áreas do som e da performance.
A cada ano, os 16 festivais e associações envolvidas escolhem coletivamente 48 artistas extremamente criativos a participarem de um mix de performances ao vivo, residências, oficinas e apresentações ao redor do mundo, em festivais e eventos especiais. Os 16 membros do SHAPE e suas respectivas cidades são: CTM (Berlim, Alemanha), Schiev (Bruxelas, Bélgica), Rokolectiv (Bucareste, Romênia), UH Fest (Budapeste, Hungria), Unsound (Cracóvia, Polônia), Cynetart (Dresden, Alemanha), musikprotokoll im steirischen herbst (Graz, Áustria), TodaysArt (Haia, Holanda), MoTA – Museum of Transitory Art (Liubliana, Eslovênia), RIAM (Marselha, França), Biennale Némo (Paris, França), MeetFactory (Praga, República Checa), Maintenant (Rennes, França), Skaņu Mes (Riga, Letônia), Les Siestes Électroniques (Toulouse, França) e Insomnia (Tromsø, Noruega).
Em dezembro de 2016, o encontro anual do SHAPE, na forma de um showcase, acontecerá durante o Festival Novas Frequências. Um total de 13 artistas, selecionados por 12 dos 16 festivais que compõe a plataforma, irão participar do Novas Frequências. Além disso, os curadores e diretores artísticos destes festivais europeus também virão ao Rio em busca de intercâmbios, cooperações e novas parcerias com os artistas da cidade e do país.
A lista de artistas participantes do SHAPE dentro da 6ª edição do Novas Frequências é:
- Andreas Trobollowitsch (AT) – indicado pelo musikprotokoll im steirischen herbst
- Black Zone Myth Chant (FR) – indicado pelo Maintenant
- Céh (HU) – indicado pelo UH Fest
- Gil Delindro (PT) – indicado pelo Cynetart
- J. G. Biberkopf (LT) – indicado pelo MeetFactory
- Julien Desprez (FR) – indicado pelo Biennale Némo
- Mike Rijnierse (NL) – indicado pelo TodaysArt
- Mr. Mitch (UK) – indicado pelo Les Siestes Électroniques
- Sis_Mic (FR) – indicado pelo RIAM
- Stephen Grew (UK) – indicado pelo Skaņu Mes
- Stine Janvin Motland (NO) – indicado pelo Insomnia
- Toxe (SE) – indicado pelo CTM
- Új Bála (HU) – indicado pelo UH Fest
O Festival Novas Frequências nunca teve tantos guitarristas em seu line-up como na edição de 2016. Ainda que o uso do instrumento não denote nada próximo do que se convencionou chamar de “rock and roll”, o bom e velho rock não deixa de ser uma referência fundamental em uma série de artistas presentes no programa. Xiu Xiu é uma banda de art rock dos Estados Unidos que se inspira em inúmeros gêneros musicais – do pós-punk à música percussiva asiática. Formado pelos húngaros Gábor Kóvacs e Raymond Kiss, o Céh faz um som barulhento, com distorções de guitarra, vocais potentes e eletrônicos. Kóvacs também se apresenta solo através da alcunha Új Bála, projeto de techno industrial minimalista e cerebral revolto por uma obscura atmosfera. Mais ou menos na mesma pegada do Céh, está o inédito encontro entre Tantão, God Pussy e Lê Almeida, combo que mistura vocais gritados, barulho vindo de pedais e geradores de ruídos, além de guitarras shoegaze cheias defuzz. Já o francês Julien Desprez, um virtuoso guitarrista de jazz, relaciona, via “Acapulco Redux”, as sonoridades do seu instrumento à lâmpadas de led acionadas por meio do som. Ambos de São Paulo, ambos apresentando sonoridades escuras do pós-punk, ambos em formato trio, estão o Rakta (formado apenas por mulheres) e o Cave Wave (formado apenas por homens).
Esta questão geográfica envolvendo a cidade de São Paulo é uma característica bem forte da 6ª edição do Novas Frequências. Além do Rakta e do Cave Wave, o festival apresenta Thiago Miazzo, músico experimental com influências de drone, vaporwave e dark ambient que sonorizará ao vivo o game “Destruction Derby” enquanto a plateia joga o jogo. Há também uma pequena seleção de artistas que trabalham com o techno – alguns mais pesados, outros podendo abraçar sonoridades mais ambient. São eles: Bruno Belluomini, Raquel Krugel e Rampazzo (e o carioca Gorilla Brutality). Ainda sobre a música eletrônica de pista, Pininga profetiza sobre como será o funk do futuro, trazendo referências dos coletivos mais proeminentes da música eletrônica contemporânea, como o NAAFI e o Staycore.
Em uma seara mais experimental, do noise à improvisação livre jazzística, o festival apresenta uma colaboração com o Dissonantes, projeto paulistano de livre improvisação formado somente por mulheres. O projeto, pela primeira vez operando fora de São Paulo, irá contar com suas fundadoras Natacha Maurer e Renata Roman; Carla Boregas e Paula Rebellato, que são 2/3 do Rakta; e, finalmente, a carioca Leandra Lambert, uma veterana da cena, em atuação desde os anos 1990.
Baseado na improvisação livre, na herança de Walter Smetak e na manipulação e colagem de samples, há o Interregno Trio, conjunto formado pelo trumpetista paulistano Rômulo Alexis junto dos baianos Ed Brass e João Meirelles (respectivamente sax e eletrônicos). Também operando via improvisação, o pianista inglês Stephen Grew trabalha com as forças vitais do instrumento, seus sons e sua multiplicidade de padrões rítmicos e extremos dinâmicos.