FCS recebe itinerância da exposição FARNESE DE ANDRADE – Arqueologia Existencial, com abordagens sobre religião e sexualidade

Em mostra na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, a Fundação Clóvis Salgado busca resgatar obra do artista mineiro Farnese de Andrade, considerado um dos mais expressivos artistas de sua geração. Reconhecido pelo uso inventivo de objetos e assemblagens – colagem ou composição artística feita com materiais ou objetos diversos –, o artista retrata questões como religião, sexualidade, razão e loucura. Inédita em Belo Horizonte, a mostra tem curadoria de Marcus Lontra e já passou por São Paulo e Brasília, em formato reduzido.

Na Fundação Clóvis Salgado, a exposição conta com 95 objetos, produzidos entre as décadas de 70 e 90. “Optamos por trazer objetos porque neles estão mais claras as instâncias da razão e da loucura, religião, sexualidade e arte”, explica Lontra.

Responsável por misturar conceitos de vanguardas artísticas do século XX, como o dadaísmo e o surrealismo a referências do barroco colonial, Farnese de Andrade aprofundou-se nos conceitos modernistas para estabelecer uma obra única na arte contemporânea brasileira. Praticamente esquecido nas últimas décadas, Farnese foi regularmente premiado entre 1962 e 1970.

Original de Araguari, cidade do Triangulo Mineiro, Farnese destacou-se por problematizar questões comuns à natureza humana. Para o curador, a arte funciona como um processo de catarse e de libertação para Farnese. “A religião e o sexo são instrumentos de libertação do homem, mas quando pensados sem a razão, se tornam inócuos. A religião, com todos os dogmas; o sexo, com todas as proibições, se tornam repressivos e uma tortura para o homem”, completa.

Utilizando cores fortes e formas irregulares, as criações do artista são abstratas e feitas a partir de objetos envelhecidos e rudimentares, como restos de madeira e pedaços de santos, feitos de gesso e plástico. Em suas criações, Farnese faz uso também de cabeças e corpos de bonecas, corroídas pelo mar, coletados em praias e/ou aterros, além de velhos retratos de família e postais. Recorreu também a depósitos de demolições e lojas de antiguidades para comprar materiais como redomas de vidro, armários, oratórios e imagens religiosas.  É ainda considerado pioneiro no uso de resina e poliéster em obras artísticas.

Obra subjetiva e acessível – Conhecido como artista de personalidade difícil, a trajetória de Farnese, vindo de uma família católica do interior de Minas, é refletida em sua arte. Fortemente autobiográfico, o trabalho de Farnese remonta à relação com a família mineira, a infância, o oceano e com o Rio de Janeiro, lugar onde a transgressão artística floresceu. Por meio da arte, expressou seus medos, conflitos, realizações, desejos, tristezas e alegrias.

Tendo estudado em Belo Horizonte, sob orientação de Alberto da Veiga Guignard, Farnese desenvolveu uma trajetória única no campo das artes. Recluso, era um artista andarilho e perambulava para encontrar os objetos necessários para sua criação.

Apesar de altamente subjetiva, a produção do artista é extremamente acessível, graças ao uso que faz dos objetos para tratar de temas comuns à sociedade. Além disso, as obras são visualmente impactantes, despertando forte atração sensorial. “Todo mundo vai se identificar com a produção de Farnese. Não é necessário texto para compreender do que se trata a exposição. É claro que existem inúmeras referências teóricas, mas o desconhecimento delas não impede a fruição”, conclui.

De acordo com Lontra, em sua corajosa empreitada, Farnese foi responsável por abrir caminho para as obras viscerais e/ou românticas de uma geração de artistas que inclui Tunga, Leonilson, Ângelo Venosa e Adriana Varejão, todos eles nomes que trazem para a arte brasileira um apelo figurativo, simbólico e um grande vigor orgânico, elementos que sempre se mostraram fundamentais no pensamento e ação do artista. Farnese foi premiado em diversas ocasiões, como no Salão Nacional de Arte Moderna de 1970 – Prêmio de viagem ao exterior, Prêmio Roquette Pinto Melhores de 1992.

Farnese de Andrade – 1926 (Araguary/MG) – 1996 (Rio de Janeiro/RJ) Estudou na Escola do Parque Municipal de Belo Horizonte entre 1945 e 1948, quando foi aluno de Guignard e conviveu com artistas como Amilcar de Castro, Mary Vieira e Mário Siléso. Em 1948, transferiu-se para o Rio de Janeiro e trabalhou como ilustrador para os suplementos literários de diversos jornais e revistas como O Diário de Notícias, Correio da Manhã, O Cruzeiro e Manchete. Começou a frequentar o ateliê de gravura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1959, quando especializou-se em gravura em metal com Johnny Friedlaender e Rossini Perez, com quem produziu gravuras abstratas, trabalhando com formas regulares e cores fortes.

Em 1965, realizou um conjunto de desenhos eróticos e iniciou a série Os Obsessivos. Posteriormente, utiliza fotografias, armários, oratórios, gamelas, ex-votos, adquiridos em antiquários e depósitos de materiais usados. Desde 1967, utiliza resina de poliéster envolvendo materiais perecíveis. Contemplado em 1970 com o prêmio Viagem ao Estrangeiro, do XIX Salão Nacional de Arte Brasileira, viajou para a Europa, morou em Roma e em Barcelona, onde manteve um ateliê. Em 1975, voltou para o Brasil e passou a morar definitivamente no Rio de Janeiro.

SERVIÇO
Exposição Farnese de Andrade – Arqueologia Existencial
Período: 8 de abril a 3 de julho de 2016, terça a sábado de 9h30 às 21h
Local: Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard – Palácio das Artes
Endereço: Av. Afonso Pena, 1537 – Centro
Classificação livre

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