Expoente do Cinema Novo, Joaquim Pedro de Andrade é um dos mais significativos nomes da produção cinematográfica nacional. Propondo uma revisão de sua obra, o Cine Humberto Mauro exibe a mostra Joaquim Pedro de Andrade – Integral, que traz a Belo Horizonte a filmografia completa e restaurada do diretor. Serão apresentados ao público 14 filmes, sendo seis longas e oito curtas-metragens, além do documentário Histórias Cruzadas, de Alice de Andrade, que aborda a obra de Joaquim Pedro de Andrade do ponto vista afetivo familiar. Entre as obras estão filmes como Macunaíma, Os Inconfidentes e O Aleijadinho.
Com um forte apelo à identidade brasileira, os filmes de Joaquim Pedro de Andrade buscam resgatar elementos nacionais utilizando mitos e lendas do imaginário popular nacional para produzir um cinema que discute e retoma a sua própria cultura. Motivado pelo desejo de estabelecer uma relação direta e acessível com o público, Joaquim Pedro de Andrade recorre a elementos como a fotografia, com cores predominantemente fortes e diálogos fundamentados no humor irônico para aproximar-se do espectador.
Inspiração na literatura – Para retratar a identidade brasileira, o diretor recorre a obras ícones da literatura, sendo esta a marca principal de sua trajetória. Filmes como Macunaíma e Os Inconfidentes, além da inspiração literária discutem também questões sociais relativas ao contexto social dos anos em que foram produzidos, como a ditadura militar, por exemplo.
Em Macunaíma, uma de suas obras de maior destaque, que tem o ator Grande Otelo no papel título, na fase infantil, e o ator Paulo José, na fase adulta, Joaquim Pedro não se restringe ao texto de Mário de Andrade, incorporando fundamentos das chanchadas, do circo e do teatro. “Com adaptações bem executadas e marcadas por indicações contemporâneas, Andrade conquista uma grande bilheteria e a empatia do público a partir de um viés cômico, anárquico e popular”, explica Philipe Ratton, gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado.
Além dos filmes cômicos, recurso utilizado com maestria por Joaquim Pedro de Andrade para atingir questões relativas ao cerne da cultura brasileira, o diretor também transita pelo cinema documental, mantendo sempre o seu propósito de discutir as relações sociais, como em Brasília, contradições de uma cidade nova e A linguagem da persuasão. Filmes biográficos também são destaque na carreira do diretor, como O Aleijadinho, Garrincha e O poeta do castelo, que revela a rotina do poeta Manuel Bandeira.
CINEMA NOVO – As obras de Joaquim Pedro de Andrade são representantes de um momento ímpar do Cinema Brasileiro, o chamado Cinema Novo.Absorvendo tendências da nouvelle vague francesa, que buscou romper com uma linguagem clássica cinematográfica e estabelecer um cinema mais autoral, e aproximando-se da cultura e identidade nacional como pretendia o neorrealismo italiano, o Cinema Novo empenha-se em produzir – sem submeter-se a um sistema de produção vinculado aos grandes estúdios e produtoras – obras que discutem questões fundamentais da realidade brasileira. “No Cinema Novo o autor é colocado em evidencia no cinema brasileiro. A vitalidade estética e a apropriação de mecanismos simples de produção, uma das características do movimento, tinham o objetivo imediato de promover uma transformação social do Brasil através do cinema”, explica Bruno Hilário, Coordenador de Cinema do Cine Humberto Mauro e parceiro de Philipe Ratton na curadoria.
O Cinema Novo, que esteve em evidência entre as décadas de 50 e 70, estava ligado à Tropicália, movimento cultural que propunha transformações culturais nas artes visuais, no cinema e na música. A ideia era deglutir todas as referências, tendências e informações sobre o Brasil e o exterior, e depois propagar ou traduzir a realidade brasileira. Três foram as grandes influências deste movimento: a antropofagia, herança do movimento antropofágico de 1922; a Pop Arte, incorporação da cultura pop e o Concretismo, movimento predominantemente literário de 1950 que propunha a junção entre forma e conteúdo.
CURSO DEBATE SOBRE OBRA DE ANDRADE – Complementando a programação da mostra, será oferecidoum curso sobre a obra de Joaquim Pedro de Andrade e a sua importância para a história do cinema brasileiro.
O curso O Poeta da Palavra e da Imagem será ministrado pelo professor Ataídes Braga e acontecerá nos dias 4 e 5 de Agosto, às 14h. O curso terá carga horária de 5h, sendo 2h30 por dia. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas através do e-mail: cursos.cinehumbertomauro@gmail.com.
O objetivo do curso é apresentar a vida e a obra de Joaquim Pedro de Andrade focando sua relação com a literatura e sua importância no movimento do Cinema Novo Brasileiro e através de comentários críticos dos filmes revisar e reafirmar sua importância para o cultura brasileira.
ATAÍDES BRAGA é historiador, mestre em Cinema, poeta, ator, roteirista, pesquisador, crítico e comentarista de cinema. É autor dos livros O Fim das Coisas – Salas de Cinemas de Belo Horizonte, Fragmentos de Versos e Cachoeira de Filmes – O Cinema Humberto Mauro como Espaço de Exibições e Resistência e Romance em Cinco Linhas. Atualmente, é professor de Cinema do Centro Universitário UNA e Sócio Diretor da Empresa Artesãos Tagarelas.
CINE HUMBERTO MAURO – Localizado no piso inferior do Palácio das Artes, o Cine Humberto Mauro possui 129 lugares e modernos equipamentos de projeção e som. Recebe público fiel, que comparece às suas diversas atividades como festivais, lançamentos de filmes, cursos de cinema, debates e seminários. O espaço conta, ainda, com sessões permanentes de cinema e realiza, a cada ano, grandes mostras sobre cineastas e gêneros relevantes na história do cinema mundial, além de produzir o Festival Internacional de Curtas Metragens de Belo Horizonte – o FESTCURTASBH.
Mostra Joaquim Pedro de Andrade – Integral
Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes – Av. Afonso Pena, 1.537
Período: 30 de julho a 6 de agosto
Entrada gratuita
Informações.: (31) 3236-7400
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