Curtas, médias e longas-metragens produzidos na África entre 1950 e 1990 serão exibidos na mostra Clássicos Africanos. Serão 23 filmes, de 16 cineastas, que evidenciam a pluralidade da cultura africana. São obras de ficção e documentários que depositam um olhar singular sobre a cultura de países diversos, normalmente estigmatizadas pelo cinema hegemônico, como Senegal, Nigéria, Mali e Egito, entre outros. A mostra é resultado da parceria entre a Fundação Clóvis Salgado, a Cinemateca da Embaixada da França no Brasil, a Embaixada da França no Brasil e o Institut Français.
Em exibição, estão obras raramente vistas no cinema como A Negra de…, primeiro longa feito por um africano a ter reconhecimento internacional, do cineasta Ousmane Sembene, considerado o pai do cinema africano, e A Viagem da Hiena, de Djibril Diop Mambéty, obra reconhecida por reproduzir a voz da juventude africana em meio à abertura política e às incertezas dos anos 1970.
Se o cinema ocidental e asiático tem suas raízes na literatura e no teatro, os diretores africanos encontraram inspiração ao olharem para a tradição africana da narrativa oral. “Esses filmes têm uma importância cultural muito grande, até pela relação que existe entre a cultura brasileira e a africana. São obras raras, de povos que influenciaram a nossa cultura, e dificilmente temos a possibilidade de vê-los em conjunto”, explica Philippe Ratton, gerente do Cine Humberto Mauro, que assina a curadoria ao lado do coordenador Bruno Hilário e dos assistentes Mariah Soares e Vitor Miranda.
A mostra dedicada à produção cinematográfica africana é mais uma das ações do Cine Humberto Mauro que visa discutir o protagonismo e a presença do negro no cinema. Desde o início de 2016, o Cine Humberto Mauro vem promovendo uma série de mostras com o objetivo de discutir essas questões. O ano começou com a mostra O Universo Pulsante do Blaxploitation, importante movimento do cinema norte-americano na década de 1970 que abordou a cultura black nos Estados Unidos; a discussão se aprofundou com a mostra Claire Denis que, ao tratar das tensões entre a França e suas ex-colônias africanas, refletia sobre os conflitos de classe.
Explosão africana – As obras exibidas na mostra representam um momento de eclosão do cinema africano, reflexo do processo de descolonização que se efetivou a partir dos anos 50. De 1970 a 1993 foram realizados aproximadamente 400 filmes nos países do continente africano, grande parte deles por ex-colônias francesas. “Nós temos aí uma mudança de linguagem. Antes, o cinema que retratava a África era uma produção muito documental, um olhar externo sobre o continente. A partir dos anos 60, com os próprios africanos se filmando, nós temos uma outra situação que recupera a cultura do país, em obras documentais e ficcionais”, explica Bruno Hilário, coordenador do Cine Humberto Mauro.
As realidades contemporâneas e seus temas dominaram o cinema africano nos anos 70, são exemplares: Bako, a outra Margem, de Jacques Champeux, filme que explora as tensões entre os países colonizados e suas ex-colônias; e Carta Camponesa, de Safi Faye, que questiona a falta de perspectiva econômica para o povo das ex-colônias. Na década seguinte, nos anos 80, há um retorno às origens, uma busca pela identidade que remete às tribos africanas como em Fary, a Jumenta, de Mansour Sora Wade, um conto tradicional senegalês que expõe singularidades dos costumes daquele país; e Finzan, filme de Cheick Oumar Sissoko, que propõe reflexões sobre a cultura africana, que aborda a questão da circuncisão feminina.
Em comum, as obras têm a intenção de valorizar a identidade africana e reforçar, por meio do cinema, a independência dessas nações. “Esses filmes são produções essencialmente políticas, buscam mostrar uma identidade, algo com que os africanos possam se identificar”, resume Mariah Soares. Os títulos, além de abordar temáticas contundentes, trouxeram inovações estéticas e de linguagem, amplamente influenciados pela Nouvelle Vague Francesa.
Mostra Clássicos Africanos
Data: 8 a 22 de setembro
Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes- Avenida Afonso Pena, 1537
Entrada gratuita – Retirada de ingresso 30 minutos antes de cada sessão
Informações para o público: (31) 3236-7400
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