Crítica do filme A Grande Aposta

Em meio a diversos problemas econômicos vividos no Brasil, que vem se acentuando nos últimos meses, a Paramount traz aos cinemas nacionais o filme A Grande Aposta, que retrata a crise imobiliária enfrentada nos EUA durante o ano de 2008. Baseado em fatos reais, narrados no livro “A Jogada do Século: Os Bastidores da Crise Financeira”, escrito por Michael Lewis, o longa traz uma temática bastante envolvente – aonde é apresentado como alguns visionários e excêntricos investidores de Wall Street reagiram durante o período.

Ligados através de hipotecas, esse investidores e empresas (que também buscavam lucros com a crise) acreditaram em algo que no momento parecia impossível de estar acontecendo, se tornando dessa forma ao bastante conflitante – pois ao mesmo tempo poderia se tornar algo bastante lucrativo, mas também se mostrava arriscado demais para o período.

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Assim como o livro, a produção constrói uma crônica muito bem articulada sobre como o colapso financeiro ocorreu se utilizando de um humor ácido bastante importante para narrativa, da ao filme um alívio ao desespero do momento vivido por milhares de pessoas e investidores. Com uma abordagem bastante instigante, e cada vez mais atual, o filme consegue trabalhar bem com a mistura de sentimentos vividos pelos personagens – abordando o drama com misto de felicidade e angústia daqueles que estavam visualizando o que estava prestes a acontecer nos próximos anos. Dessa forma, somos lançados em um mundo cheio de descaso aonde o evitar um caos global, foi deixado de lado em beneficio próprio ou ainda por falta de visão de um mercado incrédulo que duvidava que isso poderia acontecer, ou apenas pelo fato de nunca ter acontecido.

Também conhecida por Crise do subprime, o colapso financeiro ocorrido inicialmente em  24 de Julho de 2007, teve como maior combustível a especulação e excesso de crédito de alto risco. A bolha imobiliária causou a recessão por causa das hipotecas subprime (empréstimos concedidos a pessoas que não tinham condições de pagarem as prestações da casa própria).

E é no meio dessa catástrofe financeira que surgem investidores de Wall Street envolvidos com esse tipo de hipoteca, como Ben Hockett (Brad Pitt), Michael Burry (Christian Bale), Greg Lippmann (Ryan Gosling) e Steve Eisman (Steve Carell). Ponta chave na trama, o solitário administrador de fundos de investimentos chamado Michael Burry, encontra um interprete à altura da sua intuição e visão financeira. Christian Bale da vida ao excêntrico administrador, aonde apresenta uma performance bastante convincente ao perfil do personagem – conseguindo criar uma identificação bastante agradável com ele e transparecendo suas reais intenções.

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Amante de rock (em diversas cenas ele aparece tocando bateria para liberar sua raiva e angustia), Michael Burry passou os anos anteriores, sozinho em seu escritório, vasculhando documentos financeiros e desenvolvendo suas próprias visões contrastantes sobre o risco do mercado. Os outros dois investidores que também se destacaram no meio da crise, foram os socialmente desajeitados, Charlie Ledley e Jamie Mai, que no longa tem seus nomes alterados para Charlie Geller e Jamie Shipley – cuja estratégia de investimentos era inteira baseada no MID. Assim como Bale, os atores John Magaro e Finn Wittrock (conhecido pela série História de Horror Americana) se encontram bastante confiantes e confortáveis em seus papeis, não se intimidando de forma alguma, por exemplo, ao trabalhar ao lado de atores de peso, como Brad Pitt que interpreta um personagem baseado em Ben Hockett, que era Diretor de Operações em Cornwall Capital, que é uma empresa de investimento financeiro privado com sede em Nova York.

Assim como descrito acima, o longa reúne, além de uma trama bastante envolvente e muito bem desenvolvida, um elenco extremamente competente. O que não deixa de ser previsível a participação de um elenco (quase que completo) de atores de alto calibre de Hollywood – pois um projeto que tem como intuito construir personagens, era evidente que chamaria atenção de grandes nomes, o que de certa forma foi primordial para caracterização, apresentação e claro ambientação do filme.

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Em contraste ao excelente roteiro/história e elenco, está o maior problema do longa, que recai completamente sobre a direção do experiente Adam McKay, que opta (equivocadamente) por utilizar câmera na mão em diversos momentos do filme. Buscando trazer um certo desconforto, e até mesmo certa agilidade nas cenas, McKay acaba quase que comprometendo completamente a atmosfera do filme.

Erros técnicos costumam passam despercebidos, mas o que vemos na direção de McKay é algo bastante negativo – durante diversas cenas vemos que é utilizando insistentemente zoom in e zoom out, algo pouco ou quase nunca utilizado no mundo cinematográfico, aonde normalmente em cenas que pedem certo movimento (tanto lateral como aproximação/afastamento) o convencional seria utilização do travelling, o que deixaria a imagem muito mais bonita do que o desconfortante zoom, que piora ainda mais com a instabilidade fora do normal devido a câmera na mão, gerando planos mal enquadrados e com diversos desfoques. Todos esses erros ocorrem devido a uma tentativa falha do diretor de trazer momentos de incerteza dos personagens e da trama em si, mas ao fazer isso ele acaba apresentando para seu filme uma estética bastante feia, estranha e desnecessária.

Apesar de trabalhar a todo momento com nomes, cálculos e termos técnicos para o ramo de investimento imobiliário, algo que é pouco conhecido do grande público, o roteiro consegue sabiamente colocar cenas aleatórias para exemplificar tais situações. Essas cenas utilizam a comédia e descontração, para dar exemplos simples e inusitados, facilitando dessa forma o entendimento de todos.

A Grande Aposta é um daqueles filmes que prioriza seu roteiro e personagens, criando ao mesmo tempo uma trama bastante instigante, que prende seu público do início ao fim da projeção, e ainda consegue ser bastante leve e agradável, deixando um ar bastante harmônico. Com um elenco confortável em seus personagens, uma abordagem muito dinâmica, o que proporciona um ótimo ritmo, o longa se torna uma obra bastante interessante de ser assistida, ainda mais em uma época de crise politica e econômica que nosso país está vivendo.

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Direção: Adam McKay
Roteiro: 
Adam McKay
Gênero: Biografia | Drama
Distribuidora: Paramount Pictures
Elenco: Christian Bale, Steve Carell, Ryan Gosling, Brad Pitt, Finn Wittrock.
Estreia no Brasil em: 14 de Janeiro de 2016

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Avaliação (6/10)

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