As fotógrafas Ana Araújo, Eliária Andrade, Evelyn Ruman, Luciana Whitaker, Luludi Melo, Márcia Zoet, Marlene Bergamo, Mônica Zarattini e Nair Benedicto inauguram a exposição Se me vejo, me veem, na Galeria eg2o, na cidade de Paraty – RJ. A mostra propõe uma discussão sobre a violência contra a mulher, sendo que cada artista aborda o tema em suas diversas manifestações, gerando como resultado um quadro multifacetado de denúncias, esclarecimentos e sensibilizações.
Profissionais atuantes e respeitadas, mulheres atentas ao dia-a-dia. Cidadãs responsáveis. Com o lema “olhares de mulheres sobre uma questão de mulheres”, as 9 fotógrafas se reúnem para aliar arte à luta contra uma triste realidade: o Brasil está em quinto lugar no ranking mundial de ocorrências de crimes contra a mulher. São agressões físicas, morais, sexuais e psicológicas, sustentadas pelas relações desiguais entre os gêneros. Desigualdade entranhada em nossa sociedade desde a sua formação, e no inconsciente da maioria dos brasileiros. Neste sentido, Se me vejo, me veem busca apresentar trabalhos que, de certa forma, dialogam com o tema proposto, em um ambiente de liberdade na curadoria e expografia de cada trabalho das fotógrafas, as quais terão uma área individual e específica para mostrar e “denunciar” os aspectos deste assunto. Os suportes são diversificados, mas a imagem, crua e real, é a protagonista.
Ana Araújo retrata “Marias Marcadas pela Violência em Recife”. Sua cidade natal, onde reside e trabalha até o presente, segundo o mapa da violência 2012, é a sexta colocada no ranking de feminicídios do Brasil: “Aqui em Pernambuco irei documentar as mulheres sobreviventes, que ficaram marcadas física e emocionalmente por essa terrível cultura de violência contra a mulher”, define a artista.
“Para Onde Ir?”, de Eliária Andrade, mostra uma mulher que vive no abrigo Casa de Marta e Maria, espaço que oferece acolhimento para pessoas em situação de vulnerabilidade social, vindas das mais variadas situações de violência vivenciadas nas famílias e nas ruas, com histórico de abandono e maus tratos.
“Autoimagem” foi o tema escolhido por Evelyn Ruman, que em registros de um caso da vida real, aplica uma metodologia de intervenção social, por meio da fotografia que desenvolve há 27 anos. “A interferência artística do fotografado em seu próprio retrato amplia a percepção de sua identidade e estimula a recuperação da autoestima”, explica a autora.
Luciana Whitaker, com “Cesarianas Desnecessárias”, busca provocar uma reflexão sobre o polêmico assunto. Em sua opinião: “Procedimento feito sem necessidade, apenas com objetivos comerciais, coloca em risco a vida da mulher e do bebê”. Neste ensaio, as cicatrizes contam a história.
Luludi Melo, em “Maternidade – Mulheres com Deficiência”, discute a violência “duplamente qualificada” que sofre a mulher portadora de necessidades especiais.
Um pequeno recorte do projeto nacional que desenvolveu em parceria com o Museu da Pessoa para o projeto ViraVida – uma iniciativa do SESI na recuperação de crianças e adolescentes em situação de risco –, “Meninas e Adolescentes” é o aspecto levantado por Márcia Zoet. De acordo com a fotógrafa: “o quadro mostra a fragilidade da vitima, que sofreu durante 10 anos abuso paterno”.
Um tema autoexplicativo é a escolha da fotógrafa Marlene Bergamo – “BANG BANG”. Imagens fortes que são retratos de fatos diários, hoje corriqueiros mas não menos cruéis, onde a morte é a ocorrência final.
“Parto humanizado…?” é a discussão proposta por Mônica Zarattini, com destaque para a situação de uma mulher que, encaminhada para um hospital universitário na hora do parto, é submetida a procedimentos e recebe medicamentos desnecessários (como uma cobaia dos alunos).
Nair Benedicto participa com o vídeo “Não quero ser a próxima”, uma realização conjunta do Grupo Maria Bonita com a Agência F.4, sendo as integrantes Cecília Simonetti, Lais Tapajós, Nair Benedicto, Silvia Cavasin e Vera Simonetti. Produzido em 1985, versa sobre mulheres espancadas ou assassinadas pelos maridos ou companheiros. As fotografias são das entrevistadas e dos eventos públicos sobre o assunto, resultado das pesquisas em jornais e revistas.
Citando palavras das participantes do projeto Se me vejo, me veem: “Qualquer iniciativa que esclareça e contribua para que mulheres vítimas de violência reconheçam sua situação e percam a vergonha de pedir ajuda é válida, assim como para que a sociedade esteja alerta e consciente da seriedade da questão”.