Dois filmes do Nordeste estão entre os destaques do 17º FESTCURTASBH, levando os prêmios da Competitiva Brasil e também do Júri Popular. Respectivamente, foram premiados Intervenção, de Pedro Maia de Brito, e Como era gostoso o meu Cafuçu, de Rodrigo Almeida, ambos diretores de Pernambuco. Além desses, A festa e os Cães, de Leonardo Moura Mateus, do Ceará, ganhou menção honrosa na Competitiva Brasil. Na Competitiva Minas, a obra vencedora foi Subsolos de Simone Cortezão. O festival premiou também Wayward Fronds, de Fern Silva, como melhor curta metragem internacional. Já Automatic Fitness, de Alejandra Tomei e Alberto Couceiro, foi escolhido pelo Júri Popular como melhor filme internacional. Com dez dias de programação, o festival reuniu um público de aproximadamente 3.600 pessoas no Cine Humberto Mauro e na Sala Juvenal Dias.
No total, 43 filmes concorreram às três categorias, que são avaliadas por júris independentes durante o festival. As obras foram selecionadas entre os mais de 2 mil curtas inscritos para esta edição do FESTCURTASBH. Todos os vencedores são premiados com o Troféu Capivara. Nas categorias Internacional, Brasileira e Minas há premiação também em dinheiro, sendo que, nas categorias Minas e no Júri Popular há ainda premiações técnicas, com subsídios para copiagem e coloração dos filmes.
Para o gerente do Cine Humberto Mauro, Philipe Ratton, o festival conseguiu trazer mostras competitivas fortes e conteúdo de qualidade para o público. “Tivemos um retorno muito positivo do curso sobre cinema 3D, ministrado por Björn Spiedel, e também dos seminários com o Teddy Willians e sobre a Paraísos Artificiais. Ainda sobre a Paraísos – produtora de cinema paulista da década de 90 – foi uma oportunidade única de resgatar o cinema brasileiro e permitir a aproximação com essas obras. Algumas estavam perdidas até mesmo para os diretores, foi um trabalho de arqueologia do cinema”, conclui. Já o coordenador do Cine Humberto Mauro, Bruno Hilário, destaca que a programação que aprofundou o caráter de formação de público “o festival contou com uma participação muito grande do público nas sessões e principalmente nos debates com discussões de bastante profundidade e pertinência para o cenário da produção cinematográfica recente”, afirma.
OS MELHORES DO BRASIL E DE MINAS – Na Competitiva Nacional, o vencedor foi Intervenção, de Pedro Maia de Brito. A obra aborda as manifestações de junho de 2013, e foi escolhida pelo poder de suas imagens ao retratar de forma original os embates entre polícia e manifestantes. Nesta mesma categoria, A festa e os cães, de Leonardo Moura Mateus, do Ceará, recebeu Menç O filme é construído a partir de relato-depoimento em off, registros fotográficos impressos, e memórias do que parece ser um grupo de amigos, para abordar o tema: festas e cães.
Os pernambucanos também levaram o prêmio do Júri Popular. A obra Como era gostoso o meu Cafuçu, de Rodrigo Almeida, que faz uma homenagem ao cinema brasileiro, com inúmeras referências aos grandes filmes nacionais. Com irreverência, a obra questiona complexas questões morais e estéticas brasileiras. Já na mostra Competitiva Minas, o prêmio foi para Subsolos, de Simone Cortezão, que aborda os reflexos da extração de minério de ferro em Minas gerais.
VENCEDORES INTERNACIONAIS – Na Competitiva Internacional o prêmio foi para o americano Wayward Fronds, de Fern Silva. Para o júri oficial da categoria, a obra se destaca por suas imagens descentradas e imprevisíveis, que transformam a experiência do espectador numa deriva experimental fascinante e sem destino certo. Nesta mesma categoria, o francês Tim, de Camille Rosset, ganhou Menção Honrosa. No Júri Popular Internacional, o Prêmio foi para Automatic Fitness, de Alejandra Tomei e Alberto Couceiro, uma animação que retrata o automatismo humano e a relação do homem com o dinheiro e o tempo.
Sobre o FESTCURTASBH – A tradicional mostra de filmes de curtas-metragens já se firmou como um dos eventos mais importantes de difusão e promoção da produção cinematográfica mundial em Minas Gerais. O 17º FESTCURTASBH, que aconteceu no Cine Humberto Mauro e em vários espaços do Palácio das Artes, recebeu um total de 2.057 inscrições, de 94 países. A programação é composta pelas Mostras Competitivas Internacional, Brasil e Minas, além de Mostras Paralelas e Especiais. O Festival prevê a concessão de prêmios pelo Júri oficial e pelo Júri popular.
Os Prêmios:
Competitiva Internacional – WAYARD FRONDS – Fern Silva | EUA, 2014, 13’
Troféu Capivara 17ºFESTCURTASBH e 5 mil reais
MENÇÃO HONROSA: TIM – Camille Rosset | FRANÇA, 2014, 19’
Competitiva Brasil – INTERVENÇÃO – Pedro Maia De Brito| BRASIL/PE, 2015, 04’
Troféu Capivara 17ºFESTCURTASBH e 5 mil reais
MENÇÃO HONROSA: A FESTA E OS CÃES – Leonardo Mouramateus | BRASIL/CE, 2015, 25’
Competitiva Minas – SUBSOLOS – Simone Cortezão | BRASIL/MG, 2015, 33’
Troféu Capivara 17ºFESTCURTASBH e 2 mil reais
Prêmio Contorno Áudio e Vídeo – copiagem de até 75 DVDs para curta-metragem de até 40 minutos (DVD, CÓPIA, SILK e box de DVD) / Prêmio Rec Stúdio – edição de som e mixagem 5.1 para curta-metragem de até 40 minutos.
Júri Popular Internacional – AUTOMATIC FITNESS (Preparo Automático)
Troféu Capivara 17ºFESTCURTASBH
Júri Popular Nacional – COMO ERA GOSTOSO MEU CAFUÇU
Troféu Capivara 17ºFESTCURTASBH
Prêmio Cinecollor – duas diárias de correção de cor, 10 horas de mixagem 5.1 e uma master DCP sem legenda.
SINOPSES DOS CURTAS VENCEDORES
COMPETITIVA INTERNACIONAL
VENCEDOR: WAYARD FRONDS
DIRETOR FERN SILVA | EUA, 2014, 13’
Uma cobra desliza pelo carpete, uma sereia sorri em seu trono, uma árvore irrompe na pia da cozinha. Filmado nos Everglades, ao sul da Flórida, um dos ecossistemas símbolo da intervenção humana nas últimas décadas, Wayward fronds é singular em seu modo de olhar o presente como um exercício de fabulação imagética que contempla também o futuro. Em meio aos signos de uma civilização decadente que é aos poucos engolida por uma natureza novamente empoderada, encontramos paisagens insólitas, por vezes abstratas, figuras não humanas entre o natural e o artifício, cenas que atravessam o espectador ao sublinhar que o embate agora possível é aquele travado no plano do sensível.
FICHA TÉCNICA:
- Produtor: Fern Silva
- Contato: fernsilva860@gmail.com
MENÇÃO HONROSA: TIM
CAMILLE ROSSET | FRANÇA, 2014, 19’
Retrato íntimo de um jovem cineasta “amador”, no melhor dos sentidos, e realizador de filmes de terror escatológico. Beirando o macabro, Tim fantasia solitariamente os roteiros de suas pequenas produções, nas quais concentra todas as funções técnicas. No entanto, os sugestivos caminhos de sua imaginação seguidos pelo filme, ao invés de nos apresentarem um tom radicalmente sombrio, oferecem uma complexidade e singeleza capazes de escapar dos registros típicos ligados à juventude, deslocando, com um só golpe, as fronteiras de identidade e representação. É assim que, deixando-se tomar pela própria natureza do processo criativo de Tim, a proximidade da câmera não resulta num olhar ensimesmado, mas numa espécie de documentação particularmente sensível às experiências do jovem.
FICHA TÉCNICA:
- Roteiro: Camille Rosset
- Produção: Benjamin Serero
- Edição: Camille Rosset
- Edição de Som: Florent Castellani
- Câmera: Camille Rosset
- Contato: dublinfilms.fr
COMPETITIVA NACIONAL
VENCEDOR: INTERVENÇÃO
DIREÇÃO: PEDRO MAIA DE BRITO| BRASIL/PE, 2015, 04’
Depois de mais uma manifestação reprimida violentamente pelas forças policiais, dois jovens se preparam para realizar uma intervenção em um dos batalhões da polícia.
FICHA TÉCNICA:
- Roteiro: Pedro Maia de Brito
- Produção: Pedro Maia de Brito, Beto Eiras e Isabella Alves
- Edição: Pedro Maia de Brito
- Câmera: Pedro Maia de Brito
- Design de Som: Pedro Maia de Brito
- Contato:
MENÇÃO HONROSA: A FESTA E OS CÃES
DIREÇÃO: LEONARDO MOURA MATEUS | BRASIL/CE, 2015, 25’
“Em um negativo de 36 poses, somente alguns milímetros unia, lado a lado, quilômetros de distância”.
O dispositivo é simples: relato-depoimento em off, registros fotográficos impressos e um tema motriz: festas e cães. Aparentemente, identifica-se um grupo de amigos que revisitam, juntos, suas memórias – coletivas e individuais. Em um segundo momento, a cena é tomada por um deles, que descreve minuciosamente a estruturação formal de uma canção de pop rock. Recortes de cenas sem pose, desfoques, sapatos no telhado, defunto, pedaços de afeto, de grade, de poste, de rua, de amor e vazios – muitos cães, muitas festas. A narrativa de A festa e os cães é arquitetada com fluidez e atravessada pela subjetividade dos personagens e de suas recordações.
FICHA TÉCNICA:
- Roteiro: Leonardo Mouramateus
- Produção: Leonardo Mouramateus
- Edição: Leonardo Mouramateus
- Arte: Leonardo Mouramateus
- Direção de Fotografia: Juliane Peixoto
- Contato: lmouramateus@gmail.com
COMPETITIVA MINAS
VENCEDOR: SUBSOLOS
DIREÇÃO: SIMONE CORTEZÃO | BRASIL/MG, 2015, 33’
Uma mulher desalojada pela mineração vive seus últimos dias na cidade. A cava que cresce e leva embora toda uma montanha se infiltra também pelo subsolo de seu sono, soterrando-a com sua casa. Do outro lado, um operário da mineradora está prestes a abandonar aquilo que, segundo ele, é só buraco e poeira. Paisagem terrivelmente real em Minas Gerais, que faz lembrar os cenários devastados das distopias inventadas pelo cinema.
FICHA TÉCNICA:
- Roteiro: Simone Cortezão
- Produção: Ana Moravi
- Edição: Simone Cortezão e Dellani Lima
- Arte: Simone Cortezão
- Design de Som: Guile Martins
- Câmera: Matheus Antunes
- Contato: scortezao@gmail.com
JURI POPULAR
JURI POPULAR, FILME INTERNACIONAL: AUTOMATIC FITNESS (PREPARO AUTOMÁTICO)
ALEJANDRA TOMEI E ALBERTO COUCEIRO | ALEMANHA, 2015, 21’
O filme é um labiríntico poema sobre o automatismo humano. Uma reflexão sobre nossa relação diária com o dinheiro e o tempo. É uma tragicomédia animada que brinca com o conceito de uma aceleração onipresente. É sobre o estrangulamento da loucura cotidiana e dos automatismos em que somos forçados a viver, trabalhar, respirar, pensar e existir. Uma paródia do já velho “modo de vida moderno”.
FICHA TÉCNICA:
- Roteiro: Alejandra Tomei e Alberto Couceiro
- Produção: Alejandra Tomei
- Animação: Alberto Couceiro
- Edição: Dietmar Kraus
- Música: Boris Jöns, Dietrich Koerner e Ole Wulfers
- Contato: www.automaticfitness.de
JURI POPULAR, FILME NACIONAL: COMO ERA GOSTOSO MEU CAFUÇU
RODRIGO ALMEIDA | BRASIL/PE, 2015, 15’
Pontuado por paródias de títulos de obras célebres do cinema brasileiro, o filme explode com os demais quadros referenciais que amparam a boa consciência da elite intelectual: a irreverência de seus diálogos e a abordagem aguda de questões complexas, como gênero e classe, sustentam a narrativa de modo a criar um contra-discurso que subverte, com ironia, padrões temáticos, morais e estéticos.