O Paço das Artes inaugura no dia 23 de setembro, a exposição “Operação Condor”, do fotógrafo português João Pina. A curadoria é de Diógenes Moura. A partir das 19h, haverá uma mesa-redonda com a participação de Pina, do curador e de Maurice Politi, retratado pelo fotógrafo na mostra, e de Priscila Arantes, diretora técnica e curadora do Paço das Artes, seguida do lançamento do livro “Condor” (Editora Tinta da China). A entrada é gratuita.
Priscila Arantes chama a atenção para a relevância histórica e política da obra de João Pina num momento em que a Comissão da Verdade investiga as violações de direitos humanos no Brasil durante o regime militar, que completa 50 anos em 2014. “Como instituição preocupada com a memória e registro de suas ações, o Paço das Artes considera de extrema importância a realização desta exposição num período de abertura dos arquivos da Ditadura Militar brasileira”, diz.
A mostra, que reúne 113 imagens em preto e branco e em formatos variados, é composta pelas séries “Brasileiros”, “Retratos”, “Paisagens”, “Laboratório”, “Prisões”, “Julgamentos”, “Salas de Tortura” e “Arquivos”. Por meio destas fotografias, Pina investiga e documenta as histórias de brasileiros e outros sul-americanos, que foram diretamente afetados pelas ditaduras militares em geral, e, em particular, pela Operação Condor. “A série ‘Operação Condor’, que o fotógrafo João Pina realizou nos últimos nove anos vai muito além de imagens documentais. Elas falam de ausência, da perda do que é irrecuperável, da procura de identidades desaparecidas e ainda sem explicação, da dor dos que deixaram de conviver com familiares e amigos, do corte seco que levou para sempre os que tiveram a liberdade tolhida nos anos da ditadura. É mais que uma exposição: é um documento sobre cicatrizes”, afirma Diógenes Moura.
A Operação Condor, segundo definição utilizada por João Pina, foi um plano secreto que uniu, em 1975, no auge da Guerra Fria, seis países latino-americanos –Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Uruguai e Paraguai–, que viviam sob regimes militares de extrema-direita. “Através da partilha de informações, recursos, técnicas de tortura e prisioneiros políticos, estes países pretendiam aniquilar a oposição política, a quem chamavam a “ameaça comunista” ou os “subversivos”, afirma.
Entre 2005 e 2014, com a máquina fotográfica numa mão e o gravador em outra, João Pina entrou provisoriamente na vida de algumas pessoas, a quem pediu que partilhassem tanto as suas memórias como os lugares onde viveram experiências terríveis. “Sabendo eu, por via familiar, dos efeitos que um longo regime ditatorial pode provocar na sociedade e nas vítimas diretas dos abusos cometidos pelos repressores, a minha curiosidade persistiu o suficiente para eu concluir que estas experiências podiam e deviam ter uma existência visual. Assim, decidi usar a fotografia, que é a minha linguagem, para observar as vítimas do Condor”, relata Pina.
No Brasil, Pina retratou e entrevistou sobreviventes da luta armada, parentes de vítimas das ditaduras e militares que participaram da repressão, acompanhou prisões e julgamentos, além de fotografar antigos centros de detenção como a antiga sede do DOI-Codi em São Paulo, que hoje abriga a 36ª DP, na Vila Mariana.
O fotógrafo viajou também a Pernambuco, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Pará, Tocantins, onde entrevistou, inclusive, personagens da guerrilha do Araguaia, como Josias Gonçalves, ex-guerrilheiro que na década de 1970 lutou contra o exército brasileiro na região do Araguaia; e Sebastião Rodrigues de Moura “Curió”, coronel do exército brasileiro responsável pela repressão e exterminação da guerrilha do Araguaia, no início dos anos de 1970. “Curió”, que foi fotografado em Brasília (DF), afirmou ter participado da Operação Condor, no âmbito das missões dos serviços secretos militares brasileiros na Argentina, no Chile, no Uruguai e no Paraguai. Apesar de ter sido denunciado pelo Ministério Público Federal em 2012, “Curió” não pode ser acusado judicialmente devido à lei de anistia que ainda existe no Brasil.
João Pina testemunhou, ainda, como alguns dos sobreviventes e familiares lidam com traumas gerados por este período, que vão desde depressões agudas a estados de paranoia e outros problemas psíquicos menos visíveis, mas que de alguma maneira transformaram a vida de várias gerações. “Ainda hoje, da selva amazônica no Brasil até as terras geladas da Patagônia, milhares de vítimas continuam enterradas em fossas não identificadas. As fotografias que serão mostradas fazem parte de um projeto que tenta prestar homenagem a todas as vítimas das ditaduras que governaram com mão de ferro esta região”, completa.
Matérias sobre este trabalho de João Pina foram publicadas recentemente em grandes veículos como CNN , os jornais The New York Times e O Globo, as revistas New Yorker, Time, Newsweek, entre outros.
Curadoria: Diógenes Moura
Abertura: 23 de setembro de 2014 (terça-feira) – 19h
Mesa-redonda com João Pina, Diógenes Moura, Maurice Politi e Priscila Arantes
Visitação: até 7 de dezembro
Horário: Terças a sextas – 10h às 19h | Sábados, domingos e feriados – 11h às 18h
Apoio: Epson e Tinta da China
Paço das Artes
Endereço: Avenida da Universidade, 1, Cidade Universitária, São Paulo/SP
Tel.: (11) 3814-4832
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