Skank lança “Os Três Primeiros” que chega acompanhado da inédita “Beijo na Guanabara”

Um dia os quatro músicos do Skank estavam em uma rádio para gravar entrevista promocional para “Eu Disse a Ela”, quarto single do álbum “Samba Poconé”, que é o terceiro de ”Os Três Primeiros”, gravação ao vivo dos discos iniciais do Skank, no Circo Voador, e que agora segue em turnê pelo país.

Na gravação para a rádio, há 20 anos, o locutor olhou para a fisionomia exaurida dos músicos e perguntou: “O que é que vocês estão fazendo aqui? Estão tocando há dois anos sem parar. Vão para casa um pouco”. E foi o que eles fizeram.

Na sequência veio “Siderado”, que não está entre “Os Três Primeiros”, mas que foi trabalho tão importante quanto aqueles que tornaram o Skank a maior banda de pop rock do país à ocasião.

Após a trinca “Skank”, “Calango” e “Samba Poconé”, “Siderado” viria a ser em analogia Beatles ao que “Rubber Soul” foi até “Revolver” (“Maquinarama”, no caso do Skank). Era o disco da entressafra, da passagem daqueles álbuns dancehall germinado no Brasil para uma sequência de canções que abriam o espectro para músicas de veia mais MPB, Clube da Esquina, Britpop e toda sorte de melodia afim.

Na fase dos três primeiros o grupo cresceu a um ponto quase inimaginável na realidade pop brasileira – tinha shows marcados em Paris ou Miami como se as cidades estivessem logo ali, depois da divisa de Minas com São Paulo. É que a fórmula quase ingênua do quarteto mineiro, de pegar doses do que a nova geração jamaicana de Shabba Ranks e Pato Banton fazia, ao fugir um pouco do acento tão tradicional do reggae, mesclar com sons brasileiros e letras maduras e inteligentes, deu certo. Deu muito certo, aliás.

Entre 1993 e 97 os próprios músicos entendem que “não dava para fazer mais sucesso” do que aquele que alcançaram. O primeiro disco, “Skank”, alcançou vendagem de ouro sem um hit arrasa-quarteirão sequer. O mais próximo disso foi “O Homem que Sabia Demais” e de certa forma “Indignação”, que foi adotada pelos caras-pintadas anti-Collor na época em que impeachment entrou no vocabulário das ruas. Desse disco, na gravação também estão “O Reu e o Rei”, “Baixada News”, “Tanto” e “Let me Try Again”, as duas últimas versões de “I Want You” (Bob Dylan) e do clássico de Paul Anka.

Na sequência o Skank virou o Flamengo de 1982/83 (aquele esquadrão em que de 11 jogadores só um não foi para a seleção brasileira). “Calango” carrega para o registro “Pacato Cidadão”, “Jackie Tequila”, “Esmola”, “É Proibido Fumar”, “A Cerca”, “O Beijo e a Reza” e “Te Ver”. Não há muito o que se comentar sobre as canções. Quer dizer, de tanto sucesso que fizeram não há nada o que se comentar sobre as canções que não caia em lugar comum.

No auge da Skankmania, gravaram “Samba Poconé”, que teve quase tantos hits quanto, mas vendeu ainda mais que “Calango” (os dois juntos passaram das 3 milhões de cópias). O restante da escalação do time gravado no Rio tem “É Uma Partida de Futebol”, “Garota Nacional”, “Tão Seu”, “Eu Disse a Ela”, “Zé Trindade”, “Sem Terra”, “Os Exilados” e “Poconé”. Além de uma inédita, “Beijo na Guanabara”, composta à época e que resgata a sonoridade skankiana do período. Antes do lançamento do novo trabalho, a banda divulgou “Algo Parecido”, como contou Samuel.

“Nós decidimos lança-la porque não queríamos seguir uma fórmula atual de soltar singles isolados ou esperar um disco de inéditas. Já que estamos lançando material novo, ao vivo, vamos incluir ‘Algo Parecido’ que simboliza tanto meu jeito de compor atualmente quanto ‘Beijo na Guanabara’, que é composição da época e que não entrou m nenhum disco”.

Dali em diante perceberam que o crescimento não era e não precisava ser em popularidade, mas artístico. Trocaram a produção certeira de Dudu Marote por John Shawn, que trabalhara com UB40. Gravaram no lendário Abbey Road. Vieram “Resposta”, “Saideira” e mais clássicos de cara. Mas sabiam que tamanha tida sido a dimensão de popularidade de uma parte do trabalho inicial que acabara fazendo sombra à outra parte, tão rica quanto. E que expor essa outra parte dentro da atual fase é fazer justiça aos artistas que se tornaram.

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